Demeteriya
Nabire foi morta por um crocodilo quando foi ao lago perto de sua casa buscar
água. Depois, o animal voltou para a área - mas encontrou o marido de Nabire a
sua espera, pronto para se vingar.
Demeteriya
Nabire estava à beira do lado com um grupo de mulheres de sua aldeia. Elas
estavam pegando água do lago Kyoga, em Uganda, quando o crocodilo a atacou. Ele
levou a mulher para longe e ela nunca mais foi vista.
Seu marido,
Mubarak Batambuze, ficou arrasado. Nabire estava grávida quando morreu, e ele
havia perdido não só sua mulher como seu primeiro filho. Ele se sentia
impotente. Mas, no mês passado, ficou sabendo que o crocodilo havia retornado.
"Alguém
me ligou e disse: 'Mubarak, tenho novidades. O crocodilo que levou sua mulher
está aqui. Nós estamos olhando para ele agora'."
O pescador, de
50 anos, se dirigiu ao lago com alguns amigos. "Era um animal enorme, e
nós tentamos lutar contra ele com pedras e paus. Mas não havia nada que
pudéssemos fazer", diz ele.
Então
Batambuze recorreu ao ferreiro local.
"Expliquei
a ele que eu estava lutando contra um animal que tinha levado e matado minha
mulher e meu bebê. Eu realmente queria vingança, e pedi ao ferreiro para fazer
uma lança que pudesse matar o crocodilo."
"O
ferreiro me cobrou US$ 5 e fez a lança para mim", diz ele. Era uma quantia
significativa de dinheiro para Batambuze, mas ele estava determinado a matar o
animal que havia destruído seu futuro.
"O
crocodilo engoliu minha mulher inteira. Nunca mais vimos nada dela - nem
roupas, nem alguma parte do corpo que eu pudesse identificar. Eu não sabia o
que fazer... uma mãe e seu filho na barriga. Meu mundo acabou. Eu estava
completamente perdido."
Armado com sua
nova lança - feita com uma ponta diagonal - o viúvo partiu para o ataque.
Quando voltou
ao lago, o crocodilo ainda estava lá, mas os amigos de Batambuze se assustaram.
"Por
favor, não ataque", imploraram. "Esse animal é tão grande que pode te
engolir. A lança não é suficiente - não vai dar conta."
Mas Batambuze
insistiu para que eles ficassem. "Eu falhei na primeira tentativa de
matá-lo", disse a eles. "Não estou preocupado se vou morrer matando
esse bicho. Eu vou atacá-lo com esta lança, e vou garantir que ele morra."
Medo
Segundo um
guarda da agência de Uganda responsável pela vida selvagem (Uganda Wildlife
Authority), o crocodilo tinha mais de quatro metros de comprimento e pesava
cerca de 600 kg.
"Eu estava com muito medo, mas o que me
ajudou foi a lança", diz Batambuze.
Ele amarrou
uma corda no final da arma para que, quando a lança estivesse dentro do
crocodilo, ele pudesse puxá-la de volta - com um ângulo em que a ponta na
diagonal cortasse ainda mais a carne do animal.
"Enfiei a
lança na lateral do crocodilo, e enquanto meus amigos ajudavam a jogar pedras
nas costas do animal, ele tentou abrir sua boca para me atacar."
"Ele
ficou agressivo, e aí todos ficaram com medo. Mas eu estava tão determinado e
não tinha medo de morrer. Eu só queria ele morto, então eu coloquei a lança na
lateral do corpo dele e puxei a corda. E o crocodilo começou a ter
problemas."
Estava tão
determinado, e eu não tinha medo de morrer. Eu só queria ele morto.
Durante uma
hora e meia, Batambuze e seus amigos lutaram e recuaram, alternando ataques com
o animal enfurecido. Até que o crocodilo finalmente morreu.
Exaustos, eles
voltaram para seu vilarejo. "Estávamos em choque. O que realmente
surpreendeu a todos foi o tamanho do bicho. Não era um crocodilo comum. Era tão
grande. E as pessoas chamaram a mim e a meus amigos de heróis", diz ele.
O animal morto
foi levado para a Universidade Makarere, em Kampala, onde foi examinado por um
veterinário, Wilfred Emneku.
Ele diz que
uma tíbia foi encontrada dentro do estômago do crocodilo. Ele acredita que seja
de um humano, mas não tem certeza.
Um
especialista em crocodilos da Charles Darwin University, na Austrália, Adam
Britton, diz que ficaria muito surpreso se os restos encontrados no estômago do
animal fossem os de Demeteriya Nabire.
"Depois
de 12 semanas, em condições normais, seria altamente improvável que ossos de
uma refeição permanecessem no estômago", diz ele.
Por isso, é
pouco provável que Batambuze possa enterrar sua mulher e ter um túmulo onde
chorar.
"Estou
muito deprimido porque perdi minha mulher e uma criança na barriga",
explica ele.
"Mas os
moradores continuam dizendo: 'Obrigado por matar o animal. Nós pegamos água ali
e temos certeza que teria levado mais alguém. Muito obrigado, você fez um ótimo
trabalho."
"Eu sou
um herói local. As pessoas continuam a me agradecer."
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Dag Vulpi