Jornal GGN - O novo capítulo das denúncias de formação de cartel para obras de construção e ampliação do metrô e dos trens de São Paulo, envolvendo os principais nomes do PSDB, resgata a conhecida “conexão Serra-Arruda”, que ganhou repercussão em entre 2008 e 2009.
E-mails de ex-executivos da Siemens, em poder do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), sugerem que o ex-governador de São Paulo, José Serra, e José Roberto Arruda – cassado do Governo do Distrito Federal (GDF) em 2010 pelo “mensalão do DEM” – tinham conhecimento do esquema das empresas no setor metroferroviário.
A proximidade entre Serra e Arruda ia além dos planos de candidatura tucana ao Planalto, em 2010, que tinha o ex-político do DEM cotado como vice de Serra. Em 2009, Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, prestou depoimento à Polícia Federal em que revelou que, em 2008, a empresa de informática CTIS Tecnologia S/A mandou via Sedex o valor de R$ 65 mil em dinheiro à secretaria, explicando que R$ 25,3 mil deveriam ir para as mãos de Arruda. Os pagamentos, de acordo com o ex-secretário, eram referentes a pagamentos de propinas para manter contratos com o GDF.
A mesma empresa também recebeu dinheiro do governo de São Paulo, na época administrado por José Serra. A empresa era responsável pelo Consórcio Educat, que venceu edital para alugar 100 mil microcomputadores ao governo. O contrato firmado entre a empresa, no valor de R$ 400 milhões, e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) previa a locação de computadores ao custo de R$ 4 mil por unidade para uso no projeto “Computador na Escola”.
A CTIS faturou R$ 457 milhões em 2008 e mais R$ 609 milhões em 2009. A maior parte desses recursos (80%) vinham dos cofres públicos do governo de São Paulo. A empresa também mantinha contratos com a Secretaria de Fazenda do governo do Distrito Federal e com a Terracap (Companhia Imobiliária de Brasília).
Gontijo e Paulo Preto
Outro nome em comum entre Serra e Arruda é o do empreiteiro José Celso Gontijo. Em 2010, durante a campanha presidencial, Serra recebeu a doação de R$ 8,2 milhões, feita por Ana Maria Baeta Valadares Gontijo, esposa do empreiteiro. O valor supera o limite legal de doações de 10% do ganho anual de pessoas físicas, o que chamou a atenção da Receita Federal. O nome de Gontijo, que já estava relacionado ao “mensalão do DEM”, por ter sido flagrado em vídeos entregando maços de dinheiro para abastecer o esquema, também aparece como sendo proprietário da empresa Call Tecnologia e Serviços LTDA.
Segundo a Polícia Federal, a empresa era uma espécie de financiadora do esquema, chegando a repassar aos beneficiados, entre 2000 e 2010, o valor total de R$ 109.347.709,17 (cento e nove milhões, trezentos e quarenta e sete mil, setecentos e nove reais e dezessete centavos). Um dos beneficiários do pagamento de propinas era Paulo Vieira de Souza, mais conhecido como “Paulo Preto”. Ele era o ex-captador de recursos para as campanhas eleitorais de Serra, em São Paulo.
A partir de 2006, a empresa Call Tecnologia – também conhecida como Call Contact Center –, de propriedade de José Celso Gontijo, passou a administrar as chamadas para os serviços dispostos pela prefeitura de São Paulo, durante a gestão de José Serra. A empresa chegou a receber, mensalmente, R$ 1,2 milhão – totalizando cerca de R$ 30 milhões por dois anos de serviço. O contrato entre a prefeitura e a empresa foi prorrogado na gestão de Gilberto Kassab. Em 2009, a empresa fechou novo contrato, mas com o governo de São Paulo, na época administrado por Serra, que estava prestes a se lançar candidato à Presidência da República. No ano seguinte, o tucano recebeu os R$ 8,25 milhões da mulher de Gontijo.
A empresa Call Tecnologia continua prestando serviços para o governo de São Paulo, agora sob a administração de Geraldo Alckmin (PSDB). Dados do Diário Oficial do Estado do dia 4 de julho de 2013 mostram que a empresa continua recebendo pagamentos no valor mensal de R$ 192.922,80. O pagamento informado, referente ao mês de junho, é contabilizado como sendo a 63a. parcela, o que somaria o valor repassado pelo Estado, até o momento, de R$ 12.154.136,4 (doze milhões, cento e cinquenta e quatro mil, cento e trinta e seis reais e quatro centavos).
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