Mesmo após o
uso de um rojão causar a morte do cinegrafista Santiago Andrade em um protesto
no Rio, os adeptos da tática black bloc, em São Paulo, prometem radicalizar
durante as manifestações contra a Copa do Mundo e não descartam nem mesmo
ataques contra delegações de times estrangeiros.
"Nossa
tática nunca foi ferir civis, mas, se não formos ouvidos, a gente vai dar susto
em gringo. Não queremos machucar, mas se for preciso 'tacar' (coquetel) molotov
em ônibus de delegação ou em hotel em que as seleções vão ficar, a gente vai
fazer", disse, em entrevista ao Estado, o estudante Pedro (nome
fictício), adepto da tática em São Paulo.
Segundo ele,
as ações são discutidas pelos black blocs, que estão organizados no que chamam
de células - pequenos grupos de até 30 pessoas que participam dos protestos
juntos. "A gente evita falar pelo Facebook. Essas estratégias combinamos
pessoalmente ou pelo Whatsapp. Para te dar essa entrevista, eu tive de
consultar os outros adeptos", contou.
Em São Paulo,
são pelo menos dez células. "No total, devem ser uns 300 participantes que
são realmente ativos, mas, na Copa, tenho certeza de que o número será maior.
Acho que vão ser mais de mil", afirma.
De acordo com
o manifestante, o objetivo é mostrar para os estrangeiros que o País não tem
segurança e fazê-los desistir de ficar no Brasil. "Se uma seleção sentir
que há risco de vida, eles vão querer continuar aqui? Não somos contra a Copa
do Mundo nem contra o futebol. A nossa luta é por uma educação e uma saúde
melhores", afirmou o jovem, morador de Itaquera, na zona leste.
Ele disse que
a morte do cinegrafista da Band foi uma fatalidade e que os responsáveis pela
ação não são black blocs.
Pedro revelou
ainda que, embora os adeptos da tática não tenham reuniões periódicas nem uma
liderança, eles estão se preparando juntos para os protestos contra a Copa, até
mesmo com treinamento físico. "Todo mundo deve se preparar porque a
Polícia Militar vai vir em peso. A gente está se preparando com treinos de
artes marciais como Krav Magá, Jiu-jítsu e Muay Thai", disse.
O próximo
grande ato contra a Copa está programado para o sábado, dia 22, em várias
cidades do País. Pelo Facebook, mais de 10 mil pessoas já confirmaram presença
na manifestação da capital paulista.
Diversidade. Ao
contrário das manifestações de junho, que tiveram como principal articulador o
Movimento Passe Livre (MPL), os protestos contra a Copa não têm um único
organizador e reúnem os mais diversos movimentos sociais, desde militantes da
área da saúde até os chamados hackerativistas, como os integrantes do
Anonymous. Esses grupos formaram o coletivo Se Não Tiver Direitos Não Vai Ter
Copa.
Para I.G.,
integrante do movimento Contra Copa 2014 que divulga os atos nas redes sociais,
os atuais protestos agrupam muitos manifestantes de junho que se sentiram
"abandonados" após o MPL conseguir a redução da tarifa de ônibus em
várias cidades do País.
"Me senti
órfão do MPL porque eles abandonaram as ruas. Foi assim que outros protestos
horizontais foram aparecendo e começou a se criar grupos de afinidade. Os
protestos agora são horizontais, populares e sem interferência de partidos e
sindicatos", disse.
Os
manifestantes contra a Copa prometem atuar em várias frentes, até mesmo fora
das ruas. "O que posso dizer é que vamos apoiar os protestos de rua com
ações virtuais que ainda não podem ser ditas", afirmou um integrante do
Anonymous. A invasão de páginas oficiais está prevista.
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