Por José
Carlos Peliano – no site da Carta Maior
No primeiro
dia deste ano, o jornal The New York Times publicou texto de Paul Krugman dando
conta do aumento da desigualdade de renda nos EUA de 2000 a 2012. Neste período
os 90% dos indivíduos dos estratos inferiores da população americana passaram a
deter de 54,7% a 50,4% da renda total, atingindo uma perda de cerca de 8% em 12
anos.
Interessante
observar que, ao contrário deste cenário regressivo da maior potência ainda
hegemônica do planeta, o Brasil no mesmo período apresentou uma redução
significativa da desigualdade de renda, exatamente pela melhoria dos
rendimentos dos mais pobres – não só pelo aumento relativo das rendas da
maioria dos indivíduos pertencentes aos grupos que recebem até 2 salários mínimos,
mas também e principalmente pela incorporação de mais de 5 milhões de famílias
no mercado através do Programa Bolsa Família.
A consequente
ampliação exuberante da demanda proporcionada pela melhoria de renda e inclusão
de novos consumidores, um dos pilares da nova política econômica posta em
prática nas administrações de Lula e Dilma, não é de maneira alguma reconhecida
pela grande mídia sequer mencionada pelos economistas da oposição. De fato,
essa modificação marcante do perfil da distribuição de renda continuará
trazendo benefícios ponderáveis à economia brasileira pelo fortalecimento
continuado do mercado interno, a garantia de renda em salários e demais
rendimentos e um círculo virtuoso de consumo e produção, o que certamente dará
condições para maiores estímulos aos investimentos.
Assim, o primo
pobre do sul começa a mostrar ao primo rico do norte que há um caminho
alternativo de política econômica que beneficia a economia como um todo a
partir do reconhecimento do papel importante desempenhado pelos estratos mais
pobres. Simples assim: o impulso sustentado do investimento não precisa sempre
e necessariamente vir do consumo, poupança e aplicações dos mais ricos, podendo
em momentos de crises, períodos de estagnação ou mesmo de períodos normais vir
de ações que estimulem principalmente o consumo dos mais pobres, ainda que
sobre espaço para suas pequenas poupanças e aplicações.
Resultado em
números da opção da política econômica brasileira na última década em contraste
com a dos EUA é que, aqui, a desigualdade cai e a produção industrial sobe
(25%), enquanto lá a desigualdade sobe e a capacidade de produção industrial
recua 6%. Decisões diferentes, resultados distintos.
Os argumentos
de Krugman podem ser resumidos a dois centrais. Primeiro, a queda de 8% na
renda dos 90% mais pobres americanos de 2000 a 2012 juntou-se à queda da
capacidade de produção da economia em até 6%; o aumento da desigualdade fez
mais que a recessão para deprimir as rendas da classe média. Segundo, havia uma
bolha de poupança dos mais ricos de 1% amparada por uma bolha de crédito ao
consumo dos mais pobres. A crise derrubou a produção, o consumo e a poupança
deixando os pobres com as dívidas do crédito e o desemprego.
A mesma crise
que assolou os EUA e o mundo também passou por aqui. Só que o crédito aqui,
mesmo alimentado pela poupança dos mais ricos, foi direcionado para sustentar e
garantir a produção industrial interna, enquanto lá boa parte do crédito ao
consumo não ficou no circuito de financiamento industrial do país já que foi
direcionado aos compromissos das relações produtivas e comerciais internas com
o mercado externo.
A exposição
americana ao mercado externo é bem superior a do Brasil. A sustentação do
mercado interno brasileiro incentivada pela política econômica contempla todo o
setor industrial, mas também os pequenos negócios com ações e instrumentos
específicos de crédito, financiamento e garantias de participações em programas
e projetos. Um conjunto de medidas desse tipo cria liames sólidos com o restante
do complexo industrial. O que proporciona abertura de novas oportunidades, mais
trabalhos e empregos, além de salários e rendimentos.
Se os EUA não
praticarem uma política econômica voltada também para atender e incluir os mais
pobres, a desigualdade tenderá a subir e a produção industrial poderá estagnar,
se não alçar voo de galinha, para ficar somente nos termos e argumentos de
Krugman. Enfim, o capitalismo continuará o mesmo, tanto lá como aqui, porém
menos seletivo, discriminatório e injusto. A maior participação da população no
mercado de trabalho, no entanto, pode aproximar os interesses dos cidadãos com
os dos consumidores e investidores e daí trazer para a pauta dos direitos e
deveres individuais a discussão e a redefinição dos rumos da sociedade e do bem
estar social.
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