Para atrair
médicos portugueses ao Brasil, os governos dos dois países discutem mecanismos
para promover o reconhecimento mútuo de diplomas de medicina, concedendo
autorização para que profissionais formados na universidade de um país possam
atuar no outro. A possibilidade foi tratada em encontro entre os ministros da
Saúde do Brasil, Alexandre Padilha, e de Portugal, Paulo Macedo, em reunião em
Lisboa na última segunda-feira (10). A ação faz parte do conjunto de medidas
para enfrentar o déficit de médicos no Brasil.
Este mecanismo
já estava previsto entre Brasil e Portugal por meio do Tratado de Amizade,
Cooperação e Consulta, em vigor desde 2000, mas não contava com envolvimento
direto dos ministérios da saúde, que devem fechar acordo sobre o tema nesta
semana.
A medida
integra a política de atração médicos estrangeiros para atuar nas regiões
carentes destes profissionais no país, que vem sendo desenhada pelo governo
federal. “Uma das estratégias principais é o reconhecimento mútuo de diploma”,
disse Padilha em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta
quarta-feira (12). A audiência foi promovida pela Comissão de Constituição
e Justiça e de Cidadania (CCJC), Comissão de Educação (CE), Comissão
de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), Comissão de Seguridade
Social e Família (CSSF) e Comissão de Integração Nacional,
Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra).
A alternativa
do reconhecimento mútuo de diplomas é adotada por outros países com
similaridade na língua para facilitar o intercâmbio de profissionais, como é o
caso do Canadá e dos Estados Unidos e os que fazem parte da União Europeia.
“A população
brasileira não pode esperar seis, oito, dez anos, para ter mais médicos, então
uma das formas estudadas pelo Ministério da Saúde é fazer o que outros países
do mundo fazem, que é atrair médicos estrangeiros. Não pode ser um tabu no
nosso país uma política de atração de médicos estrangeiros”, disse.
Falta de
médicos – O déficit de médicos no Brasil é um dos principais gargalos para
ampliar o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil tem atualmente
1,8 médicos para cada mil habitantes, índice abaixo de outros latino-americanos
como Argentina (3,2) e México (2). Para igualar-se a média de 2,7 médicos por
mil habitantes registrada na Inglaterra, que possui um sistema de saúde público
e universal que inspirou o SUS, o país precisaria ter hoje mais 168.424
médicos.
Ao longo dos
últimos dez anos, o número de postos de emprego formal criados para médicos no
Brasil ultrapassa em 54 mil os de graduados – surgiram 147 mil vagas neste mercado
de trabalho, contra 93 mil profissionais formados, conforme dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A este quadro
de carência de profissionais, soma-se a perspectiva de contratação de 35.073
médicos para trabalhar nas unidades públicas, cuja construção está sendo
custeada com recursos do Ministério da Saúde até 2014.
Medidas do
governo – O governo federal tem investido em ações para levar médicos
brasileiros às periferias de grandes cidades e interior do país, como a
ampliação das vagas de graduação em medicina nessas regiões. Até 2014, estão
previstas 2.415 novas vagas. Além disso, este ano, por meio do Programa de
Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), cerca de 3.800 médicos
estão atuando nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de regiões que enfrentavam
dificuldade de contratação de médicos.
Nesta iniciativa,
o Ministério da Saúde oferece bolsa de R$ 8.000, atividade supervisionada,
curso de especialização em Saúde da Família, além de pontuação adicional de 10%
nas provas de residência para os que forem bem avaliados. Apesar disso, o
Provab só conseguiu atender a 29% das demandas apresentadas pelos gestores e
55% dos municípios não atraíram sequer um profissional.
Paralelamente
à atração de médicos, o ministério está investindo em infraestrutura. Pela
primeira vez, abriu uma linha de financiamento da ordem de R$ 1,6 bilhão para
reforma, ampliação e construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Profissionais
estrangeiros – Outra alternativa em estudo pelo governo é a atração de
médicos estrangeiros, a exemplo do que fazem países desenvolvidos. Enquanto no Brasil
1% dos médicos se formou em outro país, na Inglaterra esse índice é de 40% e
nos Estados Unidos, 25% Austrália, 22%, e Canadá, 17%.
O diálogo do
Ministério da Saúde com Portugal iniciou em maio, durante a 66ª Assembleia
Mundial da Saúde em Genebra, quando o país europeu apresentou sua experiência
de fixação, provimento e atração de médicos estrangeiros. O país europeu tem
cerca de 200 médicos formados fora do país em seu sistema de saúde, que atuam
por um período temporário na atenção básica em áreas de difícil provimento.
Além de Portugal, houve conversas com Espanha, Reino Unido, Canadá, Austrália e
Estados Unidos.
Fonte: Agência
Saúde
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