A
Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e o Departamento
Internacional da Advocacia-Geral da União confirmaram uma decisão judicial na Corte Distrital de Nova Iorque que
garante a repatriação de valores depositados em conta bancária usada para o
envio ilegal de recursos para o exterior no caso Banestado. O valor a ser
restituído ao Brasil é de U$ 1,080 milhão (cerca de R$ 2,2 milhões). As investigações
tiveram origem no escândalo do Banestado, ainda em 2003, no qual estavam
envolvidos políticos tucanos e do DEM, entre eles o candidato a prefeito de São
Paulo José Serra e o ex-senador Jorge Bornhausen (antigo PFL).
Em
2005, os recursos foram bloqueados nos Estados Unidos em decorrência de um
pedido de cooperação jurídica internacional feito pelo governo brasileiro. Em
2010, o bloqueio caiu e a quantia foi transferida para o governo dos EUA, que
ajuizou ação judicial – denominada interpleader action – a fim de determinar a
quem caberia o montante. O pedido foi apresentado pelo Brasil no decorrer desta
ação. O livro Privataria Tucana, que acabou se tornando um best seller, do
jornalista Amaury Jr., traz detalhes sobre o caso.
Os
recursos seriam oriundos de três brasileiros que foram condenados em primeira
instância por evasão de divisas, formação de quadrilha e gestão fraudulenta.
Nos termos de sentença penal proferida pela 6ª Vara Federal de São Paulo, em
fevereiro deste ano, os três brasileiros estão envolvidos no escândalo
Banestado. A apuração do caso revelou a operação de uma rede de doleiros para o
envio ilegal de recursos para exterior no período de 1996 a 2005.
O
Governo brasileiro, por meio do Ministério da Justiça e da AGU, comprovou
perante a Justiça dos EUA que os ativos bloqueados em Nova Iorque,
anteriormente sob propriedade dos três brasileiros, constituem produto de
crimes praticados no Brasil e, por isso, deveriam ser repatriados. O secretário
nacional de Justiça, Paulo Abrão, ressaltou a parceria entre AGU e o Ministério
da Justiça para o êxito desta repatriação de ativos ilícitos.
–
Vamos continuar trabalhando para aperfeiçoar e ampliar estas iniciativas no
contexto de nossa estratégia de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro –
afirmou.
O
dinheiro ficará sob a custódia da 6ª Vara Federal de S. Paulo até o julgamento
do recurso interposto pelos réus. A repatriação é produto da atuação conjunta e
coordenada pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional da Secretaria Nacional de Justiça e Departamento Internacional da
Procuradoria-Geral da União, perante os órgãos administrativos e judiciais
estadunidenses.
Dossiê do Banestado
O
esquema de lavagem de dinheiro que envolveu políticos como Serra e
Bornhausen consta de relatórios da Polícia Federal, com comprovantes de ordens
de pagamento e registros de movimentações financeiras do esquema de lavagem de
US$ 30 bilhões por meio da agência bancárias do Banestado de Foz do Iguaçu (PR).
Um dos principais documentos é o dossiê AIJ 000/03, de 11 de abril de 2003,
assinado pelo perito criminal da Polícia Federal Renato Rodrigues Barbosa – que
chegou ao então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com um carimbo de
“confidencial”. “O perito e o delegado José Francisco Castilho Neto
identificaram pessoas físicas e jurídicas que estariam usando o esquema de
remessa de dinheiro do Brasil para o exterior”, publicou a revista semanal de
direita Época, em reportagem datada de 2003.
Consta
no dossiê AIJ000/03 o nome de José Serra, o mesmo do então ministro da Saúde e
hoje candidato à prefeitura paulistana. “O AIJ004 aponta apenas S. Motta, que
os policiais suspeitam ser o ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta, que já
morreu. O dossiê AIJ001 mostra transações financeiras do senador Jorge Konder
Bornhausen, presidente nacional do PFL, e do seu irmão Paulo Konder Bornhausen.
Já o dossiê AIJ002 aponta o nome do empreiteiro Wigberto Tartuce, ex-deputado
federal por Brasília”, lembra a reportagem.
“No
caso de José Serra, há extratos fornecidos pelo banco americano JP Morgan
Chase. O nome do ex-ministro, que segundo relatório dos policiais pode ser um
homônimo, surge em uma ordem de pagamento internacional de US$ 15.688. O
dinheiro teria saído de uma conta denominada ‘Tucano’ e sido transferido para a
conta 1050140210, da empresa Rabagi Limited, no Helm Bank de Miami, nos EUA.
Serra é apontado como o remetente dos recursos. Isto seria uma indicação de que
ele teria poderes para movimentar diretamente a conta Tucano. Entre 1996 e
2000, essa conta recebeu US$ 176,8 milhões, segundo a PF”, acrescentou.
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