Paula
Laboissière - na Agência Brasil
Contrariando
expectativas para o pleito presidencial norte-americano deste ano, o empresário
bilionário e candidato pelo Partido Republicano Donald Trump venceu na
madrugada de hoje (9) a ex-primeira dama e ex-secretária de Estado Hillary
Clinton, do Partido Democrata. A Agência Brasil ouviu especialistas para
saber o que muda para o Brasil com o resultado das eleições nos Estados Unidos.
Economia
O que muda
para o Brasil, sob o aspecto econômico, pode ser o que vai mudar para o
comércio mundial como um todo. A avaliação é do economista e professor da Fundação
Getúlio Vargas, Mauro Rochlin. A leitura dos efeitos da vitória de Donald
Trump, segundo ele, é bem mais abrangente sob o ponto de vista econômico e diz
respeito a todo o comércio internacional.
“Como o
discurso de Trump é muito protecionista e um tanto xenófobo, o receio é que
isso represente uma restrição maior do mercado norte-americano em relação às
exportações. O discurso apontava para a defesa de empregos norte-americanos e,
especificamente, para a China como uma destruidora de empregos nos Estados
Unidos, o que faria supor que eles seriam menos receptivos com relação ao
comércio com países que pudessem representar uma menor oferta de empregos lá.”
O especialista
acredita que as exportações brasileiras podem ser prejudicadas caso o discurso
do então candidato se converta na prática do agora presidente eleito Donald
Trump.
“Os Estados
Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil. As
exportações brasileiras para lá têm alto valor agregado. São produtos
manufaturados, ao contrário do que vai, por exemplo, para a China, que são commodities.
Qualquer restrição com relação ao mercado norte-americano seria ruim para o
nosso setor exportador, principalmente de bens manufaturados. Esse é o maior
risco para a economia brasileira”.
Rochlin defende
ainda que, diante do novo cenário de vitória de Trump, os mercados devem
“reprecificar” câmbio e bolsas de valores. “As bolsas e o câmbio refletiam a
aposta da eleição da Hillary. Como a expectativa não se confirmou, o mercado
deve precificar essa nova realidade. Na prática, teremos queda na bolsa de
valores a curtíssimo prazo e uma alta do dólar em relação às demais moedas”,
concluiu.
Relação
bilateral
Sob a ótica
política e da relação bilateral com o Brasil, o professor de política e
administração pública Robert Gregory Michner acredita que os efeitos serão
menores. Ele lembrou que a agenda de Donald Trump, em sua maioria, é “de ordem
doméstica”, cumprindo a tradição da velha guarda republicana nos Estados
Unidos.
“Ele não tem
uma grande preocupação com a América Latina, salvo no sentido negativo, em
termos de imigração ilegal. Para os brasileiros que queiram ir para os Estados
Unidos, provavelmente vai ficar mais difícil obter visto”, disse. “Aquela
defesa da democracia e de um governo aberto que tem Barack Obama não vai ser de
muita importância para Trump. Vai ser mais importante assegurar que todos sejam
aliados dos Estados Unidos. Que o Brasil e a América Latina estejam firmemente
pró Estados Unidos.”
O especialista
alertou, entretanto, para a possibilidade de intervencionismo por parte dos
Estados Unidos, inclusive em países da América Latina. “Se o Trump percebe uma
ameaça, por exemplo, [da] Venezuela ou Equador, quem sabe se ele vai
ressuscitar a velha política dos republicanos de intervenção?”
“Basicamente,
vamos ver se o discurso dele, que era muito hiperbólico, exagerado, realmente
era pura retórica ou se era um prelúdio à ação. As promessas eram muito
extremas em termos de política externa, de mudar grandes estratégias dos
Estados Unidos em diversos sentidos. O discurso de Trump sempre foi racista,
misógino e pouco tolerante. Vamos ver se isso se traduz, especialmente em
relação aos imigrantes. Fica uma incógnita.”
Brasil
entre os menos afetados
Em entrevista
ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, o jurista brasileiro e
ex-ministro das Relações Exteriores Francisco Rezek avaliou que o Brasil figura
entre os países menos afetados com a vitória esperada de Donald Trump nas
eleições presidenciais norte-americanas.
“No restante
do mundo e sobretudo entre os países que mais importam, eu diria que o Brasil é
provavelmente um dos menos afetados. Há outros países que têm mais com o que se
preocupar do que nós. Sobre nós, o que repercute é apenas essa ideia de que
temos, na chefia daquilo que ainda é a nação militarmente e economicamente mais
poderosa do mundo, alguém que não tem como avaliar o fenômeno global, os
interesses nacionais à luz da comunidade humana que povoa o planeta. É isso que
falta a Donald Trump. Nesse sentido, como somos uma parte expressiva deste
mundo, um país de dimensões territorial e humana colossais, o problema nos
afeta. Mas ele decididamente não nos afeta mais do que a outros, como a
comunidade europeia, o Reino Unido, a Rússia e outras nações.”
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