Considerado um dos grandes
transmissores de votos da história eleitoral brasileira após a eleição de Dilma
Rousseff (PT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem tendo
dificuldade para emplacar candidaturas de seus aliados. Apesar do crescimento
de Fernando Haddad em São Paulo, os petistas ainda derrapam em Belo
Horizonte e Recife, duas capitais consideradas estratégicas pelo
partido.
Com dificuldades para alavancar Fernando Haddad em São Paulo, analistas não veem Lula como determinante em 2012 |
O sociólogo Marcos Coimbra, presidente
do instituto de pesquisa Vox Populi, avalia a capacidade de uma personalidade
nacional como o ex-presidente de influenciar nas eleições municipais.
"A influência do presidente em eleições municipais é limitada",
resume.
"Em 2008, no auge de sua
popularidade, Lula se envolveu até intensamente em algumas eleições municipais
sem que os candidatos do PT vencessem a eleição. O caso
emblemático é o de São Paulo, onde ele apoiou a Marta Suplicy (PT) e ela acabou
derrotada por Gilberto Kassab", ilustra.
Na mesma linha, o cientista político
Eurico Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra
que a força do ex-presidente foi reduzida quando ele deixou a presidência.
"Lula deixou de ser o homem que assina as decisões mais importantes do
País. Por isso, não já pode dar uma demonstração de poder de transferência de
votos do patamar da observada na eleição de Dilma Rousseff. Por outro lado,
Lula ainda é o protagonista maior do PT", analisa.
Mais positivo em relação ao papel de
Lula, Figueiredo acredita que o ex-presidente tem sido importante nas eleições
em que mais participa. "Em São Paulo, ele pegou uma pessoa muito pouco
conhecida, o Fernando Haddad, da mesma forma que havia feito com a presidente
Dilma. E o candidato já está em segundo. Haddad já se tornou muito conhecido e,
se for para o segundo turno, tem grandes chances de vencer", pontua.
"Lula também tem conseguido
alavancar a candidatura do Marcio Pochmann, um professor e ex-presidente do
Ipea, em Campinas. Ter conseguido emplacar dois professores nas duas maiores
cidades paulistas mostra que sua influência ainda é muito forte", continua
Figueiredo.
Com a experiência de quem trabalha há
mais de duas décadas com pesquisas de intenção de votos, Coimbra considera
exagerada a importância dada aos levantamentos realizados até este momento do
ciclo eleitoral. "O que a gente tem por enquanto são pesquisas. E pesquisa
em eleição municipal costuma ter uma imprecisão muito maior do que
nas presidenciais ou estaduais", indica.
"Aceitando o que temos hoje em
matéria de pesquisa é certamente cedo para se decretar vencedores e perdedores.
Claro que o PSB deve ter um desempenho melhor, fundamentalmente por
estar na frente em Recife", avalia.
O crescimento do partido do governador
de Pernambuco, Eduardo Campos, divide a opinião dos especialistas. Enquanto
Figueiredo acredita que "as eleições de Belo Horizonte são vitais"
para o partido, Coimbra acredita que não há razões para se ter a impressão de
que os socialistas saem significativamente fortalecidos do pleito.
"O PSB está com uma cara de que
pode ter um bom desempenho por causa de Recife e, talvez, Fortaleza. Pode
haver fato novo com uma vitória em Cuiabá, mas estamos pegando
pequenos casos. Hoje o prefeito de Curitiba, que é do PSB, está em uma
posição bastante desfavorável em relação ao Ratinho Jr (PSC), por
exemplo", pondera.
Influência
do mensalão é pequena
Os dois analistas concordam em um
ponto: o impacto do julgamento do mensalão nas candidaturas petistas ainda não
pode ser mensurado. Segundo eles, não se nota sinais de desgaste ao redor do
Brasil. "O único lugar em que há algum prejuízo é em São Paulo, onde está
grande parte das lideranças do PT que estão sendo acusadas, como (José) Dirceu,
(José) Genoíno e João Paulo Cunha. Fora de São Paulo os efeitos são muito
secundários, como estamos vendo com os sucessivos recordes de popularidade da
presidente Dilma e o favoritismo do Lula em todos os cenários para 2014
pesquisados", conclui o presidente do Vox Populi.
Já o professor Figueiredo acredita que
não é possível saber quais são os reflexos do julgamento nas disputas em que
petistas estão envolvidas.
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