Por
Antonio Luiz Carlini - Santa Teresa 11/05/1989
Aconteceu
o enlace matrimonial. Nubentes na maior expectativa de como seria a primeira
noite compartilhando leito conjugal. Já noite, quando a casa onde iriam morar,
desde o dia do casamento, estava sob a guarda de um solteirão, este que
trabalhava ora para uma, ora para outra família, martirizado com sua impopularidade
entre as moças da comunidade, das quais já havia assistido duas gerações
passarem sem que ele nunca tivesse de qualquer uma delas, nada mais que uma
saudação respeitosa... Não lhe era cômoda aquela situação, pois, causava até
certo complexo de inferioridade, já que por não pertencer à etnia italiana ou
alemã, maioria absoluta, enquanto ele, filho de nordestinos, minoria,
dificilmente por ali teria uma namorada, mesmo que uma viúva, pois, não se
encaixava no meio, com os requisitos que dispunha, embora eram frequentes os
elogios pelo seu carácter, associado a outras virtudes positivas, como
sua qualidade de trabalhador, e exímio lavrador. Por isso aceitou não ir à
festa daquele casamento, ficando por uma pequena paga, sozinho na casa onde os nubentes
iriam morar, vigiando-a, até eles chegarem lá, depois das vinte e três horas,
já que a festa de casamento acontecera na casa do pai da noiva, patrocinada
pelo Fazendeiro, que lhes concedia meia de café e lavouras sazonais.
Aquele capixaba, filho de alagoanos e mineiros do Vale do Suaçuí, naquela noite
feito segurança, mal escureceu, dormiu ouvindo um programa Sertanejo de uma
emissora de Rádio paulista, só sendo acordado pelas batidas na porta, as vinte
e três e quarenta e cinco, por parte do noivo, que fora trazido por um fusca
que não chegou perto da casa, em virtude da falta de estrada. Ficou muito
longe, a ponto de não acordar aquele que dormia sonhando com as ninfas de suas
utopias!
Em
seu quarto, hóspede que fora até meia noite, antes vigia, na casa onde núpcias
se consumariam, podia ouvir tudo o que era falado no quarto dos recém-casados.
Podia ouvir o noivo informar, mesmo em sussurros, que nada mais o deteria.
Consumaria o pretendido, mesmo que fosse indo para trás das bananeiras, lá para
as bandas do paiol, se a noiva ficasse constrangida ali, dado o risco de o
hóspede os ouvir, com seus inevitáveis ruídos para chegar ao que ele, o noivo,
esperava por três anos. Sussurrava que o prazo de espera havia acabado e, agora
seis horas até que o vigia se retirasse, seria demais. Confessava um
descontrole.
Dois
jovens, ambos criados ali no meio rural, cremos inclusive que sabiam pouco
sobre o assunto, mas pelo ímpeto dele, deram início ao intercurso, ignorando o
barulho, ou ranger, de uma cama nova, um colchão novo em um quarto, ao qual não
estavam acostumados. Ocorreu que a entrega deles aos deleites de busca
pelo objetivo para a satisfação dos instintos naturais, onde a Doutrina
Religiosa, por mais que queira, não consegue se intrometer, produziu no outro
quarto, uma curiosidade naquele solteirão. Este ouviu mais do que devia e como
seu atraso vinha de duas gerações, resolveu que precisaria fazer alguma coisa,
para também ele sufocar aquele interesse assaz forte em fazer o que os dois
faziam lá no outro cômodo. Sabia que sair, faria barulho com as portas,
avisá-los seria interromper o ato. Não queria ainda que eles soubessem que
eles, o tendo esquecido, se entregaram ao ato, sem se importar com o mundo à
volta. No entanto, o que fazer? Como poderia dormir e esquecer, se os dois lá
não apagavam a lamparina e ela sussurrava entre gemidos, vocábulos de poucas
sílabas, antes nunca ouvidos pelo solteirão, agora excitadíssimo, palavras
vindas de voz feminina e não da masculina, vindas dos humoristas nas reuniões de
jovens, onde ele poucas vezes participou?
A
cama de solteiro, onde ele estava tinha um colchão de palha de milho, aqueles
que nossos nonnos chamavam PAIÃO. Consistia em um saco de tecido, daqueles
fortes e quase impermeáveis, sempre maior que o corpo de uma pessoa,
aproximadamente com um padrão de um metro e oitenta. Em sua parte superior,
distando uns cinquenta centímetros, uma da outra, duas abertura de quinze
centímetros, com o formato de uma vagem ou uma canoa, que para uma imaginação
de um homem excitado, trazia ao subconsciente, a lembrança da semelhança com a
perseguida. Aquelas aberturas eram destinadas à introdução das palhas de milho
e, posteriormente, a facilidade de revolver as mesmas, quando o colchão
apresentasse rigidez. Aquelas aberturas, que mais pareciam uma casinha de
botões de camisa, só que muito maiores, com o colchão arrumado em seu lugar,
observadas por um desesperado, eram até muito sensuais em sua apresentação!
Nosso
protagonista observou a abertura do colchão, amais próxima da peseira da cama.
Decidiu que aquilo era a sua perseguida. Introduziu na abertura, a sua cabeça
pensante. Deitado de barriga para baixo deu inicio ao movimento de erguer e
baixar o corpo no movimento vai e volta. Segundos depois, esqueceu onde estava
e, que aquilo era um colchão. Não sua consorte em coito. Empolgou-se. Não
prestava mais atenção no barulho que fazia!
No
outro quarto, os noivos em um momento de silêncio, ouviram o exagerado ruído e
gemidos do hóspede. Resolveram ir ver o que acontecia, pois, sabiam de muitos
casos onde uma crise de epilepsia podia, em suas convulsões, levar o portador a
produzir aqueles barulhos, sejam da cama, ou da voz grave daquele solteirão que
balbuciava, com um indescritível romantismo, louvores aos ouvidos do
travesseiro, que junto com o colchão, por alguns segundos, quase às duas da
madrugada, em um faz de conta delirante com os devaneios inimagináveis, ouviam
as mais belas declarações, antes só dirigidas a uma musa.
Chamaram-no!
Assustou-se! Inquirido justificou que sonhava correr. Não colou por que o noivo
sabia que ele não sonhava produzindo ruídos. Mas... No outro dia foi encontrado
naquela cama de solteiro, as provas inacreditáveis. Três anos depois, aquele
vigia por uma noite confessou para o noivo, sua absurda, desvairada e inusitada
noite de núpcias!
rsrsrsrsrsrssrsrsrs Tarado.
ResponderExcluirMuito boa.
ResponderExcluirParabéns ao dono do blog, Dag Vulpi, por ter aberto espaço para o Luiz Carlini poder espalhar suas estórias mundo a fora.