Ele foi
conferido pelo Diário do Centro do Mundo, em razão do artigo publicado pela
ex-senadora na última sexta-feira, que utilizou expressões como
"heteroestima"; segundo o jornalista Kiko Nogueira, Marina tentou dar
aparência de solidez a vento puro
A ex-senadora
Marina Silva acaba de ganhar um prêmio: o "Conversa para Boi Dormir".
O motivo é seu mais recente artigo na Folha de S. Paulo, em que ela emprega
expressões como "heteroestima".
No artigo A “heteroestima” de Marina Silva e o Prêmio
Conversa Para Boi Dormir, o jornalista Kiko Nogueira justifica a
escolha. O primeiro vencedor é relativamente batata. Marina Silva. Pelo
conjunto da obra e, especialmente, por seu último artigo na Folha. É um texto
que cabe na definição de George Orwell num ensaio: feito para dar “aparência de
solidez a vento puro”.
Leia abaixo
a íntegra, do artigo publicado no DCM.
Por Kiko Nogueira*
O Prêmio
Doublespeak foi
inventado em 1974 pelo Conselho Nacional de Professores de Inglês dos Estados Unidos. Como a entidade
define, trata-se de uma “homenagem irônica a oradores públicos que perpetuaram
uma linguagem grosseiramente enganosa, evasiva, eufemística, confusa ou
autocentrada”.
Nesses 40
anos, a lista de premiados incluiu Bushs pai e filho, Bill Clinton, o
Departamento de Estado americano, Ronald Reagan, a indústria do tabaco, a Exxon
e a Associação Nacional do Rifle. A CIA foi agraciada com a honraria por
anunciar que não iria mais usar o termo “matar” em seus relatórios. Em seu
lugar, entraria a expressão “privação ilegal ou arbitrária da vida”. Em 2013,
quem ganhou foi o prefeito de Chicago, Rahm Emanuel.
É preciso
criar algo parecido aqui. O Prêmio CPBD, Conversa Para Boi Dormir. O primeiro
vencedor é relativamente batata. Marina Silva. Pelo conjunto da obra e,
especialmente, por seu último artigo na Folha. É um texto que cabe na definição
de George Orwell num ensaio: feito para dar “aparência de solidez a vento
puro”.
Vamos a alguns
trechos da coluna que mereceu o Prêmio CPBD:
Em meio aos
abraços amigos e desejos de feliz Ano-Novo, costumamos reconhecer a sinceridade
dos desejos para além das palavras, pois estas são, muitas vezes, gastas e
repetidas. As palavras necessitam de gestos que recuperem e sustentem seu
sentido.
Releio Hannah
Arendt, para melhor refletir sobre a possibilidade de restaurar a capacidade
humana de lidar com as desconfianças e incertezas causadas pela ameaça do
imprevisível, por meio do milagre da “promessa”. Na dimensão política da crise
civilizatória que vivemos, a crise de confiança é o centro do problema.
Ainda é
possível refazer a confiança, dentro de um espaço de heteroestima política,
social, cultural, como indivíduos e como povo? Temos motivo para descrer, num
mundo fragmentado em que as relações se liquefazem e escorrem, sem
estabilidade. Mesmo as novas formas de relacionamento e comunicação que
inventamos, muitas vezes parecem ser uma desesperada tentativa de agarrarmo-nos
uns aos outros, multiplicando conexões frágeis e superficiais na ausência de
laços de confiança efetivos e afetivos.
É um clássico
da “linguagem evasiva e autocentrada”. No meio do blablablá, surge uma palavra
chave: heteroestima. Não está no dicionário. Consta que é o oposto de
autoestima, segundo Fátima Bernardes e Ana Maria Braga.
Podemos, sim,
superar a fragmentação do mundo em crise compondo novas sínteses baseadas em
novas harmonias. Se já não confiamos naqueles que prometeram tudo, eis aí o
sinal para que nossa nova promessa seja um acordo, simples e claro, naquilo que
é essencial. A confiança vem do que é sustentável.
Esse último
parágrafo foi colocado no Google Tradutor, mas o aplicativo não reconheceu o
idioma. É possível que Marina fale a língua dos seus eleitores. Mas, ainda
assim, é duvidoso que eles entendam tudo. Hannah Arendt, que ela afirma ter
relido, disse o seguinte: “O problema de mentir e enganar é que sua eficiência
depende inteiramente de uma noção clara da verdade que o mentiroso e enganador
deseja esconder”.
*Kiko Nogueira - Diretor-adjunto
do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor
de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação
da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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