Organizações ambientalistas internacionais afirmam
que o Brasil pode estar perdendo a liderança no movimento ecológico
global, depois que a Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira um
novo texto que altera o Código Florestal brasileiro.
Representantes da
WWF e do Greenpeace em Londres disseram que o Brasil sempre foi visto
como um dos países mais ativos na promoção de ideias ambientais em
fóruns internacionais, como as reuniões sobre mudanças climáticas da
ONU. Mas, a aprovação do texto do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) pode
provocar uma mudança nessa percepção.
O texto ainda precisa ser apreciado pela presidente Dilma Rousseff,
que pode vetá-lo na íntegra ou parcialmente. Neste caso, a proposta
volta para o Congresso, que pode fazer alterações ou derrubar o veto.
'Choque'
Entre os pontos mais polêmicos do parecer de
Piau está a questão da anistia a produtores que desmataram florestas nas
proximidades de rios.
O texto afeta os proprietários de terra que
desmataram os 30 metros das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas
margens de rios de até 10 metros de largura, segundo as normas
estabelecidas em 1989. Eles ficam liberados da obrigação de recuperar
totalmente a área degradada. De acordo com o texto aprovado por 274
votos a 189, os proprietários que infringiram tais regras terão de
replantar apenas 15 metros.
"É um choque estarem alterando o Código
Florestal que protege a floresta amazônica. Com a proximidade da Rio+20,
isso bota muita pressão sobre a presidente Dilma Rousseff. Será muito
difícil para ela se apresentar como defensora do ambiente" - Sarah Shoraka, ativista especialista em florestas do Greenpeace
do Reino Unido.
"Durante a campanha ela [Dilma Rousseff] havia
dito que não apoiaria nenhuma legislação que aumentasse o desmatamento e
que desse anistia a criminosos, mas a proposta atual faz exatamente
essas duas coisas. Agora é tudo uma questão da credibilidade dela, e o
quanto ela está disposta a mudar", disse.
Para a diretora de Florestas da WWF no Reino Unido, Sandra Charity, a
comunidade internacional está "perplexa" com a votação da quarta-feira
no Congresso brasileiro.
"O Brasil tem uma trajetória de país moderno,
que sempre esteve na liderança dos compromissos ambientais tendo em
vista a sua posição na Conferência de Mudanças Climáticas de Copenhague
[2009]. O país sempre esteve na frente e puxando os outros países. A
aprovação deste texto é um retrocesso", disse ela.
A representante da WWF ressalvou que o texto foi
aprovado no Congresso, e não pela Presidência, mas que mesmo assim a
medida tende a respingar na imagem do governo e do país como um todo.
“Agora é tudo uma questão da credibilidade dela [Dilma],
o quanto ela está disposta a mudar” Sarah Shoraka,
do Greenpeace em Londres
'Legado de Lula'
Tanto a WWF e o Greenpeace dizem que o governo
de Dilma Rousseff parece estar menos comprometido com ideias
ambientalistas do que o do ex-presidente Lula.
"Nós estávamos acostumados com um Brasil que era
líder no front ambiental. O ex-presidente Lula anunciou metas
ambiciosas de redução de CO2 na em Copenhague", disse Shoraka.
"Existe um descompasso entre o que a sociedade como um
todo está esperando e pedindo e o que os dirigentes que fazem as leis
estão decidindo." - Sandra Charity, da WWF em Londres
Questionada se Dilma é menos preocupada com o ambiente do que Lula,
afirmou: "Esta começando a dar essa impressão. O Código Florestal é o
primeiro teste, mas se você olhar para outras tendências, como a
aprovação de grandes hidrelétricas ou estradas sem os estudos de impacto
ambiental corretos. É possível notar um padrão de valores ambientais se
degradando no Brasil. Internacionalmente as pessoas estão de olho na
Dilma agora. É o momento para ela provar que vai levar adiante o legado
de Lula."
Durante as discussões do Código Florestal, Dilma
deu indicações de que vai vetar os pontos mais polêmicos da nova
legislação, como a chamada "anistia" ao desmatamento às margens dos
rios.
As duas entidades acreditam que a votação não
reflete necessariamente uma derrota do movimento ambientalista no
Brasil. Para a WWF e o Greenpeace, a aprovação do texto é mais um
reflexo de que o Congresso não estaria acompanhando a opinião pública.
"Vai pegar muito mal nessas grandes conferências
internacionais que o Congresso brasileiro acaba de aprovar uma lei que é
quase mais permissiva do que o primeiro Código Brasileiro, de 1934",
disse Charity.
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