Pesquisa
divulgada no Rio de Janeiro, revela como o vírus Zika age nos tecidos cerebrais
levando a malformações neurológicas em bebês, entre elas a microcefalia. O
trabalho, publicado na revista científica Science, pode ajudar a encontrar
medicamentos que reduzam os danos causados pelo vírus na infecção de grávidas.
O estudo foi
feito por cientistas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderados pelo neurocientista
das duas instituições Stevens Rehen, com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Academia
Brasileira de Ciências.
A partir de
células-tronco humanas, os pesquisadores criaram minicérebros ou organoides
cerebrais, similares ao cérebro humano em desenvolvimento. Os modelos adotados
são complexos do que culturas celulares. “A partir do momento em que a gente
usa neuroesferas e minicérebros, consegue identificar alterações que não
observaria com outro tipo de estratégia”, explicou Rehen. Segundo o
neurocientista, a metodologia permite identificar a relação entre o Zika e a
malformação e mostrar como as consequências variam de acordo com a etapa da
gravidez em que ocorre a infecção.
Tratamento
A partir desse
modelo de pesquisa, dez medicamentos estão sendo testados para impedir a
infecção ou reduzir os impactos do vírus sobre o cérebro. Um deles, segundo
Rehen, pode reduzir a morte cerebral causada pelo Zika. No entanto, serão
necessários novos testes para apresentar o medicamento como alternativa para as
mulheres grávidas.
Os remédios em
teste já têm a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
para outras doenças e poderiam ter no combate ao vírus Zika um segundo uso.
Dados
preliminares sobre a eficácia do medicamento mostram que a fórmula protege
contra o ataque do vírus, mas não está confirmado se é capaz de reduzir a
replicação viral dentro da célula-tronco neural, de acordo com o
neurocientista. Rehen espera chegar a novas conclusões sobre a possibilidade de
tratamento em dois meses.
Os cientistas
também expuseram os minicérebros ao vírus da dengue, mas perceberam que, apesar
de a infecção ser maior que a do vírus Zika, praticamente inexistem as
consequências relacionadas a malformações. “Não há danos ao tecido. O vírus
replica, mas ele não tem como consequência alterar o padrão de morte celular,
nem alterações morfológicas, nem malformações no modelo que a gente usa”.
Dependendo do
modelo utilizado, a pesquisa indicou que o vírus Zika pode agir em um tecido do
cérebro com três dias, seis ou 11 dias de infecção. “Dependendo de quando
acontece essa infecção, as consequências para a formação do tecido podem ser
mais ou menos drásticas”. Com 11 dias, o crescimento do minicérebro é 40% inferior
ao dos não infectados, revelou a pesquisa.
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