Agência Brasil
O diretor
técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), Clemente Ganz Lúcio, disse hoje (21) acreditar que as mudanças na
Previdência poderão prejudicar quem trabalha na informalidade.
Segundo Lúcio,
parte da população brasileira vive em um hiato de desproteção trabalhista e
previdenciária.
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“Parte da força de trabalho trabalha 12
meses, mas contribui seis meses ao ano. Há o problema da rotatividade [no
emprego], vários motivos pelos quais eles não contribuem”, afirmou Lúcio.
De acordo com o diretor do Dieese, essa desproteção é verificada no início e,
principalmente, no fim da vida ativa.
“Deixar a contribuição acumular-se depois dos
50 anos é condenar à exclusão, pois, crescentemente, o processo é de exclusão
participativa da contribuição no fim da vida ocupacional.” Lúcio ressaltou
ainda que as regras de cálculo propostas diminuem o valor dos benefícios.
A Proposta de Emenda
à Constituição (PEC) 287/2016, que reforma a Previdência, prevê idade mínima de
65 anos para homens e mulheres se aposentarem. O tempo mínimo de contribuição
deve subir de 15 anos para 25 anos. Pelo novo modelo, para se aposentar com
acesso ao benefício integral, será necessário contribuir ao longo de 49 anos.
“Caso um
trabalhador que recebe o salário mínimo contribua ininterruptamente, em relação
à última renda [enquanto ativo], ele perde um terço [ao se aposentar pelas
novas regras]. Em relação à regra anterior, perde 18%. Portanto, há uma redução
substantiva do valor do benefício”, afirmou.
Combate
à informalidade
O presidente do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Leonardo de Melo Gadelha, afirmou
que o combate à informalidade é uma das preocupações do governo. Ele citou o
recurso do microempreendedor individual, categoria jurídica que permite a
pequenos trabalhadores autônomos contribuir com a Previdência e pagar outros
tributos de forma simplificada.
Gadelha
afirmou, citando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que até 2060 a população acima de 60 anos no país saltará de 22 milhões
para 73 milhões de pessoas. Na avaliação dele, a reforma da Previdência é
necessária para garantir a sustentabilidade do sistema, corrigir distorções e
igualar a situação dos servidores públicos à dos trabalhadores do setor
privado.
“A harmonização das regras de servidores com
trabalhadores da iniciativa privada é um processo que já se iniciou. Quem
ingressou [no serviço público] após 2012 já tem o mesmo teto que os celetistas”,
afirmou. Para ele, no entanto, ainda é preciso fazer correções. Para Gadelha, a
proposta de reforma “alinha o Brasil
àquilo que os países mais desenvolvidos fizeram”.
Aposentadoria
precoce
Já o
coordenador de Previdência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
Rogério Nagamine, afirmou hoje (21) que a aposentadoria por tempo de
contribuição – atualmente uma das alternativas possíveis, no Brasil – permite
“aposentadorias precoces” de pessoas “em
plena capacidade laboral”. Nagamine disse também que esse modelo privilegia
os mais bem remunerados. Para Nagamine, conceder aposentadoria para pessoas com
plena capacidade laboral "é
distorcer o sentido da Previdência. Nas unidades mais ricas da Federação, mais pessoas
aposentam-se por tempo de contribuição e menos por idade,”
Segundo o
representante do Ipea, metade da despesa primária da União hoje é com a
Previdência. “Não podemos fazer esse debate como se os recursos fossem
ilimitados. São escolhas difíceis”, disse Nagamine. Ele afirmou ainda que a
população está envelhecendo em ritmo acelerado e que isso causará
desequilíbrio.
“A gente está tendo um ritmo de
envelhecimento muito superior ao da Europa. Demorou 50 anos para [a Europa]
passar de 11% para 20% da população idosa. O Brasil vai fazer esse mesmo
processo em 20 anos. Vai haver uma piora significativa da relação entre
contribuintes e beneficiários. Em 2000, tínhamos 11 pessoas para sustentar cada
idoso. Em 2040, serão duas”, disse.
Já o presidente
da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio dos Santos Neto, afirmou
que o governo, ao propor a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria,
compara o Brasil a países desenvolvidos, mas não o faz quando se trata da
qualidade de vida dos trabalhadores.
O representante
da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Gilson Reis, disse que, se a
reforma for aprovada como está sendo proposta, aumente a procura por planos de
previdência privada.
Os
representantes das centrais sindicais e do governo discutiram a situação da
Previdência em audiência pública na comissão especial para análise da PEC
287/2016 na Câmara dos Deputados.
Protesto
Enquanto o
debate ocorria, representantes da Central Sindical Popular (CSP) protestaram
contra a reforma no início do corredor que dá acesso aos plenários onde se
desenvolvem os trabalhos das comissões da Câmara.
Entre 15 e 20
manifestantes empunharam cartazes, sopraram apitos e entoaram gritos de “Não à reforma”. Um acordo entre os
parlamentares prevê que só podem entrar no plenário onde é discutida a reforma
aqueles que forem convidados pelas lideranças dos partidos.
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