Com a promessa
de ouvir diferentes posições antes de definir uma proposta, o governo começa
hoje (17) a discutir a reforma da Previdência. A intenção é ouvir as sugestões
das centrais sindicais e dos representantes dos empresários, para enviar, até o
fim do primeiro semestre, proposta ao Congresso Nacional para apreciação dos
parlamentares.
De acordo com
integrantes do governo que participam dos debates, o tema será inserido no
contexto de uma “agenda de crescimento”, a ser apresentada aos integrantes do
Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e de Previdência
Social. Será a terceira vez que o fórum vai se reunir e desta vez o objetivo do
governo é dar respostas à pauta apresentada pelos trabalhadores e o setor
empresarial em dezembro, quando divulgaram o documento Compromisso pelo Desenvolvimento, sugerindo propostas como a retomada de investimentos
e o aumento da produção.
Além disso, será criado um cronograma e definidas as metodologias para os
debates sobre a Previdência. O governo quer mostrar que ainda não há uma
proposta finalizada e, por isso, todas as alternativas serão colocadas na mesa,
inclusive a possibilidade do aumento da idade mínima para aposentadoria. As
novas regras sancionadas em novembro, que somam o tempo de contribuição e a
idade, estão sendo definidas como “ponto de partida” para as discussões. Além
dos empresários, trabalhadores e representantes do governo, a participação de
alguns deputados ligados ao tema também é esperada.
Não estão
descartadas análises de soluções polêmicas, como convergência das idades de
aposentadoria entre homens e mulheres, entre trabalhadores rurais e urbanos.
Hoje, a faixa etária varia para trabalhadores do sexo masculino (65) e feminino
(60) e quem trabalha no campo se aposenta por idade na condição de segurado
especial. Com as novas regras, os homens que se aposentarem até 2018 poderão
receber 100% do benefício quando a soma da idade e do tempo de contribuição for
95. No caso das mulheres, a soma tem que chegara 85.
Para José Wilson Gonçalves, que vai participar do fórum representando a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, a entidade está preparada para “enfrentar” medidas que podem vir como “ameaça às conquistas dos trabalhadores”. “Ficaria muito ruim o governo apresentar uma proposta construída sem um cronograma com a participação das organizações. Entendemos que idade diferenciada para homens e mulheres no campo é uma conquista da Constituição Federal de 1988 e não podemos retroceder”, afirmou Gonçalves, ressaltando peculiaridades dos moradores de zonas rurais que começam a trabalhar mais cedo e passam por “várias adversidades”.
Em janeiro, a
presidenta Dilma Rousseff disse que o país terá que “encarar a reforma da
Previdência” e que “não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil
seja 55 anos”, já que a expectativa de vida dos brasileiros está aumentando.
Com base nesse
argumento e nos dados que apontam aumento das despesas obrigatórias vinculadas
à Previdência, o Palácio do Planalto quer convencer a sociedade da importância
de discutir o assunto. A estratégia também passa pela necessidade de ressaltar
que as mudanças terão um período de transição e que os direitos adquiridos não
serão desrespeitados. Foi assim que o governo apresentou a ideia, no mês
passado, aos integrantes do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social. O intuito é debatê-la no fórum e
também no chamado Conselhão.
O primeiro teste de convergência, porém, se dará no âmbito do próprio governo. Enquanto técnicos do Ministério da Fazenda apostam no aumento da idade mínima como solução, a equipe ligada à pasta do Trabalho e Previdência discorda, sob a alegação de que estabelecer idade igual para todos prejudicaria os cidadãos que começam a trabalhar mais cedo. Além disso, as próprias centrais já se manifestaram contra o aumento da idade.
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