Em seu livro "The
Boy Kings", Katherine Losse fala sobre machismo, projetos secretos e a
rotina dentro da maior rede social do planeta
Katherine Losse ocupou
por três anos um cargo chave dentro do Facebook, a maior rede social do
planeta. Ela era gerente de internacionalização da companhia, além de ser a
pessoa responsável por publicar todos os anúncios oficiais do CEO Mark
Zuckerberg – o que lhe garantia acesso a informações confidenciais, como planos
de expansão da empresa e desenvolvimento de ferramentas que nunca efetivadas.
Com o crachá de número
51, ela começou em 2005 na empresa, ainda como funcionária do setor de
atendimento ao cliente, e em apenas um ano conquistou a confiança do jovem
executivo, que elogiava sua competência profissional e seu conhecimento
excepcional do inglês.
Depois de conhecer
como poucos os bastidores da empresa que se transformou numa das gigantes da
internet, Katherine decidiu contar a história – ou pelo menos parte dela – no
livro The Boy Kings: A Journey into the Heart of the Social Network, ainda não
traduzido para o português. Em entrevista exclusiva ao site de Veja, ela conta
como foi trabalhar com o jovem mais famoso do setor de tecnologia, além de
falar sobre alguns segredos da empresa, como o recurso que criava perfis de
pessoas que não estavam cadastradas na rede.
Rotina de trabalho - Gente
excêntrica e muitas festas? Sim. A imagem que as pessoas fazem do ambiente de
trabalho nas empresas de tecnologia e internet corresponde a parte da realidade
no caso do Facebook. No livro, Katherine conta que alguns dos engenheiros
usavam rip sticks, skates de duas rodas, para se locomover entre os
departamentos. E isso era algo que não espantava os demais funcionários.
“Trabalhei com vários jovens com comportamento infantil, mas nós nos dávamos
bem como colegas.
O importante era
concentrar os esforços no crescimento do site e fazer as coisas funcionarem de
forma eficiente”, diz. Fora da empresa, as festas eram comuns, e muito parecidas
com as das universidades. A outra parte do trabalho era pura rotina, como em
qualquer empresa. “Eu chegava às 10h e abria o expediente com e-mails sobre o
site ou qualquer outro assunto que precisasse de atenção. Trabalhava até
resolver todos os problemas, o que acontecia lá pelas 19h.”
O rei da rede - No
livro, Katherine descreve Mark Zuckerberg como uma pessoa introspectiva e
extremamente dedicada ao trabalho. “Ele é quieto, se concentra muito na
construção do Facebook e na realização das suas ideias”, diz. Segundo a autora,
Zuckerberg também é um pouco mais calmo do que a sua versão apresentada no
filme A Rede Social. “Ele gosta de se socializar algumas vezes, aos finais de
semana, mas há ocasiões onde é visível a sua preferência pelo trabalho.”
Para a autora, a
recente queda no preço das ações da companhia, em julho, não está ligada à
imagem de Zuckerberg – que foi amplamente criticada por analistas financeiros
–, e sim às dificuldades da empresa em atender às altas expectativas do
mercado.
Ambiente machista - No
dia do aniversário de 22 anos de Zuckerberg, em 2006, a autora conta que todas
as mulheres do escritório foram obrigadas a usar camisetas estampadas com a
imagem de seu chefe. Os homens deveriam apenas usar sandálias da Adidas. “O
código sexual ficou claro: mulheres deveriam mostrar sua dedicação ao Mark,
enquanto que os homens deveriam se tornar o Mark”, diz o trecho do livro. A
passagem reflete uma companhia composta principalmente por jovens engenheiros.
As poucas mulheres estavam restritas à área de atendimento ao cliente.
“Não acho que ele
realmente queria essa imagem de fraternidade universitária para a companhia,
mas foi o que aconteceu – por algum tempo”, afirmou a autora na entrevista a
Veja. “Os engenheiros ditavam o tom de forte influência masculina na empresa.
Talvez isso esteja mudando hoje, com a chegada de mais mulheres em postos
importantes dentro do Facebook.”
Privacidade - Katherine
conta que, em 2006, os engenheiros da rede criaram um recurso experimental
chamado “Dark Profiles”, capaz de criar perfis secretos para pessoas que não
estivessem cadastradas no Facebook. O sistema coletava nomes e imagens em fotos
com tags, criando um pequeno banco de dados. Caso a pessoa resolvesse entrar no
site, ela já teria um perfil pré-montado. “Por trás dos panos, a maioria das
companhias na área de tecnologia recolhem esses dados de qualquer um que
utilize seus serviços”, afirma a autora.
Outro exemplo citado
no livro sobre as ideias malucas que ja fizeram parte dos mentores do site é a
existência de uma senha mestra, capaz de acessar qualquer perfil na rede, com
direito à alteração e remoção de informações. Katherine diz que essa é uma
ideia que ficou no passado, não faz mais parte do sistema. “Esse recurso foi
abolido do site, e não existe mais.”
Vinda ao Brasil - Ainda
acordo com o livro, em 2009, o CEO do Facebook quase desistiu de uma viagem ao
Brasil para divulgar a empresa porque ficou em dúvida se a empreitada valeria o
esforço. Zuckerberg tinha uma preocupação exagerada com segurança. Ele temia
sobretudo ser alvo de um sequestro. Só concordou com a viagem ao cercar-se de
uma poderosa equipe de guarda-costas formada por ex-militares – incluindo um
soldado americano que serviu no Iraque e um segurança que atuou na guarda
pessoal da cantora Britney Spears. Katherine entende que o investimento faz
sentido para um executivo na posição de Zuckerberg. “Muitas pessoas nos Estados
Unidos têm a percepção de que o Brasil é um lugar perigoso. Provavelmente essa
foi a justificativa para a busca de tanta segurança”, disse.
A saída - A
decisão de deixar seu cargo dentro Facebook foi difícil para Katherine. Ela
escreve que, a partir de 2009, a rede social começou a se dedicar inteiramente
à obtenção de dados dos usuários. A cultura de unir as pessoas se perdia dentro
de tantas oportunidades financeiras, que dependiam da oferta de dados
intimamente relacionados à privacidade dos usuários. Por fim, em 2010, ela
decidiu abandonar Zuckerberg e sua equipe. “Eu queria explorar outras
oportunidades, e por isso eu saí”, argumenta com diplomacia.
The Boy Kings: A
Journey into the Heart of the Social Network
O livro conta detalhes
de bastidores do Facebook, a maior rede social do planeta. A autora revela
segredos da empresa e fala do machismo no ambiente de trabalho.
Autor: Katherine Losse
Editora: Free Press
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