Cármen
Lúcia condenou João Paulo Cunha, no julgamento do mensalão, em todos os crimes
"O
que coloca em risco as instituições é a corrupção", alertou a ministra
Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, nesta terça-feira, 28, em Brasília.
Cármen
conversou com jornalistas no terceiro andar do Anexo II do STF. Explicou o
alcance de seu voto no julgamento do mensalão, proferido na sessão de
segunda-feira, 27.
Ela
condenou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), candidato a prefeito do município
de Osasco, na Grande São Paulo.
O
parlamentar foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, que a ele
imputou os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Cármen
votou pela condenação de João Paulo em todos os crimes. "Eu estou dizendo:
o que coloca em risco as instituições é a corrupção", diz a ministra.
"Nós
temos que julgar, eu já tinha dito isso lá na denúncia (quando ela recebeu a
denúncia do mensalão, feita pela Procuradoria-Geral da República, em 2007).
Falaram 'ah, vai demorar se não desmembrar'. Problema nosso, temos que
julgar."
Ao
ser indagada sobre como acabar com a corrupção e o desabafo que fez para o
País, em seu voto, Cármen Lúcia disse. "Eu sempre fui de comissão de ética
de tudo quanto é lugar, de hospitais, eu acho que é mesmo jogando luz em todo
lugar (que se combate a corrupção). Onde não tiver sombra fica sempre mais
difícil, não tem fórmula, não é?"
"Sabe
o que eu acho?", prosseguiu a ministra do STF. "(Eu acho) que a vida
é igual a uma estrada. Não adianta você dizer que foi na reta certinho, mil
quilômetros e depois você entra na contramão e pega alguém. É a mesma coisa.
Você tem que ser reto a sua vida inteira. Independente do que o outro fizer,
independente de o outro atravessar a estrada. Se você estiver certo, você terá
contribuído para o fluxo da vida ser mais fácil. Isso no serviço público muito
mais."
A
ministra prosseguiu, referindo-se aos escândalos de corrupção no País.
"Porque não dá para um cidadão ir dormir imaginando que no espaço público
tem alguém fazendo coisa errada. É ruim, é ruim para nós. Olha o tanto que
incomoda uma coisa dessas (o mensalão). Eu espero que quando chegar minha hora
de ir embora do serviço público que as pessoas saibam que cometi erros, com
certeza, mas eu tentei ser, eu fui honesta e nunca nenhum cidadão foi dormir
achando que um erro meu foi não por meu limite, mas por um descuido meu."
Cármen
Lúcia disse. "Eu não me descuido da parte ética. E eu acho que é a única
forma de a gente viver na sociedade. Senão as pessoas não acreditam, democracia
vive da confiança e a confiança precisa disso. Você tem que dormir sabendo que
'olha pode até não dar conta de fazer tudo o que era preciso fazer, mas
tentou'."
Ela
observou que sua posição contra a corrupção não se deve à sua experiência no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), corte que preside. "Não é por causa
disso, é por causa da minha condição de cidadã. Eu acho que isso não é favor,
eu acho que nós temos que ser honestos o tempo todo. Quem convive com a gente
não pode ter que desconfiar disso porque é ruim, a pessoa se sente
injuriada."
A
ministra votou pela condenação de João Paulo inclusive no episódio em que o
deputado recebeu R$ 50 mil da SMP&B, dinheiro sacado na boca do caixa pela
mulher do petista, em 2003. Ela comentou a seu modo o recado que deu ao País de
que o Judiciário não aceita versões singelas. "É porque você é um homem
gentil e porque eu sou uma juíza. Porque se nós dois estivéssemos conversando
eu diria mais. Mas é isso mesmo. Eu acho que mudou, gente. Mudou muito."
"O
meu voto está pronto", afirmou Cármen Lúcia. "É tudo muito triste
para o Brasil, enquanto estiver assim. E eu não posso dormir também feliz a 45
dias da eleição."
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