Vaidoso, verborrágico e
permanentemente mal humorado, o deputado federal Roberto Freire está a um passo
de, mais uma vez, usar seu passado de ex-militante e candidato a presidente
pelo PCB – o Partido Comunista Brasileiro – para contemplar interesses do PSDB.
Num movimento pessoal, não
acompanhado nem mesmo pelo DEM do conservador de quatro costados senador
Agripino Maia, Freire ingressa na tarde desta terça-feira 6, em Brasília, com
representação na Procuradoria Geral da República por uma investigação formal
contra o ex-presidente Lula. Ele quer que os promotores e todo o aparato sob a
chefia de Roberto Gurgel tomem como base os disparos verbais do publicitário
Marcos Valério feitos a ainda não se sabe exatamente quem, mas que foram
replicados pela revista Veja, em dois textos de capa, para atalhar a carreira
do ex-presidente num labirinto jurídico-policial que poderá ser aberto na forma
de processo judicial.
Ao lado de figuras carimbadas de seu
partido, o Freire que marchará rumo à PGR, certamente com boa cobertura de
mídia, é mais um pendurado nas máquinas de benefícios da Prefeitura de São
Paulo, do aliado Gilberto Kassab, do PSD, e do governo paulista, comandado pelo
tucano Geraldo Alckmin. Mês sim, mês sim, o deputado nascido em Pernambuco que
deve sua última eleição a José Serra, que o fez mudar o domicílio eleitoral
para São Paulo para uma tentativa bem sucedida de revitalizar sua declinante
carreira em seu Estado natal, busca no guichê da estatal paulistana SPTuris um
jeton de R$ 12 mil pela participação em uma reunião mensal no conselho. O mesmo
procedimento, em estatais do governo paulista, beneficia duas outras figuras
carimbadas do PPS de Freire, a ex-candidata a prefeita Soninha Francine
(Sabesp) e o ex-ministro Raul Jungmann (CET).
Não pelo seu presente de linha auxiliar
do PSDB, mas por seu passado de quadro do PCB, Freire dará hoje, sem dúvida,
mais uma grande contribuição para sepultar, ainda uma vez, e da pior maneira, o
velho partidão de ícones como Luis Carlos Prestes e Gregório Bezerra. É claro
que haverá alguém para dizer que os comunistas, personificados em seu
ex-candidato a presidente, atuaram mais uma vez contra os interesses populares.
Em 1992, num congresso realizado na
Câmara Municipal de São Paulo, Freire aproveitou-se da fragilidade da legenda
para comandar a sua dissolução e levar a maior parte de suas poucas bases para
o ali criado PPS. No entanto, sempre que pode, exalta o passado de sua velha
agremiação. No PCB, Freire nunca adquiriu a confiança de seus correligionários
para chegar ao Comitê Central. Foi vereador em Recife, eleito pelo MDB, quando
o Partidão estava com toda a sua direção no exílio. Na volta, com a anistia,
comunistas como o histórico Gregório Bezerra atuaram para que Freire chegasse à
Câmara dos Deputados, onde deveria, mesmo com a legenda na clandestinidade,
atuar pelos interesses do grupo que lhe ofereceu apoio político em troca de
lealdade. Como se vê hoje, quando toma a linha de frente no ataque a Lula – uma
liderança surgida da mesma classe operária da qual o PCB se originou --, Freire
aceitou o apoio, mas não o pagou com lealdade.
No melhor estilo da UDN dos anos
1950, cuja fachada de moralidade deu grande contribuição para o golpe militar
de 1964, Freire tenta, com a ida à PGR, escrever o primeiro capítulo de um
roteiro semelhante. Ele sabe que o seu PPS não tem nem filiados nem história
suficientes para liderar marchas de famílias contra Lula, mas igualmente avalia
que a aposta numa caçada jurídica de tipo kafkiana ao líder político mais
popular da história do Brasil – sem provas concretas e baseada na palavra de um
condenado pelo STF – irá render a ele e seu partido largos espaços na mídia.
Fonte: Brasil 247
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