quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MPF instaura inquérito para investigar denúncias de espionagem da Vale

Para Ricardo Ribeiro, advogado do ex-gerente, esta é a primeira prova material da existência de indícios de provas

Por Manaira Medeiros, no Seculo Diario
O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) vislumbrou indícios nas denúncias feitas pelo ex-gerente de Inteligência da Vale, André Almeida, e instaurou inquérito de investigação no caso que trata de crime federal. Já outras denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público da capital fluminense (MP-RJ). Almeida foi intimado a prestar depoimento na Procuradoria da República e garantiu que tem novos documentos que comprovam os fatos revelados em abril deste ano. Os processos correm em sigilo, para não atrapalhar as investigações.
Para o advogado e porta-voz do ex-gerente, Ricardo Ribeiro, essas ações são a primeira prova material de que as denúncias têm fundo de verdade. “O MPF e o MP-RJ não abrem investigação se não houver indícios de provas”, pontuou. 

Ribeiro acredita também que o andamento no caso reforça os pontos levantados por ele para derrubar a acusação da Vale. A empresa apresentou queixa-crime contra Ribeiro, com a justificativa de que o advogado prestou informações que depõem contra sua imagem na imprensa local. A medida foi interpretada por Ribeiro como uma tentativa de intimar, ameaçar e retirar sua liberdade profissional. Na próxima segunda-feira (19), Ribeiro terá que comparecer à Delegacia da Praia do Canto, em Vitória, para prestar esclarecimentos. 

O advogado atua como representante legal de Almeida em três processos trabalhistas, que totalizam valores da ordem de R$ 6 milhões, além de atuar nas denúncias de espionagem realizadas contra Vale no MPF-RJ. Entre as denúncias do ex-gerente estão grampos telefônicos a jornalistas, funcionários e movimentos sociais; infiltração de agentes em partidos políticos, e invasão de computadores. 

O ex-gerente já apresentou mais de 1.300 páginas de documentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro, detalhando as atividades da chamada Diretoria de Segurança da empresa, fundada em 2007. Em junho último, Almeida protocolou mais 275 folhas de documentos, além de imagens e vídeos, separados por tópicos: movimentos sociais, informações pessoais, pó preto, Gusa Nordeste, varredura, suicídio nas ferrovias, INSS, inteligência, pagamentos e reportagens publicadas na revista Veja

Auditoria

Embora na época do escândalo, relevado inicialmente pela coluna Radar, da Veja, o diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o presidente do Conselho de Administração, Dan Conrado, tenham anunciado a realização de uma auditoria sobre as denúncias, quatro meses depois, esta ainda não começou. 

Na ocasião, em nota publicada pela Vale, eles garantiram que os trabalhos seriam conduzidos com “absoluta isenção”, já que nenhum dos dois ocupava qualquer cargo na empresa. Também negaram todas as denúncias. 

Segundo o ex-gerente de Inteligência, a auditoria não saiu nem vai sair do papel. “O auditor-geral em parte do período de Roger Agnelli foi o Júlio Monteiro, quem assinou o primeiro contrato com as empresas de arapongagem, em especial a NetWork”, afirmou. Júlio ainda está na diretoria de Segurança Empresarial, junto com Adilson Medina, “que influenciava tanto a Auditoria Interna (Audit) quanto a Segurança Empresarial (Disi)”. 

Almeida conta que, a pedido de Júlio, ocorreu a fusão já na gestão de Murilo Ferreira das áreas de Segurança Empresarial e Saúde e Segurança do Trabalho, comandada por Ricardo Gruba, que tem como um de seus gerentes Gilberto Ramalho. 

“Júlio usou sua influência junto a Medina para que fosse feita a proposta de manutenção de Gruba, mesmo sem ele ter qualquer tipo de formação ou conhecimento técnico na área. Também lutou para manter toda a equipe de gerentes gerais (...) Dessa forma, Júlio e Medina, amigos pessoais de Gilberto Ramalho, conseguiram sua promoção a diretor de Segurança Empresarial e a manutenção do esquema do tráfico de influência, utilizando inclusive os serviços de arapongagem. Com Gilberto como diretor, os ganhos e benefícios de Júlio estavam garantidos”. 

O ex-gerente ressalta ainda que Júlio, Medina e Ramalho, “para mostrar poder aos outros empregados, chegaram ao cúmulo de se mudar para o último andar do Centro Corporativo, acima do gabinete de Murilo Ferreira. Medina vai auditar Júlio e Gilberto. É isso que Murilo Ferreira quer que a mídia acredite”. 

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