Os
procuradores da República em Goiás Léa Batista de Oliveira e Daniel Rezende,
responsáveis pelos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia
Federal, reafirmaram hoje (21) em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) do Cachoeira, que a organização criminosa que seria chefiada
por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem caráter mafioso e cooptou
agentes do Estado para manter suas atividades.
“O
certo é que a operação desvelou uma máfia, uma sociedade bem estruturada, mais
lucrativa que uma grande empresa. Um grupo profissionalizado, estável,
permanente e habitual, montado para o cometimento de crimes de natureza grave.
A sua existência por mais de uma década foi suficiente para montar uma estrutura
estável e entranhada no seio do Estado”, disse Léa Batista.
“Uma
organização criminosa armada, complexa e com característica mafiosa. O
principal traço dessa organização é o código do silêncio orquestrado. A postura
dessa organização criminosa, decorrente de um código de silêncio, é típico das
organizações criminosas com objetivo de escudar a organização e seus membros. O
código está bem claro aqui na CPI e na Justiça Federal”, acrescentou.
Segundo
Daniel Rezende, existiram dificuldades nas investigações, porque a própria
legislação brasileira é deficitária no que diz respeito ao enquadramento de
organizações criminosas complexas.
“Não
é uma investigação voltada para o solitário social e o criminoso individual.
Estamos tentando construir determinadas teses para que possamos desenvolver o
trabalho de enfrentamento de organizações criminosas infiltradas no seio do
Estado. O Estado se torna muito mais vulnerável quando essas organizações se
infiltram, principalmente quando é na área da segurança”, frisou o procurador.
Rezende
ponderou que o uso de escutas telefônicas nas operações ocorreu devido ao fato
da organização criminosa ter cooptado policiais e outros agentes do Estado.
“Com essa cooptação dos agentes do Estado, ficou mais difícil o trabalho de
campo, por isso o uso das interceptações telefônicas”, disse.
Os
procuradores também relataram aos integrantes da CPMI que sofreram ameaças em
decorrência ao trabalho que desempenham no caso. Léa Batista relatou a
tentativa de uma mulher entrar em seu apartamento às 5h45 e um episódio em que
um dos seguranças identificou uma marcação no veículo usado por ela.
“Tivemos
que alterar totalmente a nossa rotina e isso faz com que nossas famílias passem
a absorver. Não é segurança para nós, membros do Ministério Público, mas também
para nossas famílias”, disse Rezende.
O
procurador ressaltou que todo o trabalho desenvolvido pelo Ministério Público
Federal (MPF) ocorre de forma técnica e “sem paixões”.
“Nosso
trabalho foi estritamente técnico, cumprindo o nosso dever, o que a
Constituição Federal nos delega, tentando representar e defendo a sociedade”,
disse o procurador.
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