O projeto de
lei que acaba com a participação obrigatória da Petrobras na exploração dos
campos do pré-sal, aprovado na última quarta-feira (24) no Senado, divide
opiniões não apenas no meio político, mas também entre especialistas do setor.
Alguns citam a possibilidade de mais investimentos com a entrada de novas
empresas, enquanto outros veem riscos na retirada do monopólio da exploração da
estatal.
A proposta
aprovada diz que a Petrobras terá a prerrogativa de escolher se quer ser
operadora do campo ou se prefere se abster da exploração mínima de 30% a que a
lei a obriga atualmente. O texto ainda será votado na Câmara dos Deputados.
O fim da
participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal é um
equívoco, pois retira do país o controle sobre a produção de petróleo, o que
pode se refletir no preço do produto, afirma o professor Ildo Sauer, do
Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP).
“Se o objetivo
do país é obter um retorno maior com esse recurso natural, é preciso manter o
controle sobre a produção e o ritmo de produção. Se, com a Petrobras como
operadora isso já era fraco, com a abertura para as multinacionais, acabou o
controle, o país está renunciando à sua soberania sobre o petróleo”, diz o
especialista.
Ex-diretor da
Petrobras, Sauer também cita o risco da segurança ao deixar a exploração nas
mãos de empresas multinacionais, lembrando recentes vazamentos de óleo nos
mares do país. “A Petrobras tem demonstrado no mundo inteiro ser a empresa de
maior capacidade. Fora os problemas de diretoria, é a melhor empresa para fazer
isso.” Segundo Sauer, a estatal não tem problemas de financiamento para a
produção de petróleo.
Novos
investimentos
Para o diretor
do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a proposta
aprovada no Senado “abre um clarão” no sentido de atrair novos investimentos,
enquanto a Petrobras não tem condições econômicas e financeiras de assumir as
responsabilidades que a lei da partilha lhe dá, que é a obrigatoriedade de
participar de todos os consórcios de exploração com no mínimo 30% e o monopólio
da operação. Segundo Pires, a estatal foi vítima de uma “grande barbeiragem”
nos últimos anos.
“O Brasil não
pode esperar pela Petrobras. Hoje o país está em uma situação de crise
econômica em que precisa atrair investidores”, diz. Na avaliação de Pires, é
preciso ter uma regulação adequada e em sintonia como o mercado internacional
para atrair investidores ao país.
Ele destaca
que, se a proposta for aprovada como está na Câmara dos Deputados, e for
sancionada, é possível que o governo faça leilões de petróleo no pré-sal já no
ano que vem. “E aí um leilão com essas modificações que foram feitas no Senado
tem possibilidade muito maior de ter sucesso do que teria se mantivesse a lei
da partilha como ela está até hoje."
Resultado
prudente
O texto do
projeto aprovado no Senado foi um “resultado prudente”, diz o professor
Alexandre Szklo, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa
de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ). De acordo
com Szklo, ao permitir à Petrobras exercer a preferência, sem obrigá-la a
explorar todas as áreas, o projeto beneficia a estatal.
“Se for mantido
dessa forma, em princípio, não fere a prioridade, nem os interesses da
Petrobras, mas, ao mesmo tempo, não a obriga a ficar sufocada, eventualmente
tendo que ir para determinadas áreas aonde ela não tem interesse”, acrescenta
Szklo. Ele ressalta que, mesmo dentro do pré-sal, existem campos que, para a
Petrobras, não seria interessante explorar.
“Mesmo em uma
área considerada estratégica, e que foi propalada como o passaporte do Brasil
para o mundo dos hidrocarbonetos líquidos, ela tem heterogeneidade. Então, não
necessariamente é só uma questão de a Petrobras ter, ou não, capacidade de
investir, mas tem áreas em que talvez não seja do interesse dela investir, e
tem outras áreas que são nobres”, enfatiza o professor da Coppe.
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