O
empresário Joesley Batista, dono da JBS, e o diretor de Relações Institucionais
e Governo da empresa, Ricardo Saud, afirmaram em depoimentos à
Procuradoria-Geral da República (PGR) que repassaram dinheiro à campanha do
então candidato à Presidência da República, Aécio Neves, por meio de caixa 2.
Em um dos 15 depoimentos que prestou para fechar acordo de delação premiada,
Saud diz que, diante da possibilidade de Aécio vencer a disputa em 2014, a JBS
“abriu um crédito de propina que chegou a quase R$ 100 milhões”. Segundo o
executivo, parte dessa quantia foi usada para “comprar” o apoio de partidos à
candidatura do tucano.
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“Somando
tudo, dá R$ 100 milhões para o Aécio, tudo em propina. Uma parte ele ia pagar a
gente de volta, caso ganhasse. Pelo jeito, ficou para a próxima e estou pondo
juros e correção. Se ele ganhar na próxima, ele paga”, ironiza Saud diante dos
procuradores e advogados.
De
acordo com o executivo, além de se comprometer a beneficiar a empresa caso
chegasse a ocupar o Palácio do Planalto, Aécio teria sinalizado que atuaria
junto ao governo de Minas Gerais para favorecer a JBS, que tentava obter a
liberação de créditos financeiros, entre outras coisas. De acordo com o
executivo, isso também não se concretizou.
Ao
depoimento, o diretor anexou cópias de documentos que, segundo ele, comprovam o
repasse às legendas. Saud cita nomes, datas e até números de contas bancárias.
Entre eles, os de dirigentes partidários cooptados com o dinheiro da empresa.
“Começaram
a vender que havia uma expectativa real de que o Aécio podia vencer a eleição,
mas para vencer eles precisavam comprar os partidos. Porque os partidos grandes
todos já estavam vendidos para o PT. Essas vendas eram feitas uma parte em
dinheiro, outra com promessas de ministério ou cargos no governo”, alegou Saud.
Em
nota, a defesa do senador afastado Aécio Neves afirmou que as declarações são
mentirosas. "Todos os recursos da JBS recebidos pela campanha foram
doações oficiais e não envolveram qualquer tipo de contrapartida ou de uso de
dinheiro público". Os advogados defendem ainda que nunca houve atuação do
senador a favor da empresa e "desconhece todas as questões citadas pelo
delator relativas a ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação
de Serviços]".
"Em
2014, um total R$ 50,2 milhões foram doados pela empresa ao comitê financeiro
nacional e à Direção Nacional do PSDB. Desse total, R$ 30,44 milhões foram
repassados para a campanha presidencial e encontram-se devidamente registrados
na prestação de contas do partido. Outros R$ 6,3 milhões foram doações feitas a
diretórios regionais e candidatos estaduais e R$ 4 milhões doados no período
pré-eleitoral, totalizando R$ 60,5 milhões em doações rigorosamente declaradas
à Justiça Eleitoral", acrescentam os advogados.
Doações
De
acordo com Saud, do “crédito de propina aberto para Aécio”, a JBS repassou, por
meio de “doações dissimuladas oficiais”, R$ 20 milhões para o PTB; R$ 15
milhões para o Solidariedade; R$ 1,3 milhão para o PMN e R$ 1 milhão para o
PTdoB. Além disso, a empresa também teria pago pelo apoio do PEN (R$ 500 mil);
PPN (R$ 400 mil); PPC (R$ 400 mil); PTC (R$ 250 mil); PTN (R$ 250 mil); PSL (R$
150 mil); PSC (R$ 100 mil) e PSDC (R$ 50 mil). Os partidos têm negado as
acusações de recebimento de doações não oficiais para campanha.
O
executivo também disse que Aécio teria pedido R$ 1,5 milhão para o diretório
estadual do PMDB no Rio Grande do Sul, onde, apesar da aliança nacional do
partido com o PT, a legenda lançou candidato próprio (o atual governador Ivo
Sartory). “O Aécio deu R$ 1,5 milhão desse dinheiro de propina para o Sartory,
por meio de doação oficial dissimulada”, declara Saud no depoimento gravado.
O
Democratas também teria sido contemplado com recursos destinados a Aécio Neves,
mas o delator não deixa claro quanto foi liberado. Saud mesmo explica aos
procuradores que DEM e Solidariedade já faziam oposição ao PT e à candidata à
reeleição, Dilma Rousseff. Portanto, segundo ele, seria de esperar que ambos se
unissem espontaneamente a Aécio. “De todo jeito, foi prometido para o partido
[DEM] R$ 10 milhões, mais a coordenação-geral da campanha para o Agripino
Maia”. Após relatar uma contrariedade entre Aécio e Maia, Saud não deixa claro
quanto exatamente foi liberado ao DEM.
“O
Aécio virou uma sarna em cima do Joesley [dono da JBS]. Ligava ele, a irmã dele
[Andrea Neves], o primo...[ligavam] para o Joesley, para mim […] pedindo
propina, dizendo que estavam devendo demais da campanha”, acrescentou Saud.
Já
o dono da JBS, Joesley Batista, afirmou em seu depoimento que, mesmo após o fim
da campanha de 2014, quando Aécio já tinha sido derrotado, o tucano continuou
lhe pedindo dinheiro. Os supostos pedidos teriam cessado entre 2016 e fevereiro
de 2017, quando Joesley afirma ter voltado a se encontrar com Andrea Neves, que
teria lhe pedido R$ 2 milhões para que o tucano pagasse despesas com seu
advogado, Alberto Toron, na defesa dos processos da Lava Jato.
Joesley
contou aos procuradores que, após algum tempo, se reuniu com o próprio Aécio,
em São Paulo, e acertou o pagamento da quantia em quatro prestações de R$ 500
mil. Joesley gravou esse encontro com Aécio. No áudio entregue ao MPF, o
empresário combina a entrega da quantia.
A
defesa de Aécio confirma que o senador afastado pediu R$ 2 milhões a Joesley,
mas como um empréstimo. Em nota, os advogados acrescentam que "foi
proposta, em primeiro lugar, a venda ao executivo de um apartamento de
propriedade da família. O delator propôs, entretanto, já atendendo aos
interesses de sua delação, emprestar recursos lícitos".
"Não
fosse a intenção do delator, única e exclusivamente, gravar as conversas em
benefício próprio, teria essa transferência sido feita naturalmente e
regularizada, através de contrato de mútuo, para que o acordo com os advogados
pudesse ser concretizado posteriormente". A defesa acrescenta que o pedido
de empréstimo foi feito sem a oferta de qualquer contrapartida "e sem
qualquer ato, por parte do senador, que possa ser considerado ilegal".
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