Por
Luis Nassif,
Para
entender a atual enxurrada de escândalo é necessário se debruçar sobre dois
fenômenos: a estrutura das grandes organizações e o modelo político geral (e,
em particular, o modelo brasileiro).
Um
dos grandes desafios das grandes organizações são os sistemas de controle.
Houve grandes avanços na gestão privada, desde as experiências da Toyota, os
avanços das empresas de software. A informatização das empresas permitiu alguma
forma de controle.
Mas
duas áreas são de controle quase impossível: uma, a área de contratas, dada a
extrema diversidade das atividades com a explosão da terceirização; outra, o da
compra dos chamados bens intangíveis, como consultoria ou sistemas de software.
Especialmente
multinacionais maiores e mais antigas – como Nestlé e IBM – acabaram se enredando
em sistemas de controle do controle do controle. Dia desses conversávamos – um
funcionário da Nestlé e o presidente do conselho de uma grande empresa
brasileira – e o executivo brasileiro ficou escandalizado com o que chamou de
"disfuncionalidade" do modelo multinacional.
Esse
mesmo padrão se reflete nas grandes organizações públicas, seja a União, o
estado de São Paulo ou Minas, as grandes regiões metropolitanas.
***
E
Aí se entra no segundo ângulo da questão.
Estados
modernos precisam de burocracias estáveis. O fato de ser estável e concursado,
no entanto, não é garantia de isenção partidária. Tanto nas grandes
organizações privadas quanto públicas, há uma tendência de organização de
grupos internos se digladiando pelo poder.
Além
disso, cada presidente ou governador ou prefeito eleito – aqui ou em qualquer
outro país democrático – tem o direito de compor parte da sua equipe com
assessores de fora da máquina pública.
***
Por
outro lado, todo partido político tem sistemas de aliança com grandes
fornecedores, empresas e pessoas com interesse econômico direto no Estado.
Principalmente devido ao problema do financiamento de campanha.
***
Nesse
ambiente, há que se separar duas atitudes, ambas reprováveis, mas que fazem
parte dos usos e costumes da política.
É
evidente que todo aliado que assume o poder em um Ministério ou autarquia têm a
firme intenção de auxiliar seu partido, ajudando a montar alianças com grupos
econômicos, beneficiando regiões políticas e abrindo espaço para financiamento
eleitoral.
O
modo, por assim dizer, legítimo de atuar é, nas concorrências, dar preferência
aos aliados sem atropelar as regras do jogo e beneficiando exclusivamente o
partido.
Os
modos condenáveis seriam as jogadas em cima de brechas pouco claras e as
manobras de enriquecimento pessoal.
Vicejam
em Brasília e nas principais capitais uma figura misteriosa, o chamado operador
do Estado, o sujeito que conhece as entranhas do Estado, as maneiras de burlar
contratos, favorecer aliados. Não se trata de um ser partidário, mas do lobista
que serve a qualquer senhor.
***
Qualquer
uma dessas práticas enfraquece a democracia. E exigirá mudanças nos costumes,
devido ao advento da Internet e da explosão das informações.
As
parcerias partidárias - 1
Cada
partido tem seu conjunto de parceiros, que leva para os diversos estados que
controla. Uma das áreas em que o jogo de favores é mais ampla é na de serviços
terceirizados. Em Brasília, o predomínio é do senador Eunício Oliveira, dono de
grandes empresas de terceirização. Em São Paulo, da Tejofran e outras, que
praticamente dominam as licitações do Estado há pelo menos 16 anos.
As
parcerias partidárias – 2
Quando
oposição, o PT só podia se valer de empresas municipais, em geral atuando em
transportes municipais ou de limpeza. Quem é poder federal prescinde desse
varejo. Mas quando se analisam as empresas que operavam no Distrito Federal, na
gestão José Roberto Arruda, praticamente todas elas atuavam tanto em São Paulo
quanto no Rio Grande do Sul, assim como as empresas de merenda escolar
denunciadas em São Paulo.
Providências
– 1
A
primeira providência de um governante precavido, especialmente nos modelos de
coalisão partidário como o brasileiro, é montar sistemas eficientes de
informação sobre os indicados. Antigamente cada Ministério tinha seu sistema de
inteligência para esse primeiro filtro. Depois, foi abandonado por ser
controlado em geral pelos serviços de segurança. Há que se remontar a
informação.
Providências
– 2
O
segundo grande desafio será redefinir as formas de barganha partidária. Cada
vez mais haverá menos espaço para esse tipo de compartilhamento do poder.
Antigamente as denúncias ficavam restritas a quem a velha mídia pretendia
atingir. Fala-se muito da União, pouco de São Paulo. Com o avanço da
blogosfera, essa barreira deixou de existir. O caso Paulo Preto é emblemático.
Providências
– 3
Por
isso mesmo, a manutenção desse modelo está se tornando cada vez mais
disfuncional, ameaça para todas as pontas. Com os novos modelos de gestão, criando
indicadores cada vez mais detalhados, reduz-se mais ainda o espaço de manobra
para esse jogo. Se se instituir o financiamento público de campanha, se tirará
o último oxigênio desse modelo espúrio. É um tema que merece prioridade total
do parlamento.
Providências
– 4
Outro
ponto dos mais relevantes é a mudança na lei 8666, das licitações. Foi
instituída em 1992, como resposta à CPI do Orçamento. Com o tempo, engessou
completamente o orçamento público e permitiu a expansão do golpe dos aditivos.
Monta-se a licitação. O apadrinhado joga um preço mais baixo que os demais e
leva. No decorrer do contrato, "descobre-se" que o projeto executivo
era falho e permitem-se aditivos.
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