Lula quebra o silêncio sobre a operação Porto Seguro: 'Não fiquei surpreso'
Berlim foi palco do único comentário
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Operação Porto Seguro,
deflagrada pela Polícia Federal (PF) no mês passado e que investiga um esquema
de venda de pareceres técnicos, tráfico de influências e corrupção em órgãos
federais.
Stephanie Pilick/Efe | Lula apresenta palestra no congresso internacional do Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha |
“Não, não fiquei surpreso”, disse Lula
à imprensa nesta sexta-feira, 7, na capital alemã, ao ser questionado
sobre a operação.
Pela manhã, o ex-presidente
apresentou uma palestra para um público de cerca de 900 pessoas no
congresso internacional do Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha.
À tarde, Lula foi o convidado da
fundação política alemã Friedrich Ebert para o colóquio sobre o papel do Brasil
na nova ordem mundial que reuniu cerca de 450 pessoas. Além de Lula, participou
do evento o líder da bancada social-democrata no Parlamento alemão,
Frank-Walter Steinmeier, opositor ao partido da chanceler Angela Merkel.
No sábado, 8, Luiz Inácio Lula da
Silva segue para Doha, no Catar.
Delator cita ajuda de Sarney a esquema de pareceres
Delator do esquema de venda de pareceres em órgãos
federais, o ex-auditor Cyonil Borges disse que o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor dos interesses da
organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia enviada ao
Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da Agência
Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a tramitação de
processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O senador nega.
Dida Sampaio/AE | Vieira só foi nomeado como diretor da ANA depois da manobra com Sarney (foto) |
De acordo com o
inquérito da Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a
Tecondi em auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento
de áreas do Porto de Santos. A Polícia Federal sustenta que o ex-diretor
ofereceu propina de R$ 300 mil para que Cyonil elaborasse parecer favorável à
empresa.
Em 2007, o
ex-auditor se manifestou contra a permanência da Tecondi no terminal paulista.
O processo foi remetido ao gabinete do então relator, Marcos Vinícius Vilaça,
hoje aposentado.
Entre 2008 e 2010,
Vieira teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria
de Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro
parecer, favorável à empresa, ser elaborado.
Na representação, de
15 de fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o
ex-diretor teria citado o senador. "Paulo Vieira disse que pediria a José
Sarney, que indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo
à secretaria de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção." Rejeitado
pelo Senado, Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de
Sarney.
Vilaça relatou o
processo até junho de 2009, quando se aposentou. No primeiro semestre daquele
ano, o ministro enviou o caso a São Paulo para que técnicos se pronunciassem
sobre informações apresentadas pelo Ministério Público e pela Companhia Docas
de São Paulo (Codesp), responsável pelo porto.
Nova inspeção.
O caso voltou a
Brasília. Em outubro, José Múcio assumiu a relatoria e determinou a inspeção em
São Paulo. Pelos registros do TCU, houve nova manifestação da Codesp, o que
teria motivado a remessa para o Estado para avaliar as condições
"atualizadas" do contrato.
A inspeção ficou a
cargo de Cyonil, que, segundo a PF, recebeu propina para elaborar o relatório.
No documento, ele muda de posição: defende a manutenção do contrato com a
Tecondi e abre brecha para que a empresa assuma novas áreas no porto.
Múcio, contudo, não
concedeu decisão favorável à empresa. Em abril de 2010, a assessoria do
ministro foi procurada por Vieira, que tentou evitar a remessa do processo para
o Ministério Público e cobrou celeridade no julgamento, com base no parecer de
Cyonil. Mas o relator pediu mais pareceres ao MP e à Secretaria de
Desestatização, em Brasília.
Segundo Cyonil,
Vieira teria ficado "transtornado" ao saber que Múcio proporia medida
cautelar contrária à Tecondi, impedindo a ocupação de novas áreas. A decisão é de
novembro de 2010.
No mês seguinte,
disse Cyonil, Vieira teria discutido diretamente com Múcio o "desenrolar
do processo". Contudo, o ministro deixou o caso, alegando motivo de
"foro íntimo". "Essa declaração de impedimento pode ser uma
demonstração do ministro de que não concorda com a ideia de julgar o processo
por prováveis motivações políticas ou outros fatos estranhos ao processo",
disse Cyonil.
Ao MPF, o delator
contou que o lobby renderia frutos a Vieira, pois os donos da Tecondi o
auxiliariam em campanha a deputado federal, como revelou o Estado.
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