Por Marcelo
Pellegrini e Wanderley Preite Sobrinho
Após manobra
de Eduardo Cunha, parlamentares que rejeitaram proposta na terça votaram “sim”
na noite de quarta-feira; só no PRB foram 18 mudanças.
Nada menos do
que 71 deputados federais mudaram de voto de um dia para o outro e, sob pressão
do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aprovaram na noite de
quarta-feira 27, em primeiro turno, a inclusão, na Constituição, do
financiamento empresarial de campanha.
A Proposta de
Emenda Constitucional 182/07 foi aprovada com 330 votos a favor, 22 acima do
mínimo necessário (308), contra 141 votos e uma abstenção. Na terça-feira 26, o
apoio do plenário havia sido insuficiente para aprovar a medida: 264
votos, 44 a menos do que o necessário para uma mudança constitucional. Na proposta
de terça, o financiamento privado abrangia partidos e candidatos, enquanto na
votação de quarta, a permissão é apenas para partidos políticos.
Ao todo, 68
parlamentares mudaram seu voto de “não” para “sim”, enquanto três deputados que
se abstiveram na votação de terça 26 optaram pelo “sim” na quarta 27.
Após a derrota
inicial, Cunha passou todo o dia pressionando seus aliados a mudar seus votos.
Às pequenas legendas, o recado foi claro: se elas não seguissem sua orientação,
ele trabalharia pela aprovação de uma proposta que aumenta a quantidade de
deputados que um partido precisa ter para obter acesso aos recursos do Fundo
Partidário, a chamada cláusula de barreira. Essa medida, se aprovada, pode
asfixiar os chamados partidos nanicos.
Com isso, 15
deputados de partidos pequenos (PEN, PHS, PMN, PRP, PRTB, PSDC, PSL, PTC,
PTdoB, PTN e PV) mudaram de lado. Dos 32 votos dessas legendas, 28 foram
favoráveis à reforma política de Cunha.
Mas a pressão
do peemedebista chegou a quase todas as siglas, a começar pelo PRB. Nada menos
do que 18 deputados trocaram de voto. O PMDB de Cunha foi o segundo partido com
mais parlamentares contraditórios, com nove mudanças do “não” para “sim” e um
parlamentar que se absteve na terça, mas votou “sim” na quarta-feira.
Parlamentares vibram após aprovação do financiamento privado |
DEM e PSC
aparecem na sequência, com cinco deputados "vira-casaca" cada. No
PSC, entretanto, o Irmão Lazaro (BA) rejeitou a mudança constitucional na
segunda votação, embora tenha votado diferente no dia anterior. PP e PV
registraram quatro mudanças pelo “sim”, enquanto Evair de Melo (PV-ES) fez o
caminho contrário e votou pelo "não".
No PR e no
PROS, três mudanças de voto em favor da reforma de Cunha, embora Silas Freire
(PR-PI) e Antonio Balhamn (PROS-CE) tenham mudado seus votos para “não”. O PSB
foi o único partido em que houve mais mudanças pela rejeição à emenda. Dois
alteraram seus votos em favor da proposta de Cunha, enquanto três fizeram o
oposto: Júlio Delgado (MG), Pastor Eurico (PE) e Rodrigo Martins (PI).
Até partidos
cujas bancadas votaram em peso pelo financiamento privado viram parlamentares
que votaram contra a medida na terça alterarem seu posicionamento no dia
seguinte. No PSD e Solidariedade foram dois votos, enquanto no PSDB as duas
abstenções da terça viraram “sim” na quarta-feira.
Além do DEM,
toda a bancada do PTB e do PRB foi unânime no apoio à constitucionalização do
financiamento empresarial de campanha. Entre os nanicos, a proposta teve o
apoio de todos os deputados de PMN, PEN, PHS, PRP, PRTB, PSDC, PSL, PTC e
PTdoB. Partidos como o PSDB, PSC, PSD e Solidariedade tiveram apenas um voto
contrário à proposta.
Já o PP chama
a atenção por outro motivo. Partido com mais nomes investigados na Lava Jato –
operação da Polícia Federal que escancarou as fragilidades do financiamento
privado –, assistiu boa parte dos suspeitos reafirmando o aval ao financiamento
de empresas. Dos 19 investigados do partido, 15 compareceram à sessão e apenas
dois votaram contra o financiamento empresarial.
Autoridades do
governo, como o ex-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, enxergam
o financiamento empresarial como "a raiz mais profunda da corrupção".
Entidades como a OAB, CNBB e movimentos sociais compartilham o mesmo
entendimento.
Outro lado
Procurado
por CartaCapital, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ)
disse que a mudança do posicionamento dos deputados de seu partido se deve às
propostas serem distintas. "São duas propostas diferentes, uma queria a
doação empresarial para partidos e pessoas, outra apenas para partidos",
disse.
Para ele, a
proposta aprovada pela Câmara é melhor do que a anterior porque fortalece os
partidos. "Ao permitir o financiamento empresarial apenas para partidos,
tornamos a relação com os doadores mais institucional e menos personificada.
Isso fortalece os partidos e os coloca como responsáveis pelo bom uso e pela
transparência dos recursos", afirma.
Confira a
lista completa dos 71 deputados que mudaram seus votos:
DEM:
Jorge Tadeu
Mudalen (SP)
Mandetta (MS)
Misael Varella
(MG)
Moroni Torgan
(CE)
Professora
Dorinha Seabra Rezende (TO)
PDT:
Roberto Góes
(AP)
PMDB:
Baleia Rossi
(SP)
Daniel Vilela
(GO)
Edinho Bez
(SC) – se absteve na terça e votou pelo “sim” na quarta-feira
João Arruda
(PR)
Lelo Coimbra
(ES)
Marinha Raupp
(RO)
Rodrigo
Pacheco (MG)
Ronaldo
Benedet (SC)
Roney Nemer
(DF)
Vitor
Valim (CE)
PMN:
Antônio Jácome
(RN)
Hiran
Gonçalves (RR)
PP:
Conceição
Sampaio (AM)
Missionário
José Olímpio (SP)
Odelmo Leão
(MG)
Sandes Júnior
(GO)
PR:
Cabo Sabino
(CE)
Lincoln
Portela (MG)
Paulo freire
(SP)
PRB:
Alan Rick (AC)
André Abdon
(AP)
Antonio
Bulhões (SP)
Carlos Gomes
(RS)
Celso
Russomanno (SP)
Cleber Verde
(MA)
Fausto Pinato
(SP)
Jhonatan de
Jesus (RR)
Jony Marcos
(SE)
Marcelo
Squassoni (SP)
Márcio Marinho
(BA)
Roberto Alves
(SP)
Roberto Sales
(RJ)
Ronaldo
Martins (CE)
Rosangela
Gomes (RJ)
Sérgio Reis
(SP)
Tia Eron (BA)
Vinicius
Carvalho (SP)
PROS:
Domingos Neto
(CE)
Leônidas
Cristino (CE)
Rafael Motta
(RN)
PRP:
Marcelo Álvaro
Antônio (MG)
PRTB:
Cícero Almeida
(AL)
PSB:
João Fernando
Coutinho (PE)
Valadares
Filho (SE)
PSC:
Edmar Arruda
(PR)
Marcos
Reategui (AP)
Pr. Marco
Feliciano (SP)
Professor
Victório Galli (MT)
Raquel Muniz
(MG)
PSD:
Paulo
Magalhães (BA)
Sérgio Brito
(BA)
PSDB:
Daniel Coelho
(PE) – Se absteve na terça e votou pelo “sim” na quarta-feira
Mara Gabrilli
(SP) – Se absteve na terça e votou pelo “sim” na quarta-feira
PSDC:
Aluisio Mendes
(MA)
PSL:
Macedo (CE)
PTC:
Uldurico
Junior (BA)
PTdoB:
Luís Tibé (MG)
Pastor
Franklin (MG)
PTN:
Bacelar (BA)
PV:
Dr. Sinval
Malheiros (SP)
Penna (SP)
Sarney Filho
(MA)
Victor Mendes
(MA)
Solidariedade:
Augusto
Carvalho (DF)
Elizeu
Dionizio (MS)
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