
O
ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, disse que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva o procurou para saber se havia alguma conta na Suíça em que
tivesse recebido propinas pelo esquema de corrupção investigado na Operação
Lava Jato. De acordo com ele, devido ao nível de informações sobre as operações
negociadas entre a estatal e outras empresas, ficou “claro” que Lula “tinha
pleno conhecimento” e “detinha o comando de tudo”.
Em
depoimento prestado nesta sexta-feira (5) ao juiz federal Sérgio Moro, Duque
contou que se reuniu três vezes com Lula após deixar a Diretoria de Serviços da
empresa, em 2012, e que durante as conversas o ex-presidente o questionou sobre
o andamento dos contratos da Petrobras com estaleiros para a construção de
navios-sonda. A preocupação de Lula, segundo ele, era com os pagamentos feitos
ao PT e com o possível rastro financeiro em contas fora do país que poderia ser
detectado pelas investigações.
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Réu
em um dos processos da Lava Jato em Curitiba, Renato Duque foi reinterrogado
hoje após permanecer em silêncio na audiência do dia 17 de abril. Ele próprio
pediu para ser ouvido novamente. Além de Duque, os ex-ministros Antonio
Palocci, o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e o marqueteiro João
Santana são réus na mesma ação penal.
“No
último encontro, em 2014, já com a Lava Jato em andamento, ele [Lula] me chama
em São Paulo, no hangar da TAM do Aeroporto de Congonhas, e me pergunta se eu
tinha uma conta na Suíça com recebimentos da SBM [empresa holandesa acusada de
pagar propina a funcionários da Petrobras] dizendo que a então presidente Dilma
[Rousseff] tinha recebido informação de que um ex-diretor da Petrobras teria
recebido dinheiro em uma conta na Suíça. Eu falei: 'Não tenho, nunca recebi
dinheiro da SBM'. Aí ele vira pra mim e fala: 'E das sondas, tem alguma coisa?'
E eu tinha, né? Mas eu falei: 'Não, também não tem'. Ele falou: 'Olha, presta
atenção no que eu vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu?
Não pode ter nada no teu nome, entendeu?' Eu entendi, mas o que eu ia fazer?
Não tinha mais o que fazer”, disse.
As
informações referentes aos encontros com Lula foram detalhadas em resposta à
própria defesa de Duque, depois que Sérgio Moro fez seus questionamentos.
Segundo o ex-diretor, a primeira das três reuniões ocorreu a pedido dele
próprio, para “agradecer pelo período” que passou na Petrobras. No depoimento,
Renato Duque conta que, embora funcionário de carreira, chegou à Diretoria de
Serviços da estatal, em janeiro de 2003, após negociações que envolveram o
então ministro da Casa Civil, José Dirceu, que também foi condenado em
processos da Lava Jato.
Institucionalizado
Segundo
o ex-diretor, o esquema de corrupção era “institucionalizado” e vinha de
gestões anteriores. Devido a isso, explicou, os partidos faziam solicitações às
empresas que fechavam contratos com a Petrobras e elas repassavam os valores já
como uma “consequência”. “Isso não era uma obrigação”, disse.
Em
diferentes trechos do depoimento, ele diz que deseja esclarecer o que estiver a
seu alcance e que quer pagar pelo que fez. Renato Duque, que está em preso há
mais de dois anos após mandados expedidos por Sérgio Moro, relatou também ter
três contas no exterior cujo dinheiro, segundo ele, poderia ser repatriado
pelos investigadores para retornar a “quem de direito”. De acordo com ele, pelo
menos 20 milhões de euros (cerca de R$ 69,84 milhões) ainda estão em sua posse
no exterior.
Na
Petrobras, Duque era o responsável por repassar as vantagens indevidas ao PT. A
partir de 2007, as negociações passaram a ser feitas com João Vaccari Neto,
ex-tesoureiro do partido, segundo o ex-diretor, cumprindo determinação do
próprio Lula. “Fui chamado a Brasília pelo então ministro Paulo Bernardo, essa
pessoa falou: 'Você vai conhecer uma pessoa indicada pelo... e fazia um
movimento [com as mãos, na barba e no queixo]. O Lula era chamado como Chefe,
Grande Chefe, Nine ou esse movimento com a mão. A pessoa que está sendo
indicada, ela que vai ser agora quem vai atuar junto a empresas que trabalham
com a Petrobras. Foi quando conheci o Vaccari em 2007”, disse.
Durante
o depoimento, que durou mais de uma hora, o ex-diretor de Serviços da Estatal
detalha que, no caso específico dos contratos envolvendo a Sete Brasil, foi
acordado o repasse de 0,9% de propina dos valores pagos pelos cinco estaleiros
contratados para construir os navios-sonda. A vantagem ilegal seria dividida
igualmente entre o PT e os funcionários da Petrobras. A Sete Brasil foi criada
pela estatal para explorar o petróleo na camada pré-sal.
Outro
lado
Em
nota à imprensa, a assessoria de Luiz Inácio Lula da Silva acusa os
procuradores da Lava Jato de fabricar “depoimentos mentirosos” na tentativa de
produzir provas para as “denúncias levianas” contra ele, após “dois anos de
investigações. De acordo com a defesa do ex-presidente, veículos da imprensa já
“vinham antecipando estranhamente o suposto teor” do depoimento, “sempre com o
sentido de comprometer Lula”.
“O
desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula
vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula
foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública.
Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu
unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da
OAS [Leo Pinheiro e Agenor Medeiros] e, agora, o de Renato Duque”, diz a defesa
do ex-presidente.
Ainda
no comunicado, a assessoria diz que os depoentes são condenados a mais de 20
anos de prisão, nunca haviam mencionado o ex-presidente ao longo do processo e
teriam sido “coagidas a negociar benefícios penais”. “O que assistimos nos
últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na
mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e
muito menos nos autos”, diz a defesa.
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