quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Análise: influência de Lula na eleição municipal é limitada

Considerado um dos grandes transmissores de votos da história eleitoral brasileira após a eleição de Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem tendo dificuldade para emplacar candidaturas de seus aliados. Apesar do crescimento de Fernando Haddad em São Paulo, os petistas ainda derrapam em Belo Horizonte e Recife, duas capitais consideradas estratégicas pelo partido.
Com dificuldades para alavancar Fernando Haddad em São Paulo, analistas não veem Lula como determinante em 2012

O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do instituto de pesquisa Vox Populi, avalia a capacidade de uma personalidade nacional como o ex-presidente de influenciar nas eleições municipais. "A influência do presidente em eleições municipais é limitada", resume.
"Em 2008, no auge de sua popularidade, Lula se envolveu até intensamente em algumas eleições municipais sem que os candidatos do PT vencessem a eleição. O caso emblemático é o de São Paulo, onde ele apoiou a Marta Suplicy (PT) e ela acabou derrotada por Gilberto Kassab", ilustra.

Na mesma linha, o cientista político Eurico Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que a força do ex-presidente foi reduzida quando ele deixou a presidência. "Lula deixou de ser o homem que assina as decisões mais importantes do País. Por isso, não já pode dar uma demonstração de poder de transferência de votos do patamar da observada na eleição de Dilma Rousseff. Por outro lado, Lula ainda é o protagonista maior do PT", analisa.

Mais positivo em relação ao papel de Lula, Figueiredo acredita que o ex-presidente tem sido importante nas eleições em que mais participa. "Em São Paulo, ele pegou uma pessoa muito pouco conhecida, o Fernando Haddad, da mesma forma que havia feito com a presidente Dilma. E o candidato já está em segundo. Haddad já se tornou muito conhecido e, se for para o segundo turno, tem grandes chances de vencer", pontua.
"Lula também tem conseguido alavancar a candidatura do Marcio Pochmann, um professor e ex-presidente do Ipea, em Campinas. Ter conseguido emplacar dois professores nas duas maiores cidades paulistas mostra que sua influência ainda é muito forte", continua Figueiredo.

Com a experiência de quem trabalha há mais de duas décadas com pesquisas de intenção de votos, Coimbra considera exagerada a importância dada aos levantamentos realizados até este momento do ciclo eleitoral. "O que a gente tem por enquanto são pesquisas. E pesquisa em eleição municipal costuma ter uma imprecisão muito maior do que nas presidenciais ou estaduais", indica.
"Aceitando o que temos hoje em matéria de pesquisa é certamente cedo para se decretar vencedores e perdedores. Claro que o PSB deve ter um desempenho melhor, fundamentalmente por estar na frente em Recife", avalia.

O crescimento do partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, divide a opinião dos especialistas. Enquanto Figueiredo acredita que "as eleições de Belo Horizonte são vitais" para o partido, Coimbra acredita que não há razões para se ter a impressão de que os socialistas saem significativamente fortalecidos do pleito.

"O PSB está com uma cara de que pode ter um bom desempenho por causa de Recife e, talvez, Fortaleza. Pode haver fato novo com uma vitória em Cuiabá, mas estamos pegando pequenos casos. Hoje o prefeito de Curitiba, que é do PSB, está em uma posição bastante desfavorável em relação ao Ratinho Jr (PSC), por exemplo", pondera.

Influência do mensalão é pequena
Os dois analistas concordam em um ponto: o impacto do julgamento do mensalão nas candidaturas petistas ainda não pode ser mensurado. Segundo eles, não se nota sinais de desgaste ao redor do Brasil. "O único lugar em que há algum prejuízo é em São Paulo, onde está grande parte das lideranças do PT que estão sendo acusadas, como (José) Dirceu, (José) Genoíno e João Paulo Cunha. Fora de São Paulo os efeitos são muito secundários, como estamos vendo com os sucessivos recordes de popularidade da presidente Dilma e o favoritismo do Lula em todos os cenários para 2014 pesquisados", conclui o presidente do Vox Populi.

Já o professor Figueiredo acredita que não é possível saber quais são os reflexos do julgamento nas disputas em que petistas estão envolvidas.
Jornal do Brasil

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