CID
10 F.64. Assim é identificada a transexualidade na Classificação Internacional
de Doenças (CID) desde 1980. Essa CID sentencia que a disforia de gênero
consiste no “desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Este
desejo se acompanha em geral de um sentimento de mal-estar ou de inadaptação
por referência a seu próprio sexo anatômico e do desejo de submeter-se a uma
intervenção cirúrgica ou a um tratamento hormonal a fim de tornar seu corpo tão
conforme quanto possível ao sexo desejado”.
A
discussão atual avalia se é preciso CID para garantir o acesso ao processo
transexualizador. Outro ponto é que a transexualidade é caracterizada um
transtorno sexual, assim como a pedofilia e a necrofilia, por exemplo.
“Reivindicamos os termos transexualidade e travestilidade como uma condição
fisiológica inata, é preciso adotar uma postura de legalização, reconhecimento
e respeito dessa população”, defende a assistente social e secretária-executiva
da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), Fernanda de Moraes.
A
representante da Antra foi uma das palestrantes do Fórum Transexualidade e o
diálogo com os saberes: do experiencial ao direto, passando pelo serviço
social, psicologia e medicina, promovido hoje (28) pela Defensoria Pública do
Estado de São Paulo e pela escola do órgão na capital paulista.
O
psiquiatra no Ambulatório de Saúde Integral de Travestis e Transexuais Luis
Pereira Justo defendeu a importância de saber quando existe a disforia de
gênero, caracterizado quando há um sentimento de insatisfação, ansiedade e
desconforto com o corpo masculino ou feminino, com o qual nasceu. “Só faz
sentido fazer um diagnóstico e tratamento quando há disforia de gênero, o
reconhecimento do sofrimento psíquico e das dificuldades geradas por isso, por
exemplo pessoas que abandonam a escola, o trabalho e se auto excluem”.
O
psiquiatra disse que a decisão por uma cirurgia de mudança de sexo continua
sendo da pessoa. “Disforia de gênero não desqualifica a pessoa para decidir
sobre si mesmo, não a torna psicótica nem incapaz de transitar na realidade
consensual”. Justo é a favor da mudança da CID, que coloca as pessoas
transexuais ao lado de outras com transtornos sexuais como pedofilia e
necrofilia.
“Não
sou favorável à CID em si como é hoje, pois não tem sentido a transexualidade
estar junto com outros diagnósticos como pedofilia. A CID não diz, de maneira
nenhuma, que uma pessoa transexual é também pedófila, mas estar classificado na
mesma seção aumenta a dor”, acredita.
Para
Justo somente a cirurgia de mudança de sexo não é a cura para a
transexualidade. “É a cura para o sofrimento que a incongruência de identidade
de gênero implica, então quando a pessoa realiza a cirurgia muitas vezes ela
deixa de sofrer como antes, mas cada pessoa é diferente, sempre temos que ver o
indivíduo”.
“O
projeto de mudança [da CID] precisa ser amplo, existe um estatuto que cria essa
realidade patologizante das nossas identidades, mas que exclui travestis e
pessoas transexuais, o que a gente vê é a cisgeneridade como um regime político
baseado numa moralidade que historicamente dizimou a existência toda uma
população plural que perdeu sua história”, acredita Magô Tonhon, filósofa e
criadora do Canal Voz Trans*, no YouTube. “Avançamos muito, pois morríamos
mais. Mas precisamos avançar nesse debate como a questão do nome social, que é
uma aberração!”, lamenta.
O
Fórum ainda discutiu pela manhã a despatologização das identidades trans e as
ações Judiciais de alteração de nome/sexo e os laudos psiquiátricos.
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