
Mais de 8,7
mil pessoas que, entre as décadas de 1950 e 1980, contraíram hanseníase e foram
internadas compulsoriamente em hospitais-colônias já estão recebendo pensão
como indenização do Estado.
Os dados são
da Secretaria de Direitos da Presidência da República, responsável pela
coordenação da comissão que analisa os processos. Os números se referem até
setembro deste ano. Eles foram apresentados hoje (1º), durante o 8º Simpósio
Brasileiro de Hansenologia, na capital paulista. Inicialmente, a estimativa do
governo federal é que 4 mil pedidos seriam feitos.
Desde 2007,
com a Lei Federal 11.520, pessoas submetidas ao isolamento forçado passaram a
ter direito a uma pensão de um salário mínimo e meio. Até 1986, uma lei
recomendava a internação desses pacientes em locais chamados, à época, de
leprosários. Com o fim dessa política de prevenção, as unidades foram
transformadas em hospitais gerais. No total, foram feitas 11.963 solicitações,
mas apenas 3.171 foram indeferidas.
Maria Eugênia
Gallo, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, informou
que, em alguns casos, faltam documentos que comprovem o isolamento. “Esses
livros [de registro de internação de pacientes] são muito preciosos.
Infelizmente, das dezenas de leprosários que tivemos em todo o país, temos
apenas três livros para consultar. O restante da documentação é muito precária
ou inexistente.”
Ela destacou
os isolamentos ocorridos no Acre, onde está boa parte (46 dos 145) dos pedidos
de indenização judicializados. “Temos levantamento, mas poderia dizer que 90%
são totalmente incapacitados. Eles eram diagnosticados e mandados para os
seringais, onde continuavam exercendo a profissão, sem nenhuma orientação ou
tratamento adequado. Não temos como avaliar o processo, porque não existe
documentação.” O Acre perde apenas para Minas Gerais, com 63 do total de casos
judicializados.
O Movimento de
Reintegração das pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) luta para estender
esse direito aos filhos de portadores de hanseníase que foram entregues para
adoção, gerando a separação de milhares de famílias. Thiago Flores, diretor
nacional do movimento, disse que, embora exista a percepção de que essa é uma
reparação importante, os entraves atuais para andamento do projeto de lei no
Congresso são políticos e financeiros.
“Hoje, você
tem dificuldade para conseguir um projeto que traga mais gastos para o governo.
Do ponto de vista do reconhecimento de direitos, conseguimos avançar bastante.
Nosso principal problema é econômico. O que trava o projeto é a questão
orçamentária”, afirmou Flores. A estimativa é que 10 mil brasileiros ainda
buscam familiares separados pelo isolamento compulsório de pacientes com
hanseníase.
Preconceito
Para o diretor
da Morhan, o combate ao preconceito e a capacitação de profissionais para
diagnóstico precoce são os principais desafios para enfrentar a hanseníase.
Segundo ele, hoje a doença é tratada como outra qualquer e o risco transmissão
é interrompido a partir da primeira dose do tratamento.
“Muitas
pessoas ainda têm a visão da doença como lepra bíblica, uma visão de que a
doença é uma maldição, um castigo. A partir do momento em que não temos
informação de que a doença é comum, fica muito difícil a adesão ao tratamento.”
Flores é filho
de pais com hanseníase e que foram isolados compulsoriamente na colônia Santa
Izabel, em Betim, Minas Gerais. Quando ele nasceu, já era permitido que os pais
permanecem com os filhos. É lá que eles moram até hoje.
“Na minha
época, a colônia já era aberta, livre e não tinha mais a questão dos filhos
separados.” Segundo Thiago Flores, desde 1984, em Santa Izabel, os pacientes
tinham direito a deixar a colônia. Acrescentou que a maioria permaneceu no
local por viver lá há décadas e ter perdido o vínculo com a família, além do
medo do preconceito.
Passados 30
anos, ele reconhece que, apesar de a colônia existir como um bairro comum no
município, ainda há preconceito, pela falta de informação sobre a área da Santa
Izabel. “As pessoas ainda carregam um estigma muito grande, principalmente nas
cidades, porque essas colônias foram construídas em áreas isoladas. Tem
diminuído, mas ainda há preconceito em relação às pessoas que ainda vivem em
regiões de colônias, por causa da falta de informação.”
De acordo com
o Ministério da Saúde, a hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa,
que atinge pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades
físicas. No Brasil, foram 31.064 novos casos diagnosticados em 2014.
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