Prescrição,
atrasos, incúria e engavetamento beneficiam políticos do PSDB acusados de
irregularidades, inclusive no dito mensalão tucano.
Por Redação editorial da Folha de S.Paulo
A liberdade,
como ensina o lema dos inconfidentes, será sempre desejável, mesmo que tardia.
Nem sempre se pode dizer o mesmo, contudo, da Justiça.
Uma decisão
tardia pode bem ser o equivalente da iniquidade completa, e um processo que se
arrasta sem condenados nem absolvidos só pode resultar no opróbrio de todos, inocentes
e culpados, juízes e réus, advogados e acusadores.
Há um ano, o
Supremo Tribunal Federal encaminhou à primeira instância da Justiça de Minas
Gerais o julgamento do ex-senador Eduardo Azeredo, do PSDB. Nada aconteceu
desde então.
Ex-presidente
de seu partido, Azeredo é acusado de ter abastecido sua campanha ao governo de
Minas, em 1998, com verbas desviadas de estatais, valendo-se de empréstimos
fictícios.
Não são mera
coincidência as semelhanças desse episódio com o que viria a ser revelado no
escândalo do mensalão petista, alguns anos depois. Um de seus principais
personagens, o empresário Marcos Valério, havia sido também responsável pelo
esquema tucano.
Apesar de inúmeros
adiamentos e dificuldades, o caso petista foi julgado no STF. Natural que
inspire movimentos de revolta e consternação o fato de que, embora ocorrido
alguns anos antes, seu equivalente tucano continue a repousar no regaço da
Justiça mineira.
Correndo inicialmente
no Supremo, uma vez que parlamentares como Clésio Andrade (PMDB) e o próprio
Azeredo figuravam entre os implicados, o processo teve de ser enviado à
primeira instância: os réus tinham renunciado a seus cargos no Congresso.
A decisão do
STF, remetendo o caso a Minas Gerais, foi tomada em março de 2014. O trajeto de
Brasília a Belo Horizonte consumiu cinco meses. Em 22 de agosto, o processo
chega à 9ª vara criminal. Era só proceder ao julgamento; nenhuma instrução,
nenhuma audiência, nada mais se requeria. Que o juiz examinasse os autos.
Juiz? Que
juiz? A titular da vara aposentou-se em janeiro; não se nomeou ninguém em seu
lugar.
Havia –e ainda
há– pressa: alguns réus, dentre eles Azeredo, podem beneficiar-se da
prescrição; outros envolvidos já escaparam por esse motivo.
A lentidão
mineira se soma ao caso de entravamento da Justiça ocorrido em São Paulo, para
benefício de outro político do PSDB.
Por três anos,
um desembargador retardou o exame de irregularidades na gestão do hoje deputado
estadual Barros Munhoz à frente da Prefeitura de Itapira. Veio a prescrição, e
as suspeitas sobre crimes como formação de quadrilha e omissão de informações
nem chegaram a ser julgadas.
Não se trata,
claro está, da "liberdade ainda que tardia" ostentada na bandeira de
Minas Gerais. Entre essas figuras do PSDB, "impunidade na última
hora" há de ser lema bem mais adequado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi