O Brasil não
tem renda capaz de sustentar seu atual mercado de planos de saúde, que tem mais
de 50 milhões de clientes, disse a pesquisadora da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia, durante o programa Observatório da Imprensa,
exibido ontem (22) pela TV Brasil. Segundo ela, em razão disso empresas de
planos de saúde estão indo à falência enquanto os consumidores arcam com preços
cada vez maiores ter acesso aos planos.
“Somos o
segundo maior mercado de plano de saúde do mundo, mas não temos o segundo maior
PIB [Produto Interno Bruto] do mundo. A gente tem percebido um movimento que
são quase individuais, de associações e de sindicatos, de tentar sobreviver
fora do SUS [Sistema Único de Saúde]. Isso não tem dado certo. As empresas vão
à falência, não vendem planos individuais, os preços ficam cada vez mais
salgados. Os preços ficam impossíveis de ser pagos pelos orçamentos das
famílias e pelas empresas empregadoras. E aí a gente há um dilema: para onde
vamos? Vamos para o SUS ou vamos para um sistema privado que é do 'salve-se
quem puder'?”, disse.
De acordo com
o Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge),
que representa as operadoras de planos de saúde, o setor está passando por uma
crise financeira em razão de exigências da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) e por causa de má fé de alguns prestadores de serviços
públicos, que cobram dos planos por serviços desnecessários.
“Num país que
não tem água nem esgoto, não é possível, num rol de procedimentos, a agência
querer trazer tecnologias do primeiro mundo. Além disso, há desperdício em
corrupção, em má gestão, na máfia de órtese e prótese e o governo fecha os
ouvidos. Temos que discutir um novo modelo de remuneração [aos prestadores de
serviços médicos]. Aquele cara que tratar melhor meu paciente, que tirar meu
paciente mais rápido do hospital e der uma melhor qualidade de vida para o meu
paciente, eu vou pagar mais”, disse Ramos.
Para o
advogado João Tancredo, que representa pacientes que não conseguem atendimento
satisfatório dos planos de saúde, saúde não pode ser tratada como negócio,
porque, nesse caso, quem perde é o paciente.
“O interesse
do plano de saúde é que o idoso morra. O plano não tem interesse em receber
aquela mensalidade, porque gasta-se mais [com o paciente do que se recebe
dele]. É tudo um negócio. Enquanto a gente tiver tratando de saúde como um
negócio, a gente não vai chegar num bom lugar, a gente não vai ter um país
decente, com princípios de igualdade. A gente tem que melhorar a saúde como um
todo, especialmente para aquele que não pode pagar. Esse é que morre,
diuturnamente, nas filas”, disse João Tancredo.
Tanto João
Tancredo quanto Ligia Bahia acreditam que a solução para a crise no sistema de
saúde privado do Brasil é investir mais no SUS.
“Na verdade, o
sistema privado não é melhor do que o público. Por que as pessoas querem ter
plano de saúde? Porque se promete que o plano de saúde terá alta tecnologia,
que o plano de saúde vai pegar de helicóptero e que o SUS é ruim. Isso tem sido
reiterado ao longo do tempo, quando na verdade não é bem assim. No mundo
inteiro, os melhores sistemas de saúde são os públicos não são os privados”,
disse Ligia.
Segundo Lígia,
os planos de saúde priorizam pessoas jovens e saudáveis. “Quem é doente e idoso
vai ficando para trás. Esse é o problema desse processo que está ocorrendo, que
é dramático e não precisaria ocorrer se tivéssemos o sistema público de saúde
aprovado pela Constituição de 88. O debate é o SUS, mais do que nunca. Temos
que impedir que a tesoura do ajuste fiscal venha em cima do SUS. Essa é a nossa
luta nesse momento”.
O Observatório
da Imprensa, programa de debates apresentado pelo jornalista Alberto Dines, é
exibido toda quinta-feira, das 23h às 24h. A TV Brasil é transmitida
em TV aberta em seis regiões metropolitanas brasileiras: Rio de Janeiro, São
Paulo, Brasília, São Luís, Porto Alegre e Belo Horizonte.
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