Audiência
pública é realizada pela comissão externa da Câmara de Deputados, em Porto
Alegre
O inquérito
interno do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, que investiga a
responsabilidade da corporação na tragédia da Boate Kiss, que matou mais
de 240 pessoas, deve apontar que os bombeiros de Santa Maria cometeram várias
irregularidades na liberação da boate para funcionar. "Pelo que a gente
viu, não estava sendo cumprido o regimento interno, que exigia a planta, a
anotação de responsabilidade técnica para aquele local", adiantou o
comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre, tenente coronel Adriano
Krukoski Ferreira, que acompanhou a investigação, durante uma audiência pública
realizada pela comissão externa da Câmara de Deputados, em Porto Alegre.
Ferreira
afirmou que o inquérito deve ser concluído até o começo de junho. Segundo ele,
existe um sistema para emissão de alvarás simplificado, chamado SIG-PI, que foi
adotado por algumas unidades do Corpo de Bombeiros, como a de Santa Maria. De
acordo com as normas, em algumas edificações com menos de 700 metros quadrados,
as informações são apresentadas pelos proprietários, sem a necessidade de
responsável técnico, para posterior vistoria dos bombeiros. Isso foi feito pela
Kiss, com autorização dos bombeiros, apesar de casas noturnas não se
enquadrarem neste regime simplificado.
"Em Santa
Maria, por diversas razões, até aceitáveis, estavam deixando algum passo,
ritos, para agilizar o processo... O SIG-PI foi desenvolvido para algumas
edificações, que não precisava de um croqui do local, nem um responsável
técnico. O proprietário dava a declaração dele, e o Corpo de Bombeiros, com
aquele croquis... agora o inquérito vai apurar porque aquilo não estava sendo
feito em Santa Maria", diz Ferreira, salientando que mais de 400 pessoas
foram ouvidas
Antes do
depoimento de Ferreira, o Corpo de Bombeiros do Estado, Guido Pedroso de Melo,
disse que após a emissão do alvará da Kiss, qualquer alteração no local era de
responsabilidade do proprietário, eximindo a responsabilidade da corporação.
"Após vencido o alvará, e encaminhado o pedido de renovação, do ponto de
vista dos Bombeiros, pela lei, a responsabilidade pelo local é do
proprietário!", afirmou.
ndagado sobre
as declarações de bombeiros que reclamaram sobre falta de equipamento e
treinamento para fiscalizar casas noturnas, Melo negou a falta de material ou
treinamento e disse que os responsáveis pelas declarações “vão ter que
responder pelas afirmações, verdadeiras ou não”.
A Comissão
Externa da Câmara realiza durante todo o dia uma audiência pública, onde devem
ser ouvidos, além do comandante do Corpo de Bombeiros, o promotor Ricardo
Lozza, responsável pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelos
proprietários da Kiss, Jader Marques, advogado de um dos sócios da boate, além
do secretário estadual de segurança, Airton Michels.
O sub-relator
da comissão, deputado Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS), disseque a comissão teve
vários entraves, e que só após quatro meses conseguiu orçamento, para que possa
trazer envolvidos para depor nas audiências. "Nós tivemos muitos entraves,
estamos no quarto mês, e só conseguimos, ontem, que a comissão tenha algum
orçamento, para que possa trazer aqui os técnicos. Estivemos há três meses em
Santa Maria e foi uma visita infrutífera, foram apresentadas barbaridades, mas
nada foi gravado", disse.
Incêndio
na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.
Com apenas uma
porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar
o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela
fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.
Os mortos
foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou
luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem
oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos
parentes dos mortos.
Os feridos
graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de
Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força
Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e
municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.
Quatro pessoas
foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro
Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda
Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos
Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e
o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa
noturna.
A tragédia fez
com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas
de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios
do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.
No dia 25 de
fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e
Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada
com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por
ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não
deixar a tragédia cair no esquecimento.
Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.
O inquérito
também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início
do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos
alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para
isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia,
as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e
obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e
saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de
emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao
necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam
obstruídas.
20 de maio - Corpo de Mariane Wallau Vielmo deixa capela após o término do velório - Foto: Luiz Roese / Terra
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Já no dia 2 de
abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por
homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras
quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis
diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro
Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo
de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.
Por fraude
processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado
Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze,
que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton
Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP
Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado
pela Polícia Civil.
Os promotores
também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais
profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido
indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de
Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da
secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e
Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da
casa noturna.
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Dag Vulpi