Por: Ueber José de Oliveira* Fonte
A
partir de meados deste primeiro semestre, como é de praxe, se acentuaram as
movimentações em torno do processo eleitoral que ocorrerá no segundo
semestre de 2012. E chama atenção as pressões por parte do atual
Prefeito da Capital, João Coser (PT), e de seu grupo político para que a
candidata do seu próprio partido, a ex-ministra Iriny Lopes, desista da
disputa em prol da chamada geopolítica do ex-governador Paulo Hartung
(PMDB), que resolveu lançar seu nome especialmente após pesquisas
demonstrarem que, desde o término de seu mandato de governador, vem
perdendo popularidade, o que foi associado ao fato de não ocupar nenhum
cargo eletivo.
Pensando sobre o assunto, me veio imediatamente na memória um passado
não muito distante, os idos de 1992. Naquele ano, o então Prefeito de
Vitória, Vitor Buaiz (PT), ao ser preterido da sua preferência de
indicar o então Vice-Prefeito Rogério Medeiros (que foi derrotado nas
prévias para João Coser), acabou apoiando, mesmo que timidamente, o
então candidato tucano, Paulo Hartung, que também era aliado de Vitor na
Prefeitura desde o pleito de 1988.
À época, tal posicionamento de Vitor foi considerado uma afronta às
diretrizes partidárias, quase uma heresia! Diante do seu posicionamento,
Buaiz foi advertido pelos Diretórios estadual e nacional do PT e sofreu
sanções diversas, além de relativo desgaste político interno à sigla. O
maior crítico da postura de Vitor foi justamente João Carlos Coser.
Apesar disso, Buaiz terminou a sua administração com 82% de
aprovação. Todavia, apesar da aprovação quase unânime por parte da
população de Vitória, Buaiz não conseguiu fazer seu sucessor. Como
afirmaria ele mesmo anos mais tarde, o tempo ajudaria a compreender a
grande lição: “o povo não perdoa os dirigentes que não se entendem…”.
Sem mencionar as últimas eleições nos planos nacional e estadual, isso
aconteceu em Vitória com o PT em 1992, se repetiu com o PSDB em 2004 e
me parece que Coser não aprendeu a lição.
Vários fatos demonstram este déficit de aprendizado de Coser desde
então. Uma delas foi quando Buaiz assumiu o governo do estado, em 1995,
após ter costurado uma aliança bastante ampla, à época também
considerada espúria, ante às dificuldades petistas de, sozinho, vencer o
pleito de 1994, especialmente em se tratando daquela disputa
específica, muito delicada por conta do fenômeno eleitoral com o qual o
candidato petista concorreu, o ex-deputado Dejair Camata. A não
composição com forças políticas fora do espectro político da esquerda,
fatalmente redundaria na vitória de Cabo Camata e os capixabas sabem,
especialmente os cariaciquenses, as conseqüências nefastas que isso
poderia acarretar ao Espírito Santo.
É bom lembrar o papel do então Deputado Federal João Coser nos
primeiros meses do governo petista no Espírito Santo. Por um curto
período, ele foi importante liderança do PT tanto nas esferas federais
quanto estaduais, e até articulou com maturidade a aprovação de alguns
projetos de interesse do Vitor, mesmo sendo a maioria de parlamentares
da oposição.
Todavia, passado alguns meses, a bancada petista na Assembléia, em
parceria com Coser, passou a atacar incisivamente o Governo Vitor,
criticando especialmente o tratamento aos aliados. Talvez seja por isso
que a direção nacional do PT avalie, até hoje, que, no governo do
Espírito Santo, pela imaturidade, o Partido teria chegado ao poder
antes da hora!
Assim como ocorrera em 1992, mais uma vez o PT pagou caro pelos desentendimentos intra-partidários: o fracasso nas urnas.
Depois de 1997, já sob o comando da tendência de Coser – a
Articulação de Esquerda – o PT se fragilizou muito eleitoralmente. Em
1998, teve um desempenho muito ruim, pois, além de não ter conseguido
lançar candidatos nas eleições majoritárias, elegeu apenas 1 (um)
deputado estadual e 1 (um) federal (o próprio Coser). Em 2000, nas
eleições locais, teve um rendimento ainda pior, não conseguindo eleger
nenhum prefeito. A recuperação do Partido no Estado só veio a ocorrer em
2002, com a chegada de Lula ao poder da República.
Voltando ao atual posicionamento de João Coser no quadro sucessório
da capital. As articulações ora em curso apresentam algumas
similaridades em relação a 1992. Uma delas, é que o mesmo João Coser que
atacou duramente a posição de Vitor ao apoiar o grupo de Paulo Hartung,
que fez ferrenha oposição ao Governo petista à frente do Estado por
conta da mesma situação, agora rejeita a candidatura da Ministra Iriny
Lopes, do seu próprio partido, dividindo o PT da Capital em prol do
mesmo Paulo Hartung.
É evidente que o cenário como um todo é bastante distinto. O PT já
não é mais o mesmo, e devemos admitir que João Coser não desenvolveu,
nem de perto, uma administração bem avaliada tal como a de Buaiz. Mas
tal como ocorrera em 1992, com o posicionamento do atual Prefeito João
Coser, a capital capixaba fatalmente cairá nas mãos das mesmas forças
políticas de 1992, além de deixar numa situação embaraçosa a Ministra
Iriny Lopes, que não se pode negar, é um nome de peso da política
capixaba e absolutamente viável eleitoralmente na capital.
A última movimentação da direção estadual do PT, na pessoa de José
Roberto Dudé, busca emplacar a falsa idéia segundo a qual a manutenção
da candidatura de Iriny é decorrente de uma postura arrogante e que a
candidatura não possui musculatura para emplacar. Diante desse fato,
pergunto: e a bravata de Coser e seus aliados em impedir a qualquer
custo à legítima candidatura da ex-ministra, na base da tratoragem, não é
arrogância? E João Coser, quando insistiu em passar por cima da decisão
do ex-Prefeito Vitor Buaiz, tinha condições de vencer o pleito?
Coser e Cia não perceberam que, tal como ocorrera em 1992, a postura
equivocada de Buaiz contra Coser, que ele mesmo vem repetindo em relação
à Iriny, certamente encadeará outros problemas para além do município
de Vitória, com repercussões muito mais profundas, o que mais uma vez
custará caro ao PT capixaba, que demorou 12 anos para retornar ao
comando da capital, fato ocorrido somente em 2004. Nesse sentido,
estamos acompanhando a materialização de uma observação, quase uma
profecia, feita por alguém há muito tempo atrás: a “história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
Ueber José de Oliveira* -Doutorando em Ciência Política – Ufscar -Mestre em História Social das Relações Políticas – UFES.Email: ueberoliveira@yahoo.com.br
Título original: O processo sucessório em Vitória-ES: a história como tragédia e a sua repetição como farsa
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