O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki converteu as prisões
temporárias do diretor executivo do Banco BTG Pactual, André Esteves, e do
chefe de Gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), Diogo Ferreira, em
preventivas. Divulgada no início da noite de ontem (29), a decisão atende a
pedido encaminhado ontem (28) pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
À
0h deste domingo, terminaria o prazo das prisões temporárias. Com a decisão do
ministro, ambos permanecerão presos por tempo indeterminado. Segundo a
Assessoria de Comunicação de Zavascki, a decisão foi baseada na análise do
material levantado e dos depoimentos prestados ao longo dos cinco dias de
prisão de Esteves e de Ferreira.
Para
o ministro, o material coletado preenche os requisitos para a conversão das
prisões e mostra que a medida é necessária para garantir a efetivação da
justiça. Responsável pela defesa de André Esteves, o advogado Antonio Carlos de
Almeida Castro, conhecido como Kakay, chegou a entrar com pedido no STF para
que a prisão não fosse prorrogada.
André
Esteves e Diogo Ferreira foram presos na última quarta-feira (25) durante a
Operação Lava Jato. Esteves está no presídio de Bangu 1, no Rio de Janeiro.
Ferreira está na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Além deles, foram presos o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o advogado
Edson Ribeiro, ex-advogado do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras
Nestor Cerveró.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) usou depoimentos da delação premiada de
Cerveró e do filho dele Bernardo Cerveró para pedir as prisões. As prisões
foram autorizadas no último dia 24 por Zavascki e executadas no dia seguinte
pela Polícia Federal.
Segundo
o documento enviado pela PGR ao Supremo Tribunal Federal, no qual faz o pedido
de prisão dos investigados, a procuradoria diz que Delcídio tentou dissuadir
Nestor Cerveró de aceitar o acordo de colaboração com o Ministério Público
Federal (MPF). Caso o acordo fosse firmado, o ex-diretor da Petrobras não
deveria mencionar o senador e André Esteves.
Em
comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que
o procurador-geral, Rodrigo Janot, tinha pedido a conversão das prisões
temporárias em preventivas por entender que a atuação para atrapalhar as
investigações da Operação Lava Jato representa "ofensa gravíssima à ordem
pública por parte dos dois investigados".
De
acordo com a nota, Janot argumentou, na petição, que Esteves tem claro
interesse em que não venham à tona colaborações premiadas que o vinculassem a
fatos criminosos apurados na Operação Lava-Jato e que os objetos
apreendidos com Diogo Ferreira demonstram a densa participação dele no esquema
para explorar o prestígio de Delcídio perante ministros do STF e embaraçar as
investigações.
Citação a Eduardo
Cunha
Mais
tarde, depois que a PGR divulgou o teor do pedido de conversão das prisões
neste domingo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, entrou em
seu perfil no Twitter para mostrar sua indignação com a divulgação de anotação
relatada pela procuradoria. “Quero desmentir com veemência o que está saindo
nos "on-lines" acerca de anotação do assessor do Delcídio. É um
verdadeiro absurdo e parece até armação aparecer uma anotação com uma pessoa
que não conheço citando coisas inexistentes”, disse.
Segundo
Cunha, a anotação faz referência a uma medida provisória cujo relator foi o
senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), da qual ele sequer participou das
discussões. “Tinha duas emendas a essa MP, que foram rejeitadas. Uma para
acabar com o exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. A outra era
exatamente o contrário do que estão me acusando. Era tirar a possibilidade do
tal benefício de que me acusam aprovar. Ou seja, uma anotação que não é
verídica. Me acusa de aprovar emenda ao contrário da emenda que apresentei e
foi rejeitada. Propus o contrário do que essa suposta anotação acusa”. Pela
página da Câmara dos Deputados na internet, é possível encontrar as emendas
relatadas por Cunha. A segunda pedia a retirada do artigo da MP que permitia o
uso de crédito presumido por instituições financeiras em casos de falência ou
liquidação extrajudicial a partir do momento em que uma outra situação fosse
decretada.
A
MP de que o presidente da Câmara fala é a 608, editada em fevereiro de 2013
pela presidenta Dilma Rousseff, para criar novas opções de capitalização dos
bancos, tais como a obtenção de crédito presumido e a possibilidade de
transformar a Letra Financeira em ações, viabilizando a aplicação das regras de
Basileia 3. Essas regras foram instituídas pelo Banco Central e acatam
recomendações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia relativas à
estrutura de capital de instituições financeiras. O objetivo das regras de
Basileia 3 é aumentar a capacidade das instituições financeiras de absorver
choques.
A
MP 608 foi transformada em projeto de lei em conversão em junho de 2013.
Cunha
nega que conheça o chefe de gabinete de Delcídio e diz suspeitar da anotação,
que teria sido encontrada na casa de Diogo. “Desminto o fato e coloco sob
suspeição essa anotação. É incrível transformar uma anotação em acusação contra
mim. E mais, citam um suposto encontro com pessoas que não conheço, assim como
não conheço esse assessor do Delcídio. Desafio a provarem qualquer emenda minha
que tenha sido aprovada nessa MP”, diz o presidente da Câmara ao citar a
possibilidade levantada de que ele teria recebido R$ 45 milhões do Banco BTG
Pactual para aprovar uma emenda à MP 608.
*Matéria
atualizada às 23h46 para incluir o posicionamento da Procuradoria-Geral da
República. Novamente atualizada às 23h55 para acréscimo de informações sobre a
citação ao presidente da Câmara dos Deputados
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