“Talvez seja melhor dizer que estamos num momento de calma
antes da tormenta” - Foto de
tornado de Lynne Hand/flickr
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A economia
mundial atravessa uma fase de relativa tranquilidade. Parecem longe aqueles
dias de 2009 quando o colapso terminal parecia iminente. Uma análise mais
detalhada revela que a calma relativa não provém de uma recuperação sustentável
e que apareceram nuvens ameaçadoras no horizonte. Por Alejandro Nadal.
A relativa
estabilidade do presente é uma referência inútil para prever o futuro. Infelizmente
a tendência natural é projetar para o futuro incerto os dados conhecidos e
usá-los como um guia para tentar prever o curso dos acontecimentos. Não é um
procedimento certeiro, mas parece que os seres humanos sentem assim que podem
enfrentar a angústia da incerteza.
A economia
mundial atravessa uma fase de relativa tranquilidade. Parecem longe aqueles
dias de 2009 quando o colapso terminal parecia iminente. Entre os sinais
positivos que se mencionam com insistência nos meios de comunicação encontra-se
a relativa estabilidade nos mercados financeiros e até a evolução dos preços
dos imóveis nos Estados Unidos. Uma análise mais detalhada revela que a calma
relativa não provém de uma recuperação sustentável e que apareceram nuvens
ameaçadoras no horizonte.
Quase todas as
principais economias do planeta (com exceção do Japão) escolheram uma
estratégia anti-crise baseada na expansão da oferta monetária ao invés de
recorrer a maiores défices fiscais. A efetividade dessa opção estratégica deixa
muito a desejar.
Nos Estados
Unidos, os salários continuam sem restabelecer seu poder aquisitivo. O
crescimento continua a ser medíocre e o desemprego real mantém-se em níveis
inaceitáveis. A política monetária é a única que se mantém numa postura
expansiva. Mas no interior da Reserva Federal existe um intenso debate sobre
este tema. Por um lado, estão os que pensam que a injeção de liquidez deve
cessar porque é preciso controlar as pressões inflacionárias. Por outro lado,
há aqueles que defendem a manutenção da flexibilização porque a recuperação é
frágil.
Na Europa, as
medidas de austeridade tiveram um efeito depressivo. E se os saldos negativos
nas contas externas de alguns países começaram a diminuir, isso não se deve a
uma recuperação sadia do setor externo, mas sim à contração das importações,
que caíram de maneira drástica.
Por outro
lado, a política de austeridade não permitiu melhorar a relação dívida/PIB. A
política do Banco Central Europeu permitiu manter certa estabilidade nos
mercados financeiros, mas não resolveu nenhum dos problemas que ocorreram com a
rápida transmissão da crise. Ainda que exista pressão em várias frentes para
reorientar a política macroeconómica na direção do crescimento, não é claro
quando essa viragem poderá ocorrer.
Na China, as
perspetivas de uma recuperação não são nada boas e as informações que surgem
indicam que essa economia enfrenta sérios desafios, para não dizer perigos. A
China também recorreu ao crédito bancário para financiar o crescimento e
mitigar os efeitos da crise. O sistema de comando centralizado permitiu dirigir
o crédito de maneira precisa a projetos que foram considerados prioritários. Os
mais favorecidos estão no setor da construção pelo seu impacto na taxa de
crescimento geral. Os bancos não deviam frear estes investimentos, já que as
garantias dos créditos foram relegadas para um lugar secundário. As
construtoras do setor privado e público são as grandes ganhadoras, mas a
vulnerabilidade dos bancos aumentou. Assim, surgiram cidades inteiras que estão
desabitadas porque ninguém pode adquirir as centenas de milhares de apartamentos
vazios que enfeitam as suas ruas desertas. A outra face da moeda é uma carteira
vencida de magnitude astronómica e um futuro incerto no qual a taxa de
crescimento será menor com tudo o que isso implica para alguns países
“emergentes”.
O Japão é o
único país que adotou uma política macroeconómica na qual a expansão fiscal é
importante. O enfoque adotado tem a vantagem de coordenar os dois pilares da
política macroeconómica em torno de um objetivo comum. Continuará a manter uma
postura de política monetária para reverter o processo deflacionário (a meta é
alcançar uma taxa de inflação de 2%) e reduzir a taxa real de juro. Um efeito
será a desvalorização do iene, o que promete alimentar a guerra de divisas (e é
a resposta à desvalorização do dólar induzida pela Reserva Federal dos EUA). No
entanto, não é claro que a política fiscal permita recuperar os dias de alto
crescimento. Na década de 90, o défice fiscal cresceu enormemente e, no
entanto, a economia manteve-se estagnada.
Muitos
insistem que o pior da crise já passou. Talvez seja melhor dizer que estamos
num momento de calma antes da tormenta. Muitos fatores que provocaram a crise
já esgotaram a sua energia, como um furacão que se extingue após demonstrar a
sua força. Mas a crise não desapareceu e surgiram novos problemas que anunciam
maiores perigos no futuro. Os economistas do sistema não podem vê-los, como
tampouco puderam ver o surgimento da crise atual. Os marinheiros que só têm
instrumentos meteorológicos para o bom tempo são incapazes de prever as tormentas.
Artigo de Alejandro
Nadal, publicado no site do jornal mexicano La Jornada
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