Com prazo cada
vez mais apertado e recursos escassos, parlamentares querem garantir pelo menos
R$ 4 bilhões a mais para a saúde no orçamento do próximo ano. Hoje, o setor tem
previsão de R$ 100 bilhões para 2016, mas o relator setorial, deputado João
Arruda (PMDB-PR), alerta que, com esse quantitativo, os atendimentos de média e
alta complexidade, como internações ambulatorial e hospitalar no Sistema Único
de Saúde (SUS) e o programa Farmácia Popular, deverão parar no segundo
semestre.
“O orçamento
está diminuindo. Se considerarmos a inflação, será menor que no ano passado. Se
a previsão fechar em R$ 100 bilhões, teremos uma perda de R$ 7 bilhões”,
adiantou Arruda. Segundo ele, a crise tem aumentado o número de demissões no
país, o que se refletirá em maior demanda pela saúde pública. “Quem utiliza o
convênio particular e é demitido, acaba usando o SUS. Aumentará o custo com a
saúde. Por isso, o orçamento deveria aumentar junto com a demanda”, afirmou.
Diante da
expectativa de arrecadação baixa e de cortes que ameaçam o setor, considerado
prioritário, o governo já fez ajustes à proposta original. Em uma tentativa de
evitar prejuízos para a saúde, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) conseguiu
aprovar uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), incluindo a
Emenda Constitucional 86 e aumentando a previsão inicial em mais R$ 3 bilhões.
A emenda torna
impositiva a execução das emendas individuais dos parlamentares ao Orçamento da
União e é resultado da propost conhecida como PEC do Orçamento Impositivo. Pelo
texto, o Executivo fica obrigado a executar até 1,2% da receita corrente
líquida realizada no ano anterior nas demandas parlamentares e metade do valor
tem de ser destinado à área de saúde. Em 2015, o volume foi de quase R$ 10
bilhões. O Congresso espera que a presidenta Dilma Rousseff não vete o
dispositivo.
“Com isso,
conseguimos reduzir as perdas a R$ 800 milhões”, informou o relator.
Especialistas em financiamento de saúde fixam em R$ 120 bilhões o investimento
mínimo para que a área não seja comprometida.
Diante do
cenário de crise, João Arruda preferiu manter expectativa “mais realista”.
“Acho que com mais R$ 4 bilhões a gente consegue ter o mínimo para trabalhar. O
problema é que está difícil tirar o dinheiro de outro lugar.”
A sugestão
apresentada por Arruda e acatada por outros parlamentares da CMO foi, por
exemplo, usar parte da repatriação de dinheiro que está irregularmente em
contas de outros países. A estimativa do governo é que a arrecadação com a
proposta de estímulo para regularização desses ativos será de pouco mais de R$
11 bilhões. Entretanto, o relator disse acreditar que o valor pode chegar a R$
20 bilhões.
“Aí seriam 50%
para estados e municípios e outros 50% para a saúde”, acrescentou João Arruda.
O deputado aposta que as contas serão superiores às apresentadas
“conservadoramente” pela Receita Federal. O projeto da repatriação foi aprovado
na Câmara e aguarda decisão do Senado.
Para Arruda, o
mais importante é garantir uma previsão maior de recursos. “Precisamos de
recurso carimbado. Se não arrecadar, podemos trabalhar com a DRU [Desvinculação
de Receita da União, que permite remanejamento de recursos do orçamento] no fim
do ano que vem e passer o dinheiro para a saúde.”
O pedido para
revisão dos valores acabou intensificando impasses na última reunião da CMO, no
dia 26, e adiando a votação do relatório do senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Sem
a aprovação desse relatório, o parecer final do orçamento não pode ser
concluído pelo relator-geral Ricardo Barros (PP-PR), que também resiste à
revisão do valor para saúde.
O argumento de
parlamentares contrários à proposta de Arruda é que a Receita Federal teria de
ser consultada para que o ajuste fosse feito.
“De onde eles
tiraram a previsão de R$ 11 bilhões. Acho que estão querendo não gastar
dinheiro no ano que vem. Acho que nem devemos votar o PL se não resolvermos o
problema da saúde. Não é um jogo fisiológico que estamos fazendo. Estamos
falando da saúde do país”, disse Barros. Aliado da proposta, o deputado Hildo
Rocha (MA), líder do PMDB na comissão, antecipou que a legenda pode obstruir as
próximas sessões da CMO.
O relatório
final do orçamento depende de aprovação do relatório de receita para ser
apresentado e concluído antes do recesso parlamentar, que começa a partir de 23
de dezembro. A última sessão do Congresso Nacional deste ano, quando senadores
e deputados podem concluir as propostas orçamentárias, está marcada para 17 de
dezembro. O colegiado teria que aprovar um texto até o dia 16.
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