quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Conflitos de interesse de Trump podem violar a Constituição, dizem especialistas


José Romildo - da Agência Brasil

O plano do presidente eleito Donald Trump de se separar de seu império imobiliário mundial não atende aos padrões mínimos recomendados pelos órgãos éticos de vigilância. Se Trump insistir nesse plano, ele poderá violar a Constituição dos Estados Unidos (EUA) no seu primeiro dia no cargo, de acordo com estudiosos do direito ouvidos pela revista Time.

Em entrevista nessa quarta-feira, o presidente eleito anunciou que vai transferir o controle operacional da Organização Trump para seus dois filhos mais velhos - Eric e Donald Jr - a fim de ficar fora de novos negócios com parceiros estrangeiros. Ele disse também que evitará discutir assuntos da empresa e que vai nomear um conselheiro de ética independente para examinar novas oportunidades de investimentos, evitando com isso conflitos de interesse.

De acordo com a revista Time, Sherri Dillon, um dos advogados do presidente eleito, afirmou que Trump está voluntariamente renunciando ao controle gerencial da empresa que construiu porque "quer que não haja dúvidas do público americano de que ele está se isolando completamente de seus interesses comerciais". Entrevistados pela revista, estudiosos do direito afirmaram que essa decisão é insuficiente.

O certo seria, segundo eles, que o presidente eleito tomasse duas medidas para evitar conflitos de interesse. A primeira seria abrir mão (vender) de seus negócios em expansão pelo mundo. A segunda seria nomear um administrador independente para os negócios já consolidados, com o objetivo de criar uma "confiança cega" da população americana, e seguir os padrões de presidentes que o antecederam e que se afastaram de empresas particulares.

"Se ele não se desligar [dos negócios], estará violando a Constituição", disse Norman Eisen, ex-embaixador dos EUA na República Tcheca, que serviu como conselheiro de ética da Casa Branca no governo de Barack Obama, de acordo com a Time.

A publicação afirma que Trump, no entanto, resiste a essa opção, o que quebra décadas de tradição de presidentes dos dois partidos norte-americanos: o Democrata e o Republicano. Trump segue a interpretação de que está isento de leis que impedem os detentores de escritórios federais de lucrar com negócios governamentais. Os advogados de Trump alegam que se ele decidisse vender seus ativos, teria que dar um desconto acentuado.

Na entrevista dessa quarta-feira, Donald Trump deu a entender que as restrições legais não o atingem como presidente dos Estados Unidos. "Como vocês sabem, tenho uma situação sem conflito porque sou presidente". De fato, segundo a revista, a lei exime presidentes e vice-presidentes da exigência de seguir estatutos federais de conflitos de interesses. Mas a Time acrescenta que, ignorar os impasses éticos criados pelo seu vasto império de negócios colocará sombras sobre as ações como presidente.

A extensão dos potenciais conflitos de interesse da Trump é incerta, observa a revista.  De acordo com a Time, a Organização Trump é uma empresa de capital fechado e o presidente eleito rompeu  um precedente durante a campanha eleitoral, ao se recusar a divulgar as declarações de renda, o que proporcionaria uma visão mais completa de sua participação nas empresas.


Mas, conforme balanços financeiros de empresas, Trump parece ter ou controlar mais de 500 empresas em cerca de duas dezenas de países, incluindo uma série de nações que são atores geopolíticos importantes na esfera dos Estados Unidos.

Entenda como a inflação é calculada e como afeta a sua vida

A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2016 em 6,29%. O número ficou abaixo do teto da meta fixada pelo Banco Central, de 6,5%. Mas o que isso tem a ver com a sua vida? Qual é a influência desse número na prática? 

O IPCA é a inflação oficial do Brasil. Esse indicador mede o valor de todos os produtos que compõem a cesta de consumo do brasileiro.

Para medir a variação da inflação, entra de tudo na conta: gasolina, lazer, transporte, taxas, alimentação, escola e outros itens. Para chegar ao resultado final, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide os produtos em grupos e cada um deles tem peso diferente, de acordo com o que o brasileiro consome mais.

Mas ao contrário do que muita gente pensa, a inflação não é apenas um aumento dos preços dos produtos e serviços. Estes fatores são, na verdade, consequências da variação da inflação, segundo especialistas.

O aumento dos preços pode ser causado também por um problema em algum setor específico da economia, por exemplo, e não estar necessariamente vinculado à inflação. Seca, pragas e excesso de chuvas podem causar a alta dos preços de determinados produtos. Além disso, o excesso de procura por bens e serviços faz com que os valores aumentem.

Dinheiro em circulação
A inflação tem uma relação com a quantidade de dinheiro que circula na economia em determinado momento, com o aumento do acesso ao crédito, gastos do governo e crescimento desordenado dos meios de pagamento, de acordo com o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Ferreira.

Em qualquer lugar do mundo, segundo o economista, os governos determinam qual é o melhor índice de inflação, que acaba sendo um termômetro para a demanda de bens e serviços. Quando a inflação é superior ao aumento de salários, por exemplo, há perda de poder de compra da população assalariada. Quando o contrário acontece, com mais dinheiro no bolso, as pessoas demandam mais bens e serviços e sobrecarregam a economia.

“Em geral, quando a sociedade demanda em excesso bens e serviços, além do que é ofertado, gera-se preços inflacionados. É um fenômeno macroeconômico medido com uma metodologia, que leva em consideração renda de pessoas com entre 1 e 40 salários-mínimos”, explica.

Mas essa amplitude pode gerar uma grande dispersão no resultado final. “Uma pessoa que ganha, por exemplo, dez salários-mínimos, tem um perfil de consumo muito diferente de quem ganha 20 salários-mínimos. Os gastos com alimentação, transporte, moradia, saúde serão diferentes. Para compensar isso na metodologia, existe uma ponderação entre as variáveis consideradas.”

Para Ferreira, a dificuldade em entender a influência da inflação na vida de cada pessoa está na dissociação dos valores, porque os números levantados pelo IBGE são uma média e não o valor real. “Esse valor médio é o parâmetro do governo para a economia de acordo com estudos técnicos realizados pelo Banco Central”, complementa.

Meta
A meta da inflação é determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e cabe ao Banco Central orientar sua oferta de moeda e controlar o acesso ao crédito de acordo com esse limite. A meta permite uma margem para amortecer possíveis crises e choques de preço.

O especialista em finanças Marcos Mello diz que é preciso haver um esforço para conter a inflação e mantê-la em um nível baixo e controlado. “A principal ferramenta que o governo tem para isso é a taxa básica de juros”, explica. Mas a medida tem consequências para a economia. “Quando se mantém uma taxa elevada, o efeito que se pretende é diminuir a atividade econômica. Essa redução da atividade econômica ajuda a reduzir a inflação. O problema é que essa redução da atividade também gera desemprego e isso nos atinge mais diretamente”, pondera.

Saiba quais são os principais índices de inflação:

IPA – Índice de Preços no Atacado
INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor
IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo
INCC – Índice Nacional do Custo da Construção
CUB – Custo Unitário Básico
IPC – Índice de Preços ao Consumidor

Piso salarial dos professores terá reajuste de cerca de 7,5%, calculam entidades


Agência Brasil
O Ministério da Educação (MEC) deve anunciar amanhã (12) o índice de reajuste do piso salarial dos professores de 2017 que, de acordo com cálculos de entidades educacionais, deverá ser de aproximadamente 7,5%. Com isso, o menor salário a ser pago a professores da educação básica da rede pública deve passar dos atuais R$ 2.135,64 para um valor entre R$ 2.285 a R$ 2.298. Uma reunião com com representantes dos estados, municípios e trabalhadores para discutir o assunto está marcada para amanhã. O encontro chegou a ser cancelado, mas foi confirmado na noite de hoje (11).

O piso salarial dos docentes é reajustado anualmente, seguindo aa regras da Lei 11.738/2008, a chamada Lei do Piso, que define o mínimo a ser pago a profissionais em início de carreira, com formação de nível médio e carga horária de 40 horas semanais. Pela lei, o anúncio do reajuste deve ser feito sempre em janeiro. O ajuste deste ano deverá ficar 1,2 ponto percentual acima da inflação de 2016, que fechou em 6,29%.

A reunião é a primeira do ano do Fórum Permanente para Acompanhamento da Atualização Progressiva do Valor do Piso Salarial Nacional, criado em 2015 com o objetivo de discurtir formas mais sustentáveis de pagar os professores. O Fórum é composto por representantes do MEC e por entidades como o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Crise
Para estados e municípios, em um contexto de crise orçamentária, o reajuste vai pesar nas contas. “Hoje, no Brasil, a grande dificuldade dos estados é conseguir responder às obrigações correntes. Temos pelo menos 15 estados que estão apresentando dificuldade para pagar os salários correntes, alguns precisam de renegociação de dívida com o governo federal”, afirma o diretor institucional do Consed, Antônio Neto. “Os estados estão apresentando dificuldade a qualquer tipo de reajuste do servidor público. Essa questão está diretamente ligada à dificuldade na arrecadação”.

Nos municípios, a situação é semelhante. “Nos dois últimos anos essa questão foi bastante complicada para os gestores municipais. O piso tem crescido, desde a criação, em velocidade maior que a inflação e maior que o crescimento real do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]”, diz o presidente da Undime, Alessio Costa Lima. Segundo ele, os municípios deverão apostar na gestão e reorganização das redes de ensino para cumprir o pagamento mínimo. 

Para a CNTE, é preciso um esforço dos entes para garantir a qualidade da educação. “Precisa de muita determinação e muito compromisso com a educação por parte dos gestores públicos para entender que não vai ter educação de qualidade se não tiver professores e funcionários trabalhando com um salário decente. O reajuste deve ocorrer mesmo com toda a crise que possa estar acontecendo”, defende o presidente da confederação, Roberto Franklin de Leão.

Novas regras
Nem estados e nem municípios negam a importância do reajuste a da valorização dos professores, fundamentais para a melhoria da qualidade da educação. Os gestores defendem, no entanto, uma revisão da lei do piso, para que haja critérios de reajuste "mais factíveis" aos entes e que permitam um reajuste também para o restante da carreira.

A lei vincula o aumento à variação ocorrida no valor anual mínimo por aluno definido no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Pela lei, os demais níveis da carreira não recebem necessariamente o mesmo aumento. Isso é negociado em cada ente federativo.

“Defendemos o piso nacional, mas defendemos um mecanismo que seja compatível e tenha sustentabilidade financeira. Algumas possibilidades foram discutidas, mas o cenário econômico é outro e requer sentar à mesa e chegar a um reajuste compatível com a economia”, diz Lima. “Se não estabelecermos fontes claras de financiamento para que possamos organizar a educação do Brasil poderemos perder o bonde da história”, acrescenta Neto.

Já a CNTE defende a manutenção das regras atuais, que favorecem ganhos reais aos professores e a valorização desses profissionais. "De jeito nenhum vamos levar à reunião alguma proposta de mudança da lei”, diz Leão.

Valorização dos professores
Em 2009, quando a Lei do Piso entrou em vigor, o pagamento mínimo para professores passou de R$ 950 para R$ 1.024,67, em 2010, e chegou a R$ 1.187,14 em 2011. No ano seguinte, o piso passou a ser R$ 1.451. Em 2013, subiu para R$ 1.567 e, em 2014, foi reajustado para R$ 1.697. Em 2015, o valor era R$ R$ 1.917,78. Na série histórica, o maior reajuste do piso foi registrado em 2012, com 22,22%. No ano passado, o reajuste foi de 11,36%.

Apesar do crescimento, atualmente, os professores recebem o equivalente a 54,5% do salário das demais carreiras com escolaridade equivalente. A melhoria da remuneração dos professores faz parte do Plano Nacional de Educação (PNE), lei que prevê metas para a educação até 2024. Até 2020, os docentes terão que ter rendimento equiparado ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente.

Falta de dados
Não há oficialmente um levantamento que mostre com exatidão o valor da remuneração dos professores da rede pública no país, tanto nos estados, quanto nos municípios. No ano passado, a CNTE divulgou um levantamento no qual mostra que mais da metade dos estados brasileiros não cumpre o salário estipulado na Lei do Piso. Eram 14 os estados que pagam aos professores menos do que os R$ 2.135,64 por mês.

Para buscar mais transparência, o Ministério Público Federal assinou um acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para disponibilizar um sistema que estados e municípios possam informar o salário de cada professor. O cronograma para a implementação desse sistema vai até agosto de 2017.

Argentina e Venezuela investigam casos relacionados à Odebrecht

A justiça argentina recebeu, nesta quarta-feira (11), um pedido para investigar o chefe da Agência Federal de Inteligência (AFI), Gustavo Arribas, suspeito de ter recebido mais de meio milhão de dólares em propinas da Odebrecht, em 2013. O nome dele foi citado numa reportagem do jornal argentino La Nación, com base em documentos fornecidos a justiça brasileira pelo doleiro paulista Leonardo Meirelles, como parte de um acordo de delação premiada.

Segundo o La Nación, na documentação à qual teve acesso, Meirelles registrou cinco transferências para uma conta suíça do chefe da AFI, entre 25 e 27 de setembro de 2013. No total, foram transferidos US$ 594,518. O jornal tentou entrar em contato com Arribas, que está de férias com a família no Brasil, mas só conseguiu falar com seus assessores, que só confirmaram uma transferência de US$ 70,495. O dinheiro, segundo eles, foi o resultado da venda de um imóvel em São Paulo, onde Arribas vivia na época.

O La Nación diz que as cinco transferências para a conta do Crédit Suisse foram feitas um dia apos a reativação de um contrato da Odebrecht na Argentina. A deputada municipal Graciela Ocaña, cujo partido Confiança Píblica apoia o governo, pediu ao presidente Macri que suspenda Arribas do cargo, ate que ele esclareça a sua situação perante a justiça.

Na Venezuela
O líder opositor Henrique Capriles informou nesta quarta-feira (11) que foi citado pela Controladoria Geral da Venezuela para comparecer ao local nesta quinta-feira (12) por conta de uma suposta ligação dele com o caso de corrupção envolvendo a Odebrecht no país. 

"Eles pretendem jogar meu nome na lama com um caso como o da Odebrecht. Eu gosto das coisas claras e isso sabem aqueles que estão a meu lado", disse Capriles. Ele sustenta que essa convocação é uma espécie de tentativa de puni-lo por ser um dos líderes da ação que pede um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Capriles ainda acusou que o governo querer envolvê-lo no caso "mesmo sendo inocente. Quem não deve não teme, mas eu gosto das coisas bem claras", disse o atual governador do estado de Miranda, que desde 2008 é um dos maiores opositores de Maduro no país.


Com informações da Agência Ansa.

Juíza suspende aumento de todas as tarifas de transporte em São Paulo

Agência Brasil

A juíza Simone Viegas de Moraes Leme, da 15ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, suspendeu hoje (11) o aumento das passagens de todas as linhas de ônibus intermunicipais administrados pela Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU). Cabe recurso da decisão.

Na decisão, a juíza disse que a razão para o aumento “não está detalhado tecnicamente, o que impede a análise de sua pertinência e, ademais, supera, sem explicação, os índices inflacionários”.

Na tarde de ontem (10), o presidente do Tribunal de Justiça Paulo de São Paulo, Paulo Dimas, decidiu suspender o aumento na integração (ônibus+trilhos) do transporte público em São Paulo que estava em vigor desde domingo (8). Com essa decisão, a Secretaria Estadual de Transportes notificou, na noite de ontem, o Metrô, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a EMTU e a SPTrans, empresa gestora do Bilhete Único, para que as tarifas de integração fossem alteradas ao valor que era praticado antes do aumento, o que começou a ocorrer na manhã de hoje.

No caso da EMTU, a secretaria já havia determinado ontem que a empresa voltasse a cobrar o preço anterior no caso das linhas de ônibus intermunicipais da área 5 da região metropolitana (que corresponde ao ABC) e, a partir de sexta-feira (13), também nas linhas das regiões metropolitanas de Sorocaba,

Vale do Paraíba e Litoral Norte.

No entanto, a secretaria não abaixou o preço das passagens nas regiões metropolitanas de Campinas, Baixada Santista, as áreas 1,2,3,4 e o corredor ABD da região metropolitana de São Paulo, pois, de acordo com a secretaria, não estavam incluídas na determinação de ontem do tribunal. Porém com a decisão de hoje, da juíza Simone Viegas de Moraes Leme, a secretaria será obrigada a abaixar o preço de todas as passagens da EMTU.

Por meio de nota, a Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM) informou que tomou conhecimento da ampliação da liminar, mas que ainda não foi notificada. "A STM não foi citada ainda e tomará todas as medidas necessárias para cumprimento da decisão", disse.

Segundo a secretaria, a extensão da liminar abrange os reajustes aplicados nas tarifas da EMTU em sete contratos de concessão nas regiões de São Paulo (áreas 1,2,3,4 e Corredor ABD), Baixada Santista (inclusive o VLT) e Campinas.

“A STM reafirma que o atendimento da ordem liminar impacta financeiramente, de forma drástica e prejudicial, o sistema de transporte e o orçamento do governo do estado. Se mantida a decisão, causará um impacto financeiro de mais R$ 212 milhões em 2017, além dos R$220 milhões envolvendo Metrô, CPTM e permissionárias da EMTU”, diz a nota.

Maduro afirma que não abandonou cargo e que é alvo de golpe na Venezuela


O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou a Assembleia Nacional, que tem maioria da oposição ao seu governo, de ter feito um "manifesto irritante, nulo e golpista" ao acusá-lo de abandono de cargo. "Eles estão utilizando os recintos da Assembleia Nacional em desacato com a lei para promover um golpe de Estado. Assim eu os denuncio", disse o mandatário sobre o texto aprovado por 106 parlamentares. As informações são da Agência Ansa.

Segundo Maduro, a declaração aprovada no Parlamento "está copiando os diferentes golpes que durante os últimos 17 anos querem derrotar a revolução bolivariana.  A quadrilha da Assembleia Nacional autoriza para que haja o que eles querem: intervir na Venezuela para fazer atentados terroristas contra nosso país para buscar o objetivo que se manifesta", declarou, convocando a população para "não cair nas provocações".

Os parlamentares aprovaram o "abandono de cargo" porque consideram o mandatário como o responsável pela "completa crise socioeconômica" que atinge a nação e pela "ruptura da ordem constitucional e democrática". Com isso, os parlamentares querem pedir a convocação de eleições presidenciais imediatas.


Da Agência Ansa

Banco Central reduz Selic para 13% ao ano e surpreende o mercado

Agência Brasil

Pela terceira vez seguida, o Banco Central (BC) baixou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu hoje (11) a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano. A decisão surpreendeu os analistas financeiros, que previam o corte de 0,5 ponto percentual.

Com a decisão de hoje, a Selic está no menor nível desde abril de 2015, quando estava em 12,75% ao ano. Mantida em 7,25% ao ano, no menor nível da história, de outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Somente em outubro do ano passado, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia.

Em comunicado, o Copom informou que a demora na recuperação da economia contribuiu para a autoridade monetária acelerar o corte dos juros. “O conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente”, destacou o texto.

O Copom ressaltou que as incertezas externas ainda não trouxeram efeitos sobre o Brasil e que o comportamento da inflação, que fechou 2016 abaixo das expectativas, favoreceu a redução maior da Selic.

“A inflação recente continuou mais favorável que o esperado. Há evidências de que o processo de desinflação mais difundida tenha atingido também componentes mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico. A inflação acumulada no ano passado alcançou 6,3%, bem abaixo do esperado há poucos meses e dentro do intervalo de tolerância da meta para a inflação estabelecido para 2016”, acrescentou o Banco Central.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA fechou 2016 em 6,29%, o menor nível desde 2013 (5,91%).

Até o ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecia meta de inflação de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos, podendo chegar a 6,5%. Para 2017, o CMN reduziu a margem de tolerância para 1,5 ponto percentual. A inflação, portanto, não poderá superar 6% neste ano.
Inflação

No Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estima que o IPCA encerre 2017 em 4,4%. O mercado está um pouco menos pessimista. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, a inflação oficial fechará o ano em 4,81%.

Até agosto do ano passado, o impacto de preços administrados, como a elevação de tarifas públicas, e o de alimentos, como feijão e leite, contribuiu para a manutenção dos índices de preços em níveis altos. De lá para cá, no entanto, a inflação começou a desacelerar por causa da recessão econômica e da queda do dólar. Em dezembro, o IPCA ficou em 0,30%, a menor taxa para o mês desde 2004.

A redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores impulsionam a produção e o consumo num cenário de baixa atividade econômica. Segundo o boletim Focus, os analistas econômicos projetam crescimento de apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) em 2016. No último Relatório de Inflação, o BC reduziu a estimativa de expansão da economia para 0,8% este ano.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação.


Presidente da Argentina marca visita de Estado ao Brasil em fevereiro

O presidente da Argentina, Maurício Macri, virá ao Brasil no próximo dia 7 de fevereiro para uma visita de Estado, na qual se encontrará com o presidente Michel Temer. Os dois conversaram nesta quarta-feira (11) por telefone, de acordo com o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola.

Além dos assuntos de interesse dos dois países, os mandatários discutirão a agenda do Mercosul, do qual a Argentina se tornou presidente temporária depois de um impasse sobre a permanência da Venezuela . Segundo o porta-voz, Brasil e Argentina estão "empenhados em redinamizar e fortalecer" as pautas do bloco.


"Os presidentes decidiram instruir suas equipes a intensificar esforços com vistas a continuados avanços na pauta bilateral, sempre em busca de resultados concretos em benefícios das sociedades brasileira e argentina", afirmou Parola.

Da Agência Brasil

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Após Ford e GM, Trump ameaça Toyota por fabricar carros no México


O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de importação à Toyota caso a empresa prossiga seus planos de investimentos em uma fábrica no México, que exportaria carros para o mercado americano. As declarações foram feitas após a Ford, que também foi pressionada por Trump, cancelar seus planos de construção de uma filial no território mexicano.
Depois da Ford anular o projeto de uma nova fábrica no México, e da General Motors ser ameaçada de retaliações pela fabricação de carros no país vizinho, agora foi a vez da gigante japonesa ser alvo das declarações protecionistas de Trump.

"A Toyota disse que construirá uma nova fábrica em Baja, no México, para produzir carros Corolla para os Estados Unidos. De jeito nenhum! Construa uma fábrica nos Estados Unidos ou pague uma tarifa de importação", disse o presidente eleito numa rede social.

A declaração é uma reação ao anúncio feito em novembro pela Toyota, que comemorou a instalação de uma fábrica de US$ 1 bilhão no território mexicano. No entanto, a filial não se situa em Baja, na fronteira da Califórnia, como apontou Trump, e sim em Guanajuato, no centro do México.

Além disso, pouco antes da declaração do futuro chefe da Casa Branca, o presidente da Toyota, Akio Toyoda, havia afirmado que manter um bom relacionamento com Trump é fundamental, demonstrando disposição de trabalhar com o presidente eleito. Um porta-voz da gigante automobilística disse que a empresa pretende responder a Trump.

Acordo de livre comércio é questionado
O presidente eleito contesta o fato de que essas empresas se beneficiam do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, assinado entre Washington, México e Canadá, que permite, sob condições, mas sem taxas aduaneiras, exportar para os Estados Unidos mercadorias produzidas no território mexicano.

O texto foi um dos principais alvos durante a campanha presidencial de Trump, que prometeu renegociar a parceria, em vigor desde 1994.

Mas com essa ameaça visando a Toyota, o republicano ultrapassa mais um limite em sua cruzada protecionista, pois pela primeira vez ele ataca um grupo estrangeiro.


Agência Brasil

Os 4 eventos que prenunciam um 2017 turbulento para Temer (e o que mais vem por aí)



Por Lara Rizério 

O ano mal começou, os parlamentares ainda estão em recesso, mas o presidente Michel Temer já tem uma prévia do que será 2017 para a política - bastante turbulento.

Já na primeira semana do ano, quatro eventos mostraram que o ano não será nada fácil para o presidente: i) as decisões no STF contra o bloqueio nas contas do Rio de Janeiro, ii) a disputa cada vez mais acirrada Câmara dos Deputados que pode levar ao acirramento da disputa e à pressão para que Temer tome uma posição, iii) as possibilidades de corte no Orçamento com a revisão para baixo no PIB brasileiro e o mais grave, a crise penitenciária deflagrada pelo massacre em Manaus, o que pode ter impacto inclusive fiscal.

Confira as dores de cabeça que Temer teve que enfrentar já no início do ano:

i) Decisões no STF
O STF (Supremo Tribunal Federal) está em recesso, mas duas decisões da presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, nestes primeiros dias do ano já são observadas com atenção pelo Planalto.

Na terça, a presidente do Supremo concedeu liminar em que evitou o bloqueio pela União de R$ 192 milhões nas contas do Rio de Janeiro e, na quarta, suspendeu o bloqueio de mais R$ 181 milhões. Com a medida, os servidores estaduais fluminenses que ainda não tiveram seus salários integralmente pagos receberão ontem (5) a primeira das cinco parcelas dos vencimentos de novembro, no valor de R$ 316.

A liminar da presidente do STF, deferida em atuação durante o plantão do recesso do Tribunal, tem validade até reapreciação pelo relator da ação, ministro Ricardo Lewandowski, ou a sua submissão ao colegiado para referendo.

O Tesouro Nacional está discutindo com a Advocacia-Geral da União (AGU) quais providências serão tomadas em relação às decisões do STF. Conforme destaca a LCA Consultores, existe a possibilidade de a AGU recorrer da decisão e pedir ao STF a reconsideração do despacho." A decisão da corte abre um precedente delicado, pois tem implicações não apenas para o Rio, mas também para outros Estados e municípios que estão atrasando pagamentos de dívidas", afirma a consultoria. Vale destacar que, na quarta o ministro da Fazenda Henrique Meirelles se reuniu com Cármen Lúcia e afirmou que existe uma "agenda de trabalho" entre os dois órgãos para tratar de assuntos que envolvem a União, o Tesouro e os Estados. O ministro, no entanto, não respondeu se a decisão sobre o desbloqueio de recursos para o Rio foi um dos assuntos abordados

ii) Disputa na Câmara.
A Câmara de Deputados está em recesso e a eleição para a presidência ocorrerá só no mês que vem (mais precisamente dia 2 de fevereiro), mas a disputa pelo comando da Casa está cada dia mais acirrado, o que pode respingar na governabilidade de Temer. Enquanto os maiores jornais do Brasil apontam que o presidente teria uma preferência pela reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), outros candidatos estão fortemente no páreo, inclusive questionando a candidatura do democrata.

Entre os principais adversários de Maia, estão Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO) e André Figueiredo (PDT-CE). Os dois primeiros postulantes ao cargo fazem parte do denominado "Centrão", grupo que faz parte da base aliada de Temer e é crucial para a aprovação de projetos de interesse no governo. Qualquer sinalização de que o presidente teria preferência em relação a outro pode causar mal estar com essas legendas e, assim, prejudicar a governabilidade.

Arantes, por exemplo, reuniu-se na última quarta-feira com Temer e afirmou que o Planalto não tem candidato preferido à disputa, em meio a notícias de que o presidente teria "discreta preferência" por Maia. " O presidente Temer me garantiu que o Planalto não tem nenhuma preferência, e que vai determinar que ministros não interfiram na eleição", afirmou o petebista.

Enquanto isso, Rosso critica Maia e quer que ele admita candidatura, chegando inclusive a pedir um debate para a presidência para provocar atual comandante da Casa; já Jovair prometeu ir ao STF caso Maia ganhe. A candidatura de Maia abriu questionamentos entre parlamentares sobre a viabilidade legal da reeleição para o posto. Enquanto isso, o atual presidente da Câmara dos Deputados afirma que ainda não é a hora de oficializar sua possível candidatura e que só fará isso se entender que sua candidatura “representa um caminho de harmonia na relação entre os poderes e, principalmente, no plenário da Câmara

iii) Mais pessimismo com a economia.
O ano mal começou, mas o mercado e o próprio governo está revisando as suas estimativas para a economia prevendo uma retomada do crescimento em 2017 mais lenta do que a esperada. Dados da indústria e de emprego do final do ano passado corroboram a previsão de que a economia está demorando a reagir, enquanto o último Focus apontou que a estimativa do mercado é de que o PIB cresça apenas 0,5% este ano

Com o crescimento mais lento do PIB, a expectativa é de que haja um corte de até R$ 50 bilhões do Orçamento de 2017, conforme apontou o jornal O Estado de S. Paulo. Apenas por conta da revisão de crescimento do PIB feita pelo governo, de 1,6% para 1%, o corte previsto chega a pelo menos R$ 20 bilhões. Mas a avaliação é que o contingenciamento de despesas deverá ser ainda maior, por conta de frustrações de receitas extraordinárias que foram incluídas na Lei Orçamentária em agosto, já com o objetivo de preencher uma lacuna entre gastos e a arrecadação que ameaçava o cumprimento da meta fiscal, que é de R$ 139 bilhões. Em conversas recentes, o ministro da Fazenda já admitiu a parlamentares que a economia pode crescer ainda menos que 1% - algo como 0,5% como prevê o Focus

iv) Massacre em Manaus e seus impactos.
O início do ano ficou marcado por mais uma evidência da crise em que o sistema prisional brasileiro enfrenta; a rebelião no Complexo Prisional Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, que resultou na morte de pelo menos 56 presos, em meio a um conflito de facções.

Além do desgaste político e das críticas sobre a demora de Temer em se pronunciar, o presidente deve observar com atenção essa crise por outros motivos. Conforme apontou a consultoria de risco político Eurasia Group, o massacre no presídio de Manaus traz “risco significativo” de ter reflexos em outras penitenciárias de todo o país, agravando ainda mais uma crise aguda de segurança, justamente quando governos estaduais estão passando por crise fiscal.

Segundo a consultoria, tais dinâmicas sugerem que poderia aumentar a pressão política para administração Temer levar ajuda adicional aos governos estaduais para enfrentar uma crescente crise de segurança, acima e além do que a equipe econômica quer conceder. Vale destacar que, na quinta-feira, Temer anunciou que pretende disponibilizar R$ 150 milhões para a instalação de bloqueadores de celulares em pelo menos 30% dos presídios de cada estado, e R$ 200 milhões para a construção de mais cinco presídios federais.

Vem por aí...
Desta forma, as dores de cabeça de Temer no início do ano prenunciam os problemas que ele enfrentará mais à frente. O noticiário está aparentemente mais calmo em meio ao recesso, mas muitos políticos seguem temerosos com novos vazamentos ou até mesmo a liberação do sigilo da delação da Odebrecht, que cita diversos políticos (inclusive o próprio presidente). A expectativa é de que o relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki, homologue a delação só em março. Porém, novos vazamentos podem aparecer até lá.

Além disso, chama a atenção o desafiador processo de reforma da Previdência. Rodrigo Maia afirmou que vê a reforma aprovada na Câmara até março, enquanto o postulante à presidência do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou que ela deve ser aprovada na Casa até junho. Porém, até lá, muitas negociações devem acontecer (assim como mudanças na proposta).

Porém, a maior fonte de risco vem com o julgamento da chapa vencedora das eleições presidenciais de 2014 formada por  Dilma Rousseff e Temer, que deve acontecer no segundo semestre deste ano. Contudo, conforme informa a Bloomberg, Temer avalia contar com apoio de uma apertada maioria dos juízes que compõem atualmente o Tribunal.

Assim, por esses e outros "imponderáveis" fatores, o ano de 2017 promete ser bastante conturbado para o presidente Michel Temer.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Indícios de que o impeachment começou a ser combinado em 2013


Por Marcelo Fantaccini Brito

Olhando apenas superficialmente para os fatos, é possível pensar que a história do impeachment da Dilma Rousseff foi esta: logo depois da reeleição em 2014, políticos de partidos da então oposição de direita (PSDB/DEM), junto com movimentos recém-criados, como o Vem pra Rua, o Revoltados Online e o Movimento Brasil Livre começaram a campanha pelo afastamento. Já no primeiro semestre de 2015, conseguiram organizar grandes mobilizações de rua. Mas ainda assim, parecia que as associações empresariais, as grandes empresas de mídia, e os partidos conservadores da então base aliada (PMDB/PP/PSD/outros) ainda não estavam completamente fechados a favor do afastamento da Dilma. Aí no segundo semestre, o agravamento da crise econômica, a recusa da Dilma em implantar 100% do programa sugerido por empresários e a tentativa de ressuscitar a CPMF fizeram as associações empresariais, as grandes empresas de mídia e os partidos conservadores da então base aliada fecharam a favor do impeachment. O pedido escrito por Miguel Reale Jr. Hélio Bicudo e Janaína Pascoal foi acolhido por Eduardo Cunha, como retaliação ao PT por ter votado contra ele no Conselho de Ética. No início, havia até alguma dúvida se os 2/3 seriam alcançados. Mas aí a Lava Jato fechou o cerco em Lula, Delcídio e João Santana, e Dilma fez a tentativa desastrosa de nomear Lula ministro. O pedido de impeachment não foi respaldado em corrupção, mas mesmo assim estes eventos animaram ainda mais os movimentos de rua pelo impeachment. Aí o plenário da Câmara acabou votando pela abertura do processo.

Mas se observarmos algumas sutilezas, é possível pensar que já em 2013 os partidos da então oposição de direita, os partidos da então base aliada conservadora, as associações empresariais e as grandes empresas de mídia já estavam fazendo conversas sobre a possibilidade de impeachment da Dilma e apoio a um governo tampão ultraconservador de Michel Temer. Um sinal de que isto já estava ocorrendo é que a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014 foi muito ruim. Foi uma campanha que pregou apenas para os já convertidos. O único público alvo da propaganda foi quem já tinha certeza de que votaria nele. A campanha serviu para empolgar uma forte mobilização de grande parte da classe média para causas da direita, mas não serviu para ganhar eleição. As forças de direita investiram mais na eleição para o Legislativo. Nas três eleições anteriores, que o PT ganhou com folga no Executivo, duas com Lula e uma com Dilma, foi eleita uma maioria conservadora no Legislativo. Em 2014, Dilma ganhou apertado e a maioria conservadora no Legislativo foi ainda mais folgada, superando os dois terços.

O comportamento das grandes empresas de mídia durante a campanha eleitoral de 2014 também pareceu atípico. Durante as campanhas eleitorais de 2006 e 2010, as grandes empresas de mídia fizeram boca de urna para Alckmin e Serra respectivamente. Durante a campanha de 2014, houve uma surpreendente imparcialidade. Os aeroportos nas terras dos parentes de Aécio Neves tiveram destaque razoável. Na véspera do segundo turno, Dilma e Aécio estavam bem próximos segundo as pesquisas. Por causa disso, alguns petistas chegaram a pensar que o Jornal Nacional de sábado à noite tentaria uma última bala de prata contra a Dilma. Não aconteceu. Talvez porque a opção por Michel Temer em comparação com Aécio Neves/Aloysio Nunes já havia sido feita.

Outro indício de que uma mudança de governo por via não eleitoral já estava sendo pensada foi que o jornal O Globo publicou um editorial em 2013 dizendo que o apoio ao golpe de 1964 foi um erro. Antes tarde do que nunca. Mas por que só 39 anos depois? Por que justamente naquele momento? Bom, talvez porque o jornal já estava pensando em apoiar o afastamento da Dilma através de um processo de impeachment em um eventual segundo mandato. Alguns setores da sociedade certamente criticariam o processo, fazendo analogia com o que aconteceu em 1964. É certo que um impeachment é diferente de uma quartelada. Mas as analogias são inevitáveis. Tratam-se de uma transição de um governo cuja principal base de apoio está nos sindicatos e nos movimentos sociais para um governo cuja principal base de apoio está nas associações empresariais sem a realização de eleição. Talvez o jornal O Globo fez aquele editorial em 2013 para se proteger de possíveis críticas que utilizam a analogia.  

A lei antiterrorismo foi outro indício que já estava sendo preparada uma guinada ultraconservadora no país e que este processo deveria ser protegido de manifestações populares. Foi a própria Dilma que preparou a lei antiterrorismo. Mas foi o senador Aloysio Nunes, líder do atual governo no Senado, que tornou a lei ainda mais dura. Nem o mais otimista entusiasta do afastamento da Dilma poderia imaginar que as manifestações contrárias a este processo seriam tão pequenas e inofensivas como realmente acabaram sendo. Pode ter ocorrido um preparativo maior para a repressão, esperando movimentos contestatórios bem mais fortes.

A tentativa da mídia de associar o Marcelo Freixo com os black bloc, falando que o irmão do cachorro do cunhado da sua tia tinha ligação com a Sininho. Um PT queimado seria uma oposição enfraquecida ao novo governo. Mas seria necessário ainda queimar outras possíveis forças de oposição.

Outra observação importante foi a mudança de posicionamento de formadores de opinião anti-PT sobre o PMDB, que ocorreu a partir de 2013. Até então, o discurso anti-PT vinha acompanhado de um discurso anti-PMDB, para parecer que se tratava de um discurso anticorrupção e não um discurso ideológico de direita. A partir de 2013, alguns formadores de opinião anti-PT já começaram a fazer discursos favoráveis ao PMDB. Talvez já preparando seus leitores a apoiar um futuro governo Temer. Algumas ressalvas, porém, são necessárias ser feitas sobre este indício. Talvez, formadores de opinião de direita podiam estar pensando também na necessidade de apoio do PMDB a um eventual governo Aécio. Questões locais também pesavam. Já estava evidente que o único candidato da direita para o governo do Rio de Janeiro seria o Pezão. Isto porque ou ganhava ele, ou ganhava os representantes do populismo evangélico (Crivella, Garotinho), ou os representantes da esquerda (Lindberg, Tarcísio). Em 2006 e 2010, Sérgio Cabral foi apoiado pelo lulismo e, Denise Frossard e Fernando Gabeira foram, respectivamente, os apoiados pela antiga oposição de direita. A grande aliança de partidos conservadores em torno do Pezão em 2014 foi quase idêntica à aliança de partidos do impeachment.

Mas por que as forças políticas de direita teriam feito uma opção de afastar a Dilma no meio de seu segundo mandato e apoiar o governo tampão de Michel Temer ao invés de investir na vitória de Aécio Neves em 2014? Resposta simples: por causa da curva em formato de J do aJuste. Explicando mais detalhadamente: em 2013, já era possível observar que inevitavelmente a economia brasileira teria que passar por um ajuste. A inflação já estava acima da meta e, além disso, estava reprimida, uma vez que preços de combustíveis, energia elétrica e dólar estavam represados. O superávit primário já estava se transformando em déficit primário. Mas até o final de 2014, os problemas da economia não tinham chegado às casas das pessoas comuns. O PIB estava estagnado, mas não estava em queda. O desemprego ainda estava em torno de 5%.

Qualquer governo que iniciasse em janeiro de 2015 iria fazer o ajuste, que teria início na liberação dos preços represados. Isto aumentaria a inflação, que já estava acima do centro da meta. Medidas recessivas, como o aumento da taxa de juros, seriam utilizadas para aumentar o desemprego, e, desta forma, reduzir a inflação. A redução do déficit primário seria a outra medida recessiva. Somente com a inflação na meta, a economia brasileira estaria pronta para retomar o crescimento. Ou seja, o ajuste tem um efeito na economia que lembra uma curva em formato de J: primeiro cai, para depois subir para uma situação acima da inicial.

Se o Aécio tivesse sido eleito, ele teria assumido com o PIB ainda antes da queda e com o desemprego ainda em torno dos 5%. Ou seja, ele teria assumido antes do início da descida no J. As pessoas sentiriam o desemprego e o declínio dos salários já no governo Aécio e lembrariam dos governos do PT como governos em que o emprego e a renda cresciam. A subida no J poderia ocorrer tarde demais, insuficiente para atingir a parte alta do J em 2018. Dessa forma, dificilmente Aécio seria reeleito ou elegeria um aliado. O eventual governo Aécio poderia se aproveitar do desenrolar da Lava Jato para acuar o PT, já na oposição. Por outro lado, o próprio Aécio foi citado por delatores, e isto poderia causar prejuízo a ele como presidente. O PMDB e o PP, também no epicentro da Lava Jato, seriam base aliada de Aécio e, portanto, a operação poderia causar alguma instabilidade.

Com Dilma ganhando, ela iria iniciaria o ajuste, como de fato iniciou, com Joaquim Levy e Nelson Barbosa. No curto segundo mandato da Dilma, os preços controlados foram liberados, a taxa de juros aumentou, a despesa federal foi reduzida. Como consequência, o PIB mergulhou e o desemprego aumentou bruscamente. O timing do impeachment seria o ponto mais baixo do J. Por causa do declínio até este ponto mais baixo, as pessoas sentiriam na pele a recessão, e, assim, pouquíssimas pessoas se esforçariam para salvar o governo Dilma. Aí o governo Michel Temer poderia pegar apenas a parte ascendente do J. Seus aliados nos meios de comunicação atribuiriam a subida no J exclusivamente às ações de seu governo. Seria fácil criar a seguinte narrativa: “o petê quebrou o Brasil, aí o governo PMDB/PSDB/DEM/mídia/empresários recuperou”. Esta narrativa impulsionaria uma longa hegemonia da direita na política brasileira.

Por que as forças de direita, que incluem os líderes dos partidos, as associações empresariais, os grandes grupos de mídia e os economistas da PUC-RJ e FGV-RJ querem dois anos e meio de governo Temer, e não a realização de uma eleição direta para decidir quem governa até dezembro de 2018? Muito provavelmente, se fosse realizada uma eleição presidencial direta em outubro de 2016, junto com as eleições municipais, um candidato não esquerdista seria eleito. Mas ainda assim, com o simples fato de haver disputa, o programa “Ponte para o Futuro” se tornaria inviável de ser implementado em sua totalidade. Mesmo em um segundo turno entre dois candidatos não esquerdistas como Geraldo Alckmin e Marina Silva, os dois desejariam ser um pouco mais populares na disputa. Se verifica, desta forma, as motivações antidemocráticas dos grupos que se mobilizaram pelo impeachment.

Como foi dito anteriormente, um ajuste era inevitável para qualquer governo. Mas o que o governo Temer está fazendo no momento não é ajuste, e sim uma redução de longo prazo do Estado Social, por motivação ideológica das forças que apoiam seu governo. Aproveita-se a temor justificado do aumento da dívida pública, da continuidade da crise econômica, como uma janela de oportunidade para impor um arrocho permanente, como é a PEC do teto da despesa federal por 20 anos. Nenhuma necessidade de ajuste do orçamento federal em 2016 justifica escrever na Constituição o quanto o governo gastar em 2030. Se as forças que apoiavam a derrubada de Dilma e a posse de Temer realmente estivessem preocupadas em combater o déficit orçamentário, apoiariam a retomada, ao menos temporária da CPFM, e de outros impostos, e não fariam oposição feroz a essas medidas.

O que deu errado em toda esta estratégia? Até hoje não chegamos ao ponto mais baixo do J.

Eu estou querendo defender que tenho certeza de que todo o script do impeachment já estava combinado passo a passo desde 2013? Não. Estou fazendo suposições baseadas em fatos. É perfeitamente possível que eventos de 2015 tenham acelerado o impeachment, mas que a possibilidade do impeachment tenha sido conversada já a partir de 2013.

Aliás, a possibilidade do impeachment pode ter sido pensada já em 2009, quando o PMDB definiu que só aceitaria entrar na coligação da Dilma na eleição de 2010 se o vice na chapa fosse o Michel Temer, o peemedebista mais próximo do PSDB. O PT não tinha entusiasmo por este nome, mas engoliu porque queria o tempo de televisão do PMDB. O cientista político Luís Felipe de Alencastro discutiu este risco em uma coluna escrita para a Folha ainda em 2009. Ele não mencionou explicitamente a palavra impeachment, mas deu a entender que estava falando disso.

Para concluir, é importante lembrar que 2013 foi um ano de muitas manifestações. As forças de esquerda, incluindo não apenas aquelas que faziam parte do governo Dilma, poderiam ter percebido que a água já estava batendo na bunda. Houve muitas manifestações organizadas por grupos de esquerda, mas as manifestações mais numerosas foram aquelas mobilizadas por grupos de direita. O governo Dilma e o PT já estavam sob muita contestação, e as críticas que mais mobilizavam não eram aquelas feitas por partidos ainda mais à esquerda, como o PSOL e o PSTU.

Observação: se foi legal, se foi legítimo, se foi golpe não é objeto de discussão deste texto.
Do Trincheiras

Os guias incorretos


Escrito por Hemerson Ferreira, no Correio da Cidadania, 14 de setembro de 2011

Depois de Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, um sucesso de vendas lançado pelo então desconhecido Leandro Narloch, chegou a vez de Guia Politicamente Incorreto da América Latina, do mesmo autor, agora unido ao jornalista Duda Teixeira. Provavelmente também venderá como batata em fim de feira, sobretudo depois de ser propagandeado nos programas do Jô, Faustão e Ana Maria Braga.

“Politicamente incorreto” virou termo da moda, arranjado para substituir tudo quanto é tipo de besteirol, preconceito e ignorância. Ninguém é “politicamente incorreto” ao dizer, por exemplo, que “mulher gosta de apanhar”, “judeu ou palestino tem que morrer”, “negro é tudo macaco” ou que “veado (ou bicha) merece uma bela surra”. Sem eufemismos, o nome correto para isso é machismo, anti-semitismo, racismo e homofobia, respectivamente. É o que existe de mais velho em nossa sociedade, apresentado com “sarcasmo inteligente” e como sendo novidade.

Os dois livros de Narloch e Teixeira tiveram por objetivo atacar personagens históricos que, segundo seus autores, seriam figuras “caricatas” e “desprezíveis” só que “sacralizadas” por “historiadores e professores marxistas” ao longo dos anos. “Mitos” maldosa e trapaceiramente inventados por “comunistas”, com finalidade de “doutrinar” com suas idéias nefastas estudantes inocentes e indefesos.

Confunde-se aqui teoria historiográfica com militância política. Muitos historiadores marxistas realmente foram ou são ligados a partidos políticos, social-democratas, socialistas ou comunistas, um direito de todos. Certamente existiram mais historiadores conservadores e ligados à direita que historiadores de esquerda, mas desconhecemos estudos estatísticos neste sentido.

Para alguns, a produção historiográfica teve uma finalidade muito além das questões partidárias, sendo, sim, pessoalmente, uma obrigação profissional, moral e social. Já outros certamente mais fizeram uso desta ou daquela corrente historiográfica com fins apenas carreiristas e burocráticos. Muitos nunca militaram em partido político algum, seja de esquerda, centro ou de direita, mas enfocaram suas pesquisas em conflitos sociais, influenciados ou não pelo marxismo.

Além do mais, faz algum tempo que o culturalismo, o relativismo e a verborragia “pós-moderna” roubaram a cena nas academias. As razões disso, a chamada “crise de paradigmas”, são extensas demais para serem tratadas aqui. Falar hoje em modo de produção, exploração, imperialismo, burguesia, proletários, classes, luta de classes e demais conceitos marxistas atrai olhares esnobes, de quem vê essas questões como superada e démodé.
Os “politicamente incorretos” Narloch e Teixeira reconhecem e até elogiam este “novo” cenário historiográfico, que, segundo dizem, “nos últimos 15 ou 20 anos vem produzindo” livros “bem melhores” e “menos politizados”. Os Guias politicamente Incorretos… são apresentados assim porque, a despeito de todo o esforço da “nova-história” da qual julgam fazer parte, “alguns velhos mitos esquerdistas” ainda persistem.

Zumbi dos Palmares, Antônio Conselheiro, Lampião, Luís Carlos Prestes, Simon Bolívar, Salvador Allende e Che Guevara, entre outros, são alguns nomes tratados na versão I e II dos “politicamente incorretos”. Não teríamos espaço aqui para tratar e rebater cada uma das besteiras escritas a respeito dos mesmos. A maioria delas já foi publicada há algum tempo, em outros livros mais sérios e específicos. Os Guias, portanto, não apresentam praticamente nada de novo. São apenas versões caricatas e resumidas do que já foi dito antes. Mostram assim, por exemplo, um Zumbi dos Palmares como sendo também “um senhor de escravos”.  Só não nos dizem por que trabalhadores escravizados do século 17 assim que podiam fugiam imediatamente dos engenhos escravistas alagoanos e pernambucanos para o quilombo dos Palmares, que era um refúgio de cativos e não o inverso.

As críticas a Simon Bolívar, por sua vez, visam mais atacar o atual presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que falar de História da colonização, dos processos de independência ou do liberalismo na América Latina no séc. XIX. Não tem nada de “história isenta” ali. É puro proselitismo político-ideológico, mas os “politicamente incorretos” pensam que apenas os historiadores de esquerda é que têm ideologias.

Che Guevara é novamente tratado como um “frio assassino” e “mau estrategista”. Mas seguindo matéria já apresentada pela revista Veja recentemente, acrescentam que o guerrilheiro seria também “fedorento” por “não gostar de tomar banho”. Ora, eles queriam que o argentino fizesse uma revolução nas selvas e serras cubanas levando consigo chuveiro portátil na mochila e exalando perfumes franceses.

Não existe nada mais antigo na História que atacar tais personagens latino-americanos. A própria “História da América Latina”, em si, já foi taxada como “coisa de comunista” por certa corrente mais conservadora. O profissional de história seria sinônimo de “perigoso subversivo esquerdista”. História “boa”, para essa gente, é aquela que destaca apenas datas e “homens de bem” das classes dominantes, iniciando na Grécia e terminando nos EUA.

Como lembrou o escritor Luis Fernando Veríssimo, não bastou aos assassinos matarem Zapata. Eles tinham que capturar e tentar matar também seu cavalo, que galopava sozinho pelos campos e fazia com que os camponeses pensassem que seu dono o conduzisse, mantendo vivas as suas causas.

Zapata, Zumbi, Conselheiro, Lampião, Bolívar, Prestes, Salvador Allende ou Che Guevara morreram (a maioria assassinada porque ousou lutar) e estão enterrados há muito tempo na América Latina. Entretanto, continuam sendo símbolos populares da luta contra a exploração deste continente por impérios, governos, cartéis e banqueiros estrangeiros no plano internacional, e contra uma classe de parasitas ricos, poderosos, autoritários e corruptos, dentro de cada um de seus respectivos países.

Os “espíritos” (isto é, o que simbolizam e representam os atacados pelos “politicamente incorretos”) ainda inspiram e percorrem a imaginação, os sonhos, os anseios e as necessidades reais de imensas camadas sociais pobres e exploradas na América Latina. São lendas vivas, bandeiras de liberdade e igualdade que percorrem nossos campos e cidades. É isto que incomoda os “politicamente incorretos”.

Hemerson Ferreira é mestre em História e professor municipal do Ensino Médio no estado do Rio Grande do Sul.

Do Trincheiras

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