O
ex-ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos Paulo Vannuchi disse que a
confirmação da condenação do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) que
declarou como “torturador” o coronel da reserva Carlos Brilhante Ustra “vai
provocar consciência nova” e “abrir caminho para decisões”, no âmbito cível,
contrária a agentes do Estado acusados de seqüestro, tortura, estupro, morte e
desaparecimento de presos políticos e oponentes ao regime militar durante a
ditadura (1964-1985).
Os
desembargadores do tribunal, por 3 votos a favor e nenhum contra, resolveram
manter uma decisão tomada em 2008. Brilhante Ustra foi responsabilizado
pelas torturas cometidas no Destacamento de Operações de Informações - Centro
de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). O centro foi comandado por Ustra
entre setembro de 1970 e janeiro de 1974.
“Foi
uma demonstração de amadurecimento do Poder Judiciário e da opinião pública. O
Estado precisa se reencontrar com a plenitude da democracia e o Brasil com a
sua história”, declarou o presidente da Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa. Segundo ele, a decisão do TJSP
é “histórica” e “mais uma vez a Justiça manifesta a sua preocupação com relação
a crimes cometidos contra a humanidade”.
Para
a ativista Cláudia Grabois, da Rede Inclusiva – Direitos Humanos no Brasil,
ainda é preciso que, no Brasil, crimes como o de tortura sejam “sejam
apontados” e os responsáveis “exemplarmente punidos” e “presos”. Ela avalia que
a impunidade de torturadores contribui para o desrespeito aos direitos humanos
no Brasil (como no caso dos presídios). A ativista acredita que a decisão vai
repercutir na América Latina.
Cláudia
disse ainda que o Brasil está “atrasado” e precisa cumprir a sentença da Corte
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA),
que condenou o Estado brasileiro pela impunidade dos responsáveis pelo
desaparecimento de 70 pessoas na Guerrilha do Araguaia, na década de 1970.
“A
imagem do Brasil no exterior [por causa da impunidade de crimes contra os
diretos humanos] não é nada agradável”, ressalta Victoria Grabois, presidente
do Grupo Tortura Nunca Mais (Seção Rio de Janeiro). Ela lembra que há na
Justiça outras ações contra agentes acusados de atuar como torturadores durante
a ditadura militar como o coronel Lício Maciel e o major Sebastião Curió,
denunciados pelo Ministério Público Federal. Victoria é de opinião que setores
contrários à punição de torturadores venham se manifestar, como aconteceu no
mês passado na sede do Tortura Nunca Mais (no Rio) que foi invadido após
ameaças por telefone.
Apesar
de manifestações contrárias e de algumas resistências que sofreu quando
encampou o funcionamento da Comissão da Verdade na terceira edição do Plano
Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), o ex-ministro Paulo Vannuchi é otimista
e acredita que a opinião pública é favorável a decisões como a do TJSP. “É
preciso mais ações declaratórias como a de hoje. A impunidade foi quebrada”,
destacou.
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