Para Ricardo Ribeiro, advogado do ex-gerente, esta é a
primeira prova material da existência de indícios de provas
O Ministério
Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) vislumbrou indícios nas denúncias
feitas pelo ex-gerente de Inteligência da Vale, André Almeida, e instaurou
inquérito de investigação no caso que trata de crime federal. Já outras
denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público da capital fluminense
(MP-RJ). Almeida foi intimado a prestar depoimento na Procuradoria da República
e garantiu que tem novos documentos que comprovam os fatos revelados em abril
deste ano. Os processos correm em sigilo, para não atrapalhar as investigações.
Para o advogado e
porta-voz do ex-gerente, Ricardo Ribeiro, essas ações são a primeira prova
material de que as denúncias têm fundo de verdade. “O MPF e o MP-RJ não abrem
investigação se não houver indícios de provas”, pontuou.
Ribeiro acredita
também que o andamento no caso reforça os pontos levantados por ele para
derrubar a acusação da Vale. A empresa apresentou queixa-crime contra Ribeiro,
com a justificativa de que o advogado prestou informações que depõem contra sua
imagem na imprensa local. A medida foi interpretada por Ribeiro como uma
tentativa de intimar, ameaçar e retirar sua liberdade profissional. Na próxima
segunda-feira (19), Ribeiro terá que comparecer à Delegacia da Praia do Canto,
em Vitória, para prestar esclarecimentos.
O advogado atua como
representante legal de Almeida em três processos trabalhistas, que totalizam
valores da ordem de R$ 6 milhões, além de atuar nas denúncias de espionagem
realizadas contra Vale no MPF-RJ. Entre as denúncias do ex-gerente estão
grampos telefônicos a jornalistas, funcionários e movimentos sociais;
infiltração de agentes em partidos políticos, e invasão de computadores.
O ex-gerente já
apresentou mais de 1.300 páginas de documentos ao Ministério Público do Rio de
Janeiro, detalhando as atividades da chamada Diretoria de Segurança da empresa,
fundada em 2007. Em junho último, Almeida protocolou mais 275 folhas de
documentos, além de imagens e vídeos, separados por tópicos: movimentos
sociais, informações pessoais, pó preto, Gusa Nordeste, varredura, suicídio nas
ferrovias, INSS, inteligência, pagamentos e reportagens publicadas na revista Veja.
Auditoria
Embora na época do
escândalo, relevado inicialmente pela coluna Radar, da Veja,
o diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o presidente do Conselho de
Administração, Dan Conrado, tenham anunciado a realização de uma auditoria
sobre as denúncias, quatro meses depois, esta ainda não começou.
Na ocasião, em nota
publicada pela Vale, eles garantiram que os trabalhos seriam conduzidos com
“absoluta isenção”, já que nenhum dos dois ocupava qualquer cargo na empresa.
Também negaram todas as denúncias.
Segundo o ex-gerente
de Inteligência, a auditoria não saiu nem vai sair do papel. “O auditor-geral
em parte do período de Roger Agnelli foi o Júlio Monteiro, quem assinou o
primeiro contrato com as empresas de arapongagem, em especial a NetWork”,
afirmou. Júlio ainda está na diretoria de Segurança Empresarial, junto com
Adilson Medina, “que influenciava tanto a Auditoria Interna (Audit) quanto a
Segurança Empresarial (Disi)”.
Almeida conta que, a
pedido de Júlio, ocorreu a fusão já na gestão de Murilo Ferreira das áreas de
Segurança Empresarial e Saúde e Segurança do Trabalho, comandada por Ricardo
Gruba, que tem como um de seus gerentes Gilberto Ramalho.
“Júlio usou sua
influência junto a Medina para que fosse feita a proposta de manutenção de
Gruba, mesmo sem ele ter qualquer tipo de formação ou conhecimento técnico na
área. Também lutou para manter toda a equipe de gerentes gerais (...) Dessa
forma, Júlio e Medina, amigos pessoais de Gilberto Ramalho, conseguiram sua
promoção a diretor de Segurança Empresarial e a manutenção do esquema do
tráfico de influência, utilizando inclusive os serviços de arapongagem. Com
Gilberto como diretor, os ganhos e benefícios de Júlio estavam
garantidos”.
O ex-gerente ressalta
ainda que Júlio, Medina e Ramalho, “para mostrar poder aos outros empregados,
chegaram ao cúmulo de se mudar para o último andar do Centro Corporativo, acima
do gabinete de Murilo Ferreira. Medina vai auditar Júlio e Gilberto. É isso que
Murilo Ferreira quer que a mídia acredite”.
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