A falta de políticas públicas com
foco em meninos negros de 12 a 18 anos se refletiu no aumento do Índice de
Homicídios na Adolescência (IHA), avalia a coordenadora do Programa de Redução
de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, Raquel Willadino. Em 2010 o índice chegou a quase três mortos para cada grupo de mil jovens, enquanto em 2009
era 2,61. Os dados foram divulgados hoje (13) pelo Laboratório de Análise da
Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Calculado com base no banco de dados
do Ministério da Saúde, o IHA mostra que correm mais risco de serem
assassinados, provavelmente por armas, adolescentes do sexo masculino, cuja
chance de ser morto é 12 vezes maior do que a de uma menina. Já o risco de um
negro ser vítima de homicídio é quase três vezes superior ao de um branco.
De acordo com Raquel, que é doutora
em psicologia social, pesquisas recentes da organização não governamental
Observatório de Favelas, feita em 16 regiões metropolitanas, revelam que apenas
16% dos programas de enfrentamento da violência desenvolvidos nos últimos anos
por estados e municípios levaram em conta a questão de gênero. No caso da
questão racial, o percentual cai para 8%.
“O racismo é um elemento
estruturante dessa ênfase na letalidade da juventude negra, temos o processo de
criminalização não só da pobreza, mas particularmente dos jovens negros moradores
de espaço populares”, disse.
Ela lembra que o Mapa da
Violência, que traça o perfil das mortes entre pessoas de 15 a 29 anos, já
apontava assassinatos generalizados de negros.
Perguntada sobre o Plano de
Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, chamado Juventude Viva, lançado
pelo governo federal em setembro deste ano [1], Raquel avaliou que a iniciativa
é muito recente e não produziu “a reversão do genocídio de negros”.
“Existe investimento para o
enfrentamento do genocídio da juventude negra, mas ainda não se traduziu na
reversão desse quadro”, acrescentou a especialista.
O Programa de Redução de Violência
Letal contra Adolescentes e Jovens, coordenado por Raquel, é uma iniciativa da
organização não governamental Observatório de Favelas, da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República e do Fundo das Nações Unidas para
Infância (Unicef).
[1] Governo lança projeto de prevenção à violência contra a juventude negra
O governo federal lança amanhã (27),
em Maceió (AL), a primeira etapa de um programa piloto que visa enfrentar o
crescente número de homicídios entre jovens negros de todo o país. Intitulado
Juventude Viva, a iniciativa é a primeira etapa de uma ação mais ampla, o Plano
de Prevenção à Violência Contra a Juventude Negra.
Segundo dados do Ministério da
Saúde, 53% dos homicídios registrados no país vitimam pessoas jovens. Destas,
mais de 75% são negras. Além disso, enquanto as mortes de jovens brancos caíram
de 9.248, em 2000, para 7.065, em 2010, a morte de jovens negros cresceu de
14.055 para 19.255 no mesmo período.
Em Alagoas, o programa irá
complementar iniciativas que já estão em curso, como o Programa Brasil Mais
Seguro, do Ministério da Justiça. A escolha do estado também se justifica
porque a capital, Maceió, ocupa o segundo lugar entre as cidades com o maior
número de homicídios no país. Nesta primeira etapa, além de Maceió, o Juventudo
Viva também será testado em outras três cidades alagoanas: Arapiraca, Marechal
Deodoro e União dos Palmares. A meta do governo federal é, a partir da
experiência inicial, estender a iniciativa para os 132 municípios mais
violentos do país.
"O Juventude Viva representa um
plano de enfrentamento à mortalidade da juventude negra. Vai começar como uma
experiência em Alagoas, com os vários ministérios envolvidos desenvolvendo um
conjunto de ações de inclusão e contra a cultura de violência", explicou a
ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir),
Luiza Bairros, logo após participar, esta manhã, do programa Bom Dia,
Ministro, produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República em parceria com a EBC Serviços. Também participou do programa o
ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Entre as iniciativas a serem
desenvolvidas, a ministra mencionou a adoção, pelas escolas estaduais, de aulas
em período integral; a criação de espaços culturais em territórios violentos e
o estímulo ao empreendedorismo juvenil, principalmente quando associado à
chamada economia solidária. Além disso, segundo a ministra, o programa também
prevê ações de capacitação dos profissionais que atuam com os jovens,
especialmente dos policiais.
"Será extremamente importante o
trabalho que faremos com as forças policiais para que possamos ter um
comportamento diferenciado dos policiais em relação aos jovens, especialmente
em relação ao jovem negro que, por conta da discriminação racial, acaba sendo
mais atingido por essa violência", explicou a ministra.
O Juventude Viva, segundo a ministra,
irá beneficiar não apenas jovens negros entre 15 e 29 anos, mas toda a
população das regiões contempladas com iniciativas como a construção de espaços
culturais.
"Pretendemos atingir os jovens
negros, que, nos últimos anos, são os que mais têm sofrido com esses altos
índices de homicídios, mas, embora o diagnóstico que conduza o programa leve em
conta a população negra, seu caráter é amplo. A instalação de uma praça de
cultura em um bairro de maioria negra faz toda a diferença para toda a
população", acrescentou a ministra.
"Embora tenhamos experimentado,
nos últimos anos, uma melhoria dos indicadores sociais da população negra,
temos ainda milhões de jovens negros que estão fora da escola e do mercado de
trabalho, sendo uma população vulnerável às possibilidades de se envolver em
situações violentas e que tem a vida pouco valorizada, já que não está inserida
em nenhum tipo de rede social mais forte."
Coordenado pela Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, o programa
contará com a colaboração dos ministérios da Cultura, Educação, Saúde, Trabalho
e Esportes.
(Agência Brasil)
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