As
condicionantes previstas para compensar os impactos negativos causados pela
construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte também deverão ser paralisadas a
partir do momento em que a Norte Energia, empresa responsável pela obra e
operação da usina, for notificada oficialmente da decisão da Justiça.
Este
é o entendimento da empresa, segundo o presidente, Duílio Diniz de Figueiredo.
De acordo com ele, a situação é “preocupante”, já que para a obra ser retomada
será necessário, além de ações do Legislativo, a aprovação da plenária do
Supremo Tribunal Federal (STF), que está envolvido, pelo menos até meados de
setembro com o julgamento do mensalão.
“Ainda
não fomos notificados pela Justiça, mas pelo colocado, a paralisação [da obra]
não é parcial, e abrangerá também as condicionantes que estão sendo cumpridas”,
disse Figueiredo. Segundo ele, para cumprir o que foi determinado pelo Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (TRF1) – e não ter de pagar os R$ 500 mil de
multa diária, caso a obra não seja paralisada – a empresa não poderá dar
sequência às obras de infraestrutura, como o lixão que está sendo construído em
Altamira (PA) e as obras de saneamento na cidade.
“Além
disso, teremos de fechar os refeitórios onde entre 12 e 13 mil funcionários se
alimentam. O problema é que Altamira não terá a menor condição de receber esse
pessoal”, disse o presidente da empresa. “Essa decisão do TRF1 não é contra a
Norte Energia, mas contra a Eletrobras, Eletronorte, Funai [Fundação Nacional
do Índio] e Ibama [ Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos
Renováveis]. É o reflexo dela que recai sobre a Norte Energia”, acrescentou.
A
empresa não tem, até o momento, nenhuma estimativa sobre o prejuízo diário
provocado pela paralisação. “O que podemos dizer é que cada dia paralisado
representará um dia a menos de energia para 27 empresas em 17 estados, mas até
o momento estamos dentro do cronograma previsto.”
Segundo
ele, não há ainda uma definição sobre a quem caberá arcar com o prejuízo – se
será a própria Norte Energia, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) ou
qualquer parte que, por ventura, venha a ser considerada a causadora do
prejuízo. “Aguardamos a notificação e os documentos para, em um segundo
momento, fazermos um plano de desmobilização, que detalhará o tamanho do
prejuízo, e, então, estabelecer nossa estratégia [jurídica]. Há, sim, a
possibilidade de jogarmos o prejuízo para aquele que o causou.”
Figueiredo
garante que, ao contrário do que foi argumentado pelo TRF1, a empresa cumpriu
todos os requisitos para dar início às obras. “Estamos legais, constitucionais
e fazendo tudo o que se estabelece dentro da legislação brasileira. Durante
dois anos, fizemos 38 reuniões com índios de 24 terras indígenas. Foram feitas,
ainda, quatro audiências públicas [nas cidades paraenses de Belém, Altamira,
Brasil Novo e Vitória do Xingu] que ouviram 8 mil pessoas. Só em Altamira
participaram 5 mil pessoas. Entre elas, 200 lideranças indígenas”, argumentou o
presidente da empresa.
“O
problema é que esse é um projeto que tem uma aura bonita [atraente] para
algumas organizações não governamentais que acabam plantando notícias na
imprensa. Até hoje, elas insistem que a obra vai atingir terras indígenas. Isso
é falso. Já deixamos bem claro que, ao contrário do que é divulgado por essas
entidades, o empreendimento não afetará sequer 1 metro quadrado de terra
indígena.”
Figueiredo,
no entanto, admite que o embarramento da usina causará impactos negativos para
a mobilidade dos índios no Rio Xingu. “Por isso, estamos dando atenção especial
à questão da transposição de embarcações [já que a vazão do rio será diminuída
com a obra]. Esse problema será solucionado com um sistema de elevação de
pequenos e médios barcos, de até 30 passageiros, que é o tipo de embarcação que
circula por lá, uma vez que o Rio Xingu não é um rio 100% navegável.”
A
Quinta Turma do TRF1 determinou, no início da semana, a paralisação das
obras de Belo Monte, ao identificar ilegalidades em duas etapas do processo de
autorização da obra, uma no STF e outra no Congresso Nacional.
Sabrina
Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A empresa
Norte Energia, responsável pela construção e operação da Usina Hidrelétrica de
Belo Monte, divulgou um comunicado hoje (16) manifestando preocupação com a
possível paralisação das obras determinada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF1). A empresa classifica a medida como inadmissível e diz que a
decisão vai trazer “consequências negativas e imprevisíveis” para a matriz
energética brasileira, com a necessidade de acionamento de termelétricas a
óleo, consideradas mais poluentes e mais caras do que a energia de Belo Monte.
Na segunda-feira (13), o
TRF1 votou pela suspensão imediata das obras de Belo Monte por descumprimento à
determinação constitucional que obriga a realização de audiências públicas com
as comunidades afetadas. O descumprimento da determinação significará multa
diária de R$ 500 mil para a Norte Energia.
A empresa informou que
ainda não foi notificada da decisão, por isso as obras não foram paralisadas.
Segundo a Norte Energia, se as obras de engenharia forem suspensas neste
momento, período de estiagem, pode haver risco de não serem concluídas a tempo.
Outro argumento apresentado é o desemprego de mais de 20 mil trabalhadores
envolvidos com a obra.
A empresa garante que
nenhuma terra indígena será diretamente afetada por Belo Monte e que as
comunidades indígenas da região sempre foram consultadas e suas opiniões
respeitadas na elaboração do projeto. “Esse processo foi determinante para que
os povos indígenas, por livre arbítrio, apoiassem Belo Monte, preservando seus
direitos, sua cultura, suas terras, rios e qualidade de vida. Belo Monte é o
primeiro empreendimento a ter um projeto básico ambiental específico para as
comunidades indígenas”, diz a nota da Norte Energia.
De acordo com o desembargador
Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que relatou o
processo que determinou a paralisação das obras, a liberação só vai ocorrer
depois que o Congresso Nacional realizar e aprovar a consulta às comunidades
afetadas. Os parlamentares também terão que editar um novo decreto legislativo
autorizando as obras em Belo Monte.
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