No ano
passado, quando foi apresentado e aprovado na Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj) proposta que proíbe manifestantes de usarem máscaras, de autoria dos
deputados Paulo Melo (à esq.) e Domingos Brazão, do PMDB, não foram poucas as
vozes que se levantaram contra; "Esse projeto de lei é
inconsequente", disse o deputado Marcelo Freixo (Psol); até o cantor
Caetano Veloso posou de black bloc, em defesa dos rostos cobertos; hoje, após a
morte do cinegrafista da Band Santiago Andrade, fica a pergunta: a tão
mencionada "liberdade individual" dos mascarados, citada pelos
críticos, deve mesmo prevalecer?
Leia também:
A morte do
cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, traz de
volta a discussão sobre a possibilidade de tornar mais rígida a política de
segurança contra mascarados em manifestações. O profissional, que filmava um
protesto contra o aumento de passagem de ônibus no Rio, na quinta-feira 6, foi
atingido na cabeça por um rojão, disparado por alguém de rosto coberto, e teve
morte cerebral confirmada no início desta tarde.
O debate sobre
o assunto veio à tona pela primeira vez no ano passado, depois das
manifestações de junho, quando o movimento Black Blocs causou milhões de reais
em prejuízo com suas destruições do patrimônio público e privado em diversas
cidades. Desta vez, a violência do grupo trouxe uma consequência mais grave:
levou uma pessoa inocente, que trabalhava no protesto e tinha mulher, filha e
enteados, à morte.
Em agosto,
quando foi apresentada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a
proposta que proíbe usar máscaras em protestos, de autoria dos deputados Paulo
Melo (PMDB), presidente da Alerj, e Domingos Brazão, líder do PMDB, não foram
poucas as vozes que se levantaram contra.
O deputado
estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), que ontem foi ligado a um membro do Black
Bloc, segundo uma manifestante identificada como "Sininho",
classificou o projeto como um "grande equívoco, que poderá aumentar
o conflito entre manifestantes e a polícia". Ele lembrou que a Justiça já havia
autorizado a identificação de mascarados. "Esse projeto de lei é
inconsequente", resumiu.
"É
inconstitucional o Estado não poder legislar sobre liberdade individual",
disse na época o doutor em Ciência Política pela Universidade Federal
Fluminense e juiz de Direito João Batista Damasceno. Concorda com ele o
cientista político da PUC Ricardo Ismael. "É a reação desesperada contra a
pressão popular por melhorias em transporte, saúde e educação. Governantes
devem atender aos anseios do povo e zelar pelo patrimônio público e
privado".
Os autores do
projeto, que foi aprovado e sancionado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral,
em setembro, defendem, porém, que a intenção é acabar com o vandalismo
praticado por um pequeno grupo, sem proibir as manifestações. "Ninguém tem
a ilusão de que as manifestações irão parar. Nós queremos acabar com esse
pequeno grupo que vandaliza", declarou Brazão. "O anonimato só serve
para quem não pactua com a democracia", acrescentou Paulo Melo.
Na febre do
debate, até o cantor e compositor Caetano Veloso saiu em defesa dos mascarados.
Na página do Mídia Ninja no Facebook, ele apareceu com o rosto coberto por uma
camiseta preta, sob a legenda: "Caetano Black Block": "É uma
violência simbólica proibir o uso de máscaras. Dia 07 de setembro todos
deveriam ir as ruas mascarados". O post gerou uma série de críticas na
internet.
Nesta tarde,
os presidentes da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert),
Daniel Slaviero, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder,
e da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio (Arfoc),
Luiz Hermano, defenderam punição aos responsáveis pelo disparo do rojão que
atingiu e matou o cinegrafista da Band.
"Nós,
jornalistas de imagem, exigimos que as autoridades de segurança do estado do
Rio de Janeiro instaurem imediatamente uma investigação criminal para apurar
quem defende, financia e presta assessoria jurídica a este grupo de criminosos,
hoje assassinos, intitulados black blocs, que agridem e matam jornalista e
praticam uma série de atos de vandalismos contra o patrimônio público e
privado", diz trecho da nota emitida pela Arfoc.
A questão que
se coloca agora é: até quando vamos tolerar os que os críticos à proibição das
máscaras chamam de "liberdade individual" e ver acontecer a violência
e os prejuízos causados por black blocs? Afinal, a morte de Santiago Andrade
exige ou não uma legislação mais dura?
Do Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi