Dag Vulpi - 27 de outubro de 2025
Em diferentes épocas e lugares, o fascismo ressurge como um espectro político travestido de patriotismo, ordem e moralidade. A sua essência, porém, permanece a mesma: o medo da liberdade, a idolatria do líder e a negação da diversidade. Entender suas nuances é compreender como sociedades inteiras podem ser seduzidas por discursos que prometem salvação, mas entregam autoritarismo.
O fascismo em perspectiva histórica
O termo fascismo tem origem na Itália de Benito Mussolini, na década de 1920. Inspirado na ideia romana do fasces — um feixe de varas simbolizando força pela união sob um comando —, o regime pregava nacionalismo extremo, culto ao líder, militarização da política e repressão a opositores.
Logo, o fascismo ultrapassou fronteiras: na Alemanha, Hitler levou a ideologia a níveis brutais, transformando o nacionalismo em fanatismo racial; na Espanha, Franco impôs uma ditadura clerical-nacionalista; em Portugal, Salazar promoveu um regime autoritário sustentado por moralismo e censura.
Mas o fascismo não se resume a um momento histórico. Ele é, sobretudo, um método político — uma forma de organizar o poder baseada em:
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Culto ao líder e à figura “salvadora”;
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Desprezo pelas instituições democráticas;
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Manipulação das massas por medo, ódio e desinformação;
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Supressão da crítica e da pluralidade;
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Reescrita da verdade através da propaganda.
Fascismo contemporâneo: novas roupagens, velhas ideias
Hoje, o fascismo não veste uniforme militar nem precisa de marchas em praça pública. Ele se infiltra nos discursos populistas, nas redes sociais e nos púlpitos digitais, promovendo a desumanização do “inimigo” — seja ele o imigrante, o artista, o jornalista, o professor ou o próprio pensamento crítico.
Exemplos recentes:
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Na Hungria, Viktor Orbán promove um regime iliberal que restringe a imprensa e concentra poder sob o pretexto de defender “valores cristãos”.
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Nos EUA, grupos supremacistas brancos se reorganizam sob retórica patriótica e religiosa, ecoando o velho mito do “nós contra eles”.
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No Brasil, vimos ecos desse fenômeno em discursos que misturam nacionalismo messiânico, negacionismo científico e culto a líderes carismáticos que se colocam acima das instituições.
Em todos os casos, o fascismo contemporâneo opera pela emoção, não pela razão. Ele substitui o diálogo pela gritaria, o pensamento crítico pela obediência, e o senso coletivo por uma fé cega na autoridade.
As sutilezas psicológicas e sociais
O fascismo se alimenta de crises — econômicas, morais ou identitárias. Quando as pessoas se sentem inseguras, o discurso autoritário oferece respostas simples para problemas complexos. Ele promete ordem, segurança e identidade em troca da liberdade.
É a política do medo, que transforma cidadãos em torcedores e opiniões em trincheiras.
Por isso, é tão importante reconhecer suas formas sutis: o riso cúmplice diante da violência, o silêncio diante do ódio, o aplauso ao autoritarismo “em nome da moral”.
Por que compreender o fascismo é um dever contemporâneo
A história mostra que o fascismo não começa com tanques nas ruas, mas com palavras manipuladas e sentimentos inflamados. Começa quando o diferente é tratado como inimigo; quando a dúvida é tida como fraqueza; quando a obediência se disfarça de patriotismo.
Reconhecer suas sementes é o primeiro passo para impedir que floresça novamente. A defesa da democracia, da ciência e do pensamento crítico é o antídoto mais eficaz contra essa velha doença social.
Nota:
Este artigo propõe uma leitura ampla do fascismo, ultrapassando o sentido histórico para alcançar sua dimensão simbólica e psicológica. Ao identificar os traços fascistas em contextos contemporâneos, reforça-se a importância da vigilância cívica e da educação política. O fascismo não é apenas um regime do passado — é uma sombra recorrente da humanidade, que se adapta às linguagens e aos medos de cada geração. Combater suas manifestações exige consciência, empatia e coragem intelectual.

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Dag Vulpi