Governador do
RJ afirmou à Isto É que pretende deixar o caminho livre para o seu vice ter
visibilidade
Em
entrevista à revista Isto É (confira na íntegra abaixo), o governador
do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB),
anunciou que pretende renunciar ao cargo no começo de 2014. Ele disse que a
saída do governo fluminense deve ocorrer entre janeiro e abril.
Cabral
é, dos governantes brasileiros, um dos que mais enfrentou críticas na onda
de protestos populares que
se intensificou no país a partir de junho. Mas, segundo ele, o motivo da
renúncia é a preparação do vice-governador para a eleição.
—
É a primeira vez que falo isso: estou seriamente inclinado a permitir que a
população conheça o meu vice Pezão com tempo suficiente para conviver com ele
como governador — disse o peemedebista à Isto É.
Questionado
sobre o seu futuro político, Cabral afirmou que pretende atuar como militante
do PMDB e trabalhar em prol da parceria do seu partido com o PT.
"Deixo
o governo entre janeiro e abril de 2014"
O governador diz que passará o comando do Estado
para o vice, afirma que o vandalismo tomou conta das manifestações e assegura
que as UPPs nunca estiveram tão fortes
por
Eliane Lobato
PMDB NA CABEÇA
O governador do Rio, Sérgio Cabral, diz que não aceita palanque duplo no
Rio, a não ser que Lindbergh Farias (PT) concorde em ser vice de Pezão
Um dia depois de ter visto o Palácio Guanabara,
sede do governo estadual do Rio de Janeiro, cercado por manifestantes que
tentavam ocupar o local, o governador Sérgio Cabral (PMDB) recebeu a reportagem
de ISTOÉ. Dizendo-se “muito preocupado” com o vandalismo que tomou conta dos
protestos, Cabral enxerga por trás dos sucessivos atos contra ele segmentos
políticos interessados em minar a aliança celebrada entre o governo do Estado,
a presidenta Dilma Rousseff (PT) e o prefeito carioca, Eduardo Paes (PMDB).
Para brigar pelo triunfo dessa parceria (PMDB-PT), Cabral revela que deixará o
governo entre janeiro e abril de 2014. Com isso, o vice-governador Luiz
Fernando de Souza, o Pezão, candidato à sua sucessão, assumirá o governo. “É
importante que Pezão tenha tempo de conhecer e conquistar o eleitor fluminense.
Acho que essa aliança fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar por ela no plano
estadual e federal”, disse o governador. Com 51 anos completados em janeiro,
Cabral afirmou que, ao deixar o Palácio Guanabara, passará a ser apenas um
militante. De Pezão e de Dilma.
"A dupla é essa: Pezão, o pai do PAC, e Dilma, a mãe do PAC. O Lula disse isso uma vez na Rocinha, e está dito" |
"Estou preocupado com o acuamento das instituições.
Coquetel molotov e rojões não fazem parte da democracia"
Fotos: Masao Goto Filho /ag. Isto É; ©REUTERS/B Mathur; Domingos Peixoto / agência o Globo
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ISTOÉ - O sr. disse que poderia haver adversários políticos por trás das manifestações. Tem alguma prova?
SÉRGIO
CABRAL - Na verdade, eu quis
dizer que houve manifestações em todo o Brasil de jovens desejosos de
participar, intervir no processo político, exercer cidadania de maneira muito
saudável. Após esse momento, em diversas cidades do País, começaram as ações de
menor dimensão vocacionadas por grupos que não são ligados a partidos, mas que
têm premissas de combate ao poder público e de constrangimento à mídia. São
grupos que têm o princípio de coação ao regime democrático, no meu entender. E
há outros grupos que são ligados a partidos e lideranças políticas desejosos de
antecipar o processo eleitoral. Esse é o processo atual que nada tem a ver com
aquele momento, que começou em junho, em que todo o Brasil se manifestou.
ISTOÉ - O
que diferencia os dois protestos, os de junho e os de agora?
SÉRGIO
CABRAL - O tipo de
manifestação atual me impressiona muito. Estou muito preocupado como
brasileiro, não é nem como governador, com esse processo de acuamento das
instituições com instrumentos que não devem fazer parte do processo
democrático, como coquetel molotov, rojões, pedras. Isso eu nunca vi em
manifestação. Nunca vi mascarado chegando, como chegaram na segunda-feira 12,
no Palácio Guanabara, soltando rojões, jogando coquetel molotov nos policiais.
Muitos vândalos quebrando agências bancárias. Isso não é ambiente para País
democrático.
ISTOÉ - Acha
que a aliança com a presidenta Dilma Rousseff pode ser afetada?
SÉRGIO
CABRAL - Há, sem dúvida, no
jogo político, forças políticas incomodadas com essa aliança que tem tido muito
êxito nas políticas públicas e, como consequência, obtido vitórias eleitorais.
Isso há. Em 2006 ganhamos o governo do Estado. Em 2008, nosso candidato a
prefeito ganhou na capital (Eduardo Paes-PMDB). Em 2010 eu me reelegi no
primeiro turno com 67% dos votos e, em 2012, o prefeito Paes se reelegeu com
65% dos votos, entre outras vitórias. Há setores e segmentos incomodados com as
alianças. E, às vezes, até mesmo dentro dos nossos partidos há quem não esteja
trabalhando como deveria para que essa aliança permaneça. Isso faz parte do
jogo político. A gente tem que ter a sensibilidade para perceber isso.
ISTOÉ - É
o momento mais difícil pelo qual o sr. passou?
SÉRGIO
CABRAL - Já tive outros
difíceis nesses quase 7 anos de governo. Houve um momento terrível em 2008
quando, em seu último ano como prefeito, Cesar Maia (DEM) lavou as mãos com o
assunto da dengue e eu comecei a ver as pessoas morrendo. Falei: não vou ficar
aqui discutindo se o mosquito é municipal, federal ou estadual. Fui para as
ruas com a equipe de saúde assumindo tarefas que, teoricamente, seriam da
prefeitura. Fizemos tendas de hidratação e comprei briga com médicos. Aquilo me
expôs muito e os meus índices foram lá para baixo. Agora, não sou só eu, o
Brasil todo viveu imagens conflitantes; a imagem institucional é que foi
questionada.
ISTOÉ - O
sr. fica até o fim do mandato?
SÉRGIO
CABRAL - É a primeira vez que
falo isso: estou seriamente inclinado a permitir que a população conheça o meu
vice Pezão com tempo suficiente para conviver com ele como governador. Então,
da mesma maneira que vários governadores deixaram o cargo para o vice disputar
a eleição, eu estou pensando em fazer o mesmo. O Pezão é homem público de uma
seriedade, eficiência, simplicidade e capacidade extraordinária. É um sujeito
que veio do chão da fábrica, foi vereador e prefeito. Ele é o nome para dar
continuidade à obra política. É a maior segurança que este Estado tem para
continuar no caminho certo.
ISTOÉ - Quando
o sr. pretende sair do governo, então?
SÉRGIO
CABRAL - O prazo máximo é
abril, porque as convenções são em junho, e não quero ficar muito perto do
processo eleitoral. Quero que ele tenha tempo de amadurecer a relação dele com
a população. Mas pode ser antes, pode ser em janeiro, estou estudando. Deixo o
governo entre janeiro e abril de 2014.
ISTOÉ - E
o seu futuro?
SÉRGIO
CABRAL - Olha, vou responder
com um trecho da música do Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar. Vou me tornar
um militante e lutar pela aliança entre o PT e o PMDB. Acho que essa aliança
fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar por ela no plano estadual e federal. Fora
do governo fico mais liberado, mais à vontade para trabalhar essa aliança, que
acho muito importante. Ela viabilizou conquistas para o Estado e para o Brasil.
Acho que é meu dever conseguir amalgamar os três níveis de poder. Não significa
que eu, Eduardo (Paes) e Dilma não tenhamos divergências, temos sim, mas temos
uma agenda em comum e qualquer coisa que comprometa esse rumo é ruim.
ISTOÉ - O
sr. continua sendo contra a possibilidade de Dilma ter dois palanques no Rio de
Janeiro?
SÉRGIO
CABRAL - Eu sou muito claro em
relação a esse tema. Temos uma história de quase sete anos de parcerias,
conquistas, solidariedade mútua. Isso não pode ser interrompido.
ISTOÉ - Uma
aliança entre os dois candidatos Lindbergh Farias e Pezão é viável?
SÉRGIO
CABRAL - Estamos de braços
abertos para o PT continuar conosco nesse processo de aliança. Mas acho que
temos a legitimidade, o direito de lançar o candidato a governador. Numa
aliança é preciso olhar o todo, o processo geral. De coração aberto, quero
discutir com os companheiros a manutenção dessa aliança.
ISTOÉ - A
presidenta Dilma tem manifestado apoio?
SÉRGIO
CABRAL -Muito. A presidenta é nossa companheira. Não só
ela, mas também seus ministros. Hoje falei longamente com a ministra Miriam
Belchior sobre a Linha 3 do metrô que estamos na eminência de conquistar os
recursos. Porque é uma obra importante que liga Niterói/São Gonçalo e Itaboraí.
Minha relação com os ministros do governo é muito respeitosa, carinhosa. E a
presidenta é uma amiga. Ela sempre disse: “Serginho, você não é meu
companheiro, é amigo”. E ela tem razão. Trocamos confidências. Ela me dá boas
dicas de filmes e livros. E temos uma coisa em comum: somos liderados por Luiz
Inácio Lula da Silva. A dupla é essa: Pezão, o pai do PAC, e Dilma, a mãe do PAC.
O Lula disse isso uma vez na Rocinha, e está dito. É isso. Será que essa
construção de aliança, essa solidariedade recíproca, merece ter dois palanques
no Rio?
ISTOÉ - Muda
algo nas UPPs?
SÉRGIO
CABRAL - Nunca esteve tão
forte como está hoje. A gente tem que lembrar que antes das UPPs sumiam pessoas
semanalmente na Rocinha. Quando essas comunidades eram controladas pelo poder
paralelo, tráfico e milícia, o micro-ondas queimava pessoas. O Tim Lopes foi
vítima disso. Claro, há interesses na desmoralização das UPPs por parte de
marginais que querem enfraquecê-las. Sobre a resolução 013 da segurança, que
põe na mão do comandante da UPP a decisão se pode ter bailes funks ou não, acho
que está errado. Vou ligar para o Beltrame (o secretário de Segurança Pública do
Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame) porque está errado. Na época
que fizemos isso era outra fase. Hoje não precisa mais. Não é mais a Secretaria
de Segurança, vai voltar a ser a prefeitura. A primeira UPP vai completar cinco
anos em dezembro. A da Rocinha, dois anos em dezembro. A do Alemão, três anos
em novembro. Depois de 40 anos de controle paralelo, barra pesadíssima. A
resolução 013 é a segurança regulamentando eventos. Vamos devolver à prefeitura
a responsabilidade de organização de eventos, além de outros órgãos legais,
como bombeiros.
ISTOÉ - E
o caso Amarildo, como fica?
SÉRGIO
CABRAL - Está nas mãos da
Delegacia de Homicídios. Confio no delegado Vivaldo Barbosa. É um caso que
ninguém mais do que eu e o Beltrame queremos que seja elucidado, e tenho
certeza que será. Tem uma linha de investigação que aponta para
responsabilidade de PMS e outra linha que aponta para o tráfico. Como qualquer
outra investigação, está sendo apurada. Importante é que ninguém vai passar a
mão na cabeça de ninguém, não tem proteção a ninguém.
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