De uma hora para outra, os paulistanos descobriram que existem sérios
problemas no funcionamento do metrô, responsabilidade do governo do
Estado, assim como ficamos sabendo que há um esquema de corrupção
montado há anos para a liberação de imóveis na Prefeitura.
O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e o prefeito Gilberto Kassab,
do PSD, agora unidos no apoio ao tucano José Serra na sucessão municipal
(os dois se enfrentaram na eleição de 2008), raramente aparecem no
noticiário, a não ser em inaugurações de obras e articulações políticas.
É como se São Paulo fosse uma ilha de paz e beleza, onde tudo
funciona e o povo vive feliz, cercada por um país chamado Brasil, cheio
de problemas e sempre em crise.
Depois de várias paralisações e transtornos nas últimas semanas, o
grave acidente do Metrô na quarta-feira, que deixou mais de 100 feridos,
revelou o descaso da administração estadual, que reduziu, ao invés de
aumentar, os investimentos no sistema.
Reportagem da Folha desta quinta-feira denuncia que, de 2010 para
2011, o governo reduziu em 20,4% os recursos ( de R$ 236 milhões para R$
188 milhões) destinados à manutenção da Linha 3 - Vermelha, onde ocoreu
o acidente, que transporta 41% dos passageiros de toda a rede.
Como já me alertava um dos técnicos responsáveis pelo controle de
tráfego do Metrô, em encontro com amigos no final do ano passado, o
Metrô paulistano estava à beira de entrar em colapso, não só pela queda
dos investimentos em manutenção, mas também pela implantação atabalhoada
de um novo sistema automático.
A falha técnica, apontada como causa do acidente em que dois trens se
chocaram na zona leste, é apenas consequência da relapsa administração
do Metrô paulistano, também envolvida em denúncias de desmandos e
irregularidades nas licitações. Pequenos acidentes são comuns e nós nem
ficamos sabendo, disse-me o técnico.
Como se não fosse com ele, bem ao estilo tucano, o governador Geraldo
Alckmin desandou a falar de investimentos numa nova linha do Metrô na
zona norte, a Linha 6 - Laranja, no mesmo momento em que eram recolhidos
os feridos entre as estações Penha e Carrão. Alckmin mandou ao local
seu secretário dos Transportes, Jurandir Fernandes, e continuou
calmamente dando entrevistas sobre os seus planos.
Na mesma semana em que os paulistanos descobriram a gravidade da
situação do Metrô, multiplicam-se as denúncias sobre o esquema montado
na Secretaria Municipal de Habitação por Hussain Aref Saab, homem de
confiança de Kassab e Serra, ex-diretor responsável pela liberação de
construções de imóveis em São Paulo, que construiu um patrimônio de mais
de R$ 50 milhões nos últimos sete anos em que comandou o setor.
Um grupo do Ministério Público de São Paulo especializado em lavagem
de dinheiro agora abriu inquérito para investigar a origem dos bens de
Aref, que comprou 106 imóveis de 2008 para cá, com um salário bruto de
R$ 9 mil.
Mais do que a evidente suspeita de corrupção em larga escala e por
tempo prolongado, são incalculáveis os prejuízos causados à cidade pela
liberação de obras em áreas de preservação, fora dos limites impostos
pela legislação, que causam novos problemas ao já caótico trânsito
paulistano.
Os repórteres Rogério Pagnan e Evandro Spinelli, da Folha, que
revelaram o escândalo mantido, aparentemente, em segredo de Justiça pela
Corrgedoria Geral do Município, acionada por Kassab depois de receber
uma denúncia anônima contra Aref, em fevereiro, a cada dia trazem novas
revelações sobre o esquema.
A mais estarrecedora até agora é que Aref recebeu de graça seis
apartamentos num prédio em frente ao Parque do Ibirapuera como pagamento
por serviços de consultoria prestados por sua empresa, a SB4.O problema
é que o contrato é de 2006 e a empresa só foi criada dois anos depois.
Na verdade, houve uma troca. O ex-diretor ganhou os apartamentos como
pagamento para liberar o funcionamento do centro de convenções WTC,
processo que estava parado há mais de um ano, empresa dos mesmos donos
da construtora que lhe deu os apartamentos.
Com Kassab e Alckmin em apuros, a conta vai sobrar para a campanha de
José Serra, que reage olimpicamente diante destes fatos, como se não
tivesse sido prefeito e governador de São Paulo até recentemente.
Em campanhas eleitorais, aparece sempre o imponderável. A quatro
meses e meio da abertura das urnas eletrônicas, os apuros de Alckmin e
Kassab podem influenciar negativamente na campanha do favorito José
Serra, assim como, no Rio, as fotos da farra de Sergio Cabral com
Fernando Cavendish em Paris certamente não ajudam seu candidato, o
também favorito Eduardo Paes.
Que novas surpresas nos aguardam?
Via Blog de Ricardo Kotscho Fonte
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