Deputado
está a 2 votos de condenação; se ministros o julgarem culpado de 4 crimes, ele
terá de cumprir pena em regime fechado
A
dois votos de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal, o deputado e
candidato a prefeito de Osasco João Paulo Cunha (PT-SP) é acusado de crimes que
podem levá-lo à cadeia. Com sua condenação, que pode ser
sacramentada nesta quarta-feira, 29 - quatro ministros já votaram
nesse sentido nos crimes de corrupção passiva e peculato -, João Paulo
aguardará o cálculo de sua pena.
A
situação do ex-presidente da Câmara é análoga à de Henrique Pizzolato,
ex-diretor do Banco do Brasil que, segundo a maioria dos ministros votou na
segunda-feira, cometeu os crimes de corrupção passiva e peculato e, nesta
quarta, também pode ser condenado por lavagem de dinheiro - cinco integrantes
do STF já o consideram culpado. Nesse crime, João Paulo foi condenado por três
ministros na última sessão.
Por
ora, a pena mínima dos três crimes de que João Paulo é acusado e está mais
próximo de ser condenado soma 7 anos de prisão - dois anos por peculato, dois
por corrupção passiva e três por lavagem de dinheiro. Porém, se o tribunal aceitar
a acusação contra João Paulo pelo segundo peculato - nesse item, o placar está
empatado em três votos a três -, o ex-presidente da Câmara poderá ser condenado
a pelo menos 9 anos de reclusão e terá, obrigatoriamente, de cumprir a pena em
regime fechado.
Pela
lei brasileira, penas superiores a 8 anos devem ser cumpridas inicialmente no
regime fechado. João Paulo ocupou a Presidência da República por dois dias em
2004, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou ao exterior e
o vice José Alencar estava licenciado.
Como
é réu primário, João Paulo deve ser punido com as penas mínimas previstas no
Código Penal para os crimes de peculato (apropriação de bem em razão do cargo,
em cada uma das duas acusações), corrupção passiva (recebimento de vantagem
indevida) e lavagem de dinheiro (ocultação da origem de recursos). As penas
máximas somadas dos três crimes chegam a 34 anos. Com o último peculato, as
penas máximas somadas alcançariam 44 anos.
Recursos. Apesar
de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter pedido a prisão
imediata dos acusados, isso não deverá ocorrer. A expectativa é de que, após o
julgamento, o STF permita que os réus continuem em liberdade até a análise dos
recursos que eles deverão protocolar contra a sentença. Isso poderá levar meses
ou até anos.
João
Paulo foi acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido ilegalmente
R$ 50 mil do esquema do mensalão. O dinheiro foi sacado pela mulher do
deputado, Márcia Regina, numa agência do Banco Rural em Brasília. Em troca, ele
deveria favorecer agências de propaganda de Marcos Valério, Ramon Hollerbach e
Cristiano Paz em licitações na Câmara - o petista era o presidente da Casa na
época.
O
parlamentar também foi acusado de se beneficiar da contratação da empresa IFT -
Ideias, Fatos e Textos - do jornalista Luís Costa Pinto para garantir uma
assessoria pessoal. Segundo o relator do processo, Joaquim Barbosa, a
contratação da IFT por meio de empresas prestadoras de serviço para a Câmara
teria sido uma maneira de o deputado manter os serviços de assessoria. O
jornalista tinha trabalhado na campanha de João Paulo à Presidência da Câmara.
A
expectativa é de que pelo menos o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, e o
ministro Gilmar Mendes votem a favor da condenação de João Paulo pelos três
crimes. A condenação do deputado também traçará uma tendência de veredicto para
outros políticos que são réus, como os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e
Pedro Henry (PP-MT).
A
dúvida será em relação ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele é acusado
de ser o autor intelectual do esquema. Mas contra ele existem provas
testemunhais. De acordo com Gurgel, o escândalo ocorreu entre "quatro
paredes" do Palácio do Planalto. Antecipando-se à alegação da defesa, de
que não há provas contra Dirceu, o procurador argumentou que mentores não
costumam deixar rastros.
"O
autor intelectual, quase sempre, não fala ao telefone, não envia mensagens
eletrônicas, não assina documentos, não movimenta dinheiro por suas contas,
agindo por intermédio de ‘laranjas’ e, na maioria dos casos, não se relaciona
diretamente com os agentes que ocupam os níveis secundários da quadrilha",
concluiu Gurgel.
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