Por Fernando
Rodrigues no UOL
Henry Hoyer,
substituto de Alberto Youssef no esquema da Petrobras, teve conta numerada no
HSBC
Engenheiros do
Metrô de São Paulo operavam na Suíça na época em que foi firmado acordo com a
Alstom
O acervo de
8.667 nomes de pessoas ligadas ao Brasil e que mantiveram contas no HSBC, na
Suíça, contém pistas sobre escândalos recentes de corrupção no Brasil.
A lista de
antigos correntistas do HSBC inclui Henry Hoyer, citado em fevereiro em
depoimentos tomados pela Operação Lava Jato como substituto do doleiro de
Alberto Youssef para ser um dos operadores no esquema de desvio de recursos na
Petrobras.
Há também 2
ex-diretores do Metrô de São Paulo (Paulo Celso Mano Moreira da Silva e Ademir
Venâncio de Araújo) que abriram contas na Suíça na época em que a estatal
assinou um controverso contrato com a multinacional francesa Alstom.
Muitas outras
personagens de casos de corrupção que eclodiram antes da Lava Jato e do
escândalo dos trens do Metrô de São Paulo aparecem na relação do HSBC. Leia no
texto abaixo (SwissLeaks tem vários tipos de “encrencados”) sobre essas
outras histórias.
No quadro a
seguir, o resumo das informações bancárias de Henry Hoyer e dos 2 ex-diretores
do Metrô de São Paulo (clique na imagem para ampliar):
O levantamento
desses nomes faz parte de uma detalhada apuração conduzida nas últimas semanas
numa parceria entre o UOL, por meio deste Blog, e o jornal “O Globo”.
A série de
reportagens SwissLeaks começou a ser publicada em escala mundial em 8.fev.2015. Trata-se de uma
análise de um conjunto de dados vazados em 2008 de uma agência do ‘private
bank’ do HSBC, em Genebra, na Suíça. O acervo contém informações sobre 106 mil
clientes de 203 países e saldo superior a US$ 100 bilhões.
A investigação
jornalística multinacional é comandada pelo ICIJ, sigla em inglês para Consórcio Internacional de
Jornalistas Investigativos, em parceria com o jornal francês “Le Monde”, que
obteve os dados do HSBC em primeira mão. No Brasil, a apuração é coordenada
pelo jornalista Fernando Rodrigues, membro do ICIJ, que publica as reportagens
em seu Blog, hospedado no UOL. O “Globo'' passou a integrar a equipe em março.
HENRY HOYER E
A LAVA JATO
Além de 11 integrantes da família Queiroz Galvão (donos de empreiteiras citadas na Lava Jato) com contas secretas no HSBC já reveladas aqui neste Blog, surgiu agora na investigação do escândalo da Petrobras mais um nome que aparece no SwissLeaks.
Trata-se de um
empresário do Rio de Janeiro, Henry Hoyer de Carvalho, que acaba de completar
65 anos. Ele teria substituído o doleiro Alberto Youssef como repassador de
propinas a políticos ligados ao Partido Progressista –a legenda que mais teve
integrantes citados pelo Ministério Público até agora no escândalo da
Petrobras. A informação sobre o papel desempenhado por Hoyer consta de
depoimentos prestados no âmbito da Lava Jato.
Nos documentos
do “private bank” do HSBC em Genebra, Henry Hoyer aparece como titular da conta
secreta 7835HH. O saldo está zerado em 2006 e 2007, período ao qual os dados
bancários se referem.
Há uma
curiosidade sobre Henry Hoyer. Sua conta existiu apenas por um breve período no
HSBC de Genebra: a abertura foi em 20 de julho de 1989; o encerramento, em 29
de agosto de 1990. Por que razão o HSBC teria mantido os registros de Hoyer
ativos até 2007?
Há várias
hipóteses para isso ter acontecido. Por exemplo, o empresário teria aberto
outra conta colocando como titular uma empresa ou outro representante legal –o
que parece ser a praxe para milhares de outros correntistas que aparecem no
acervo do SwissLeaks. Essa era a forma de tornar mais difícil a identificação
de quem era, de fato, dono do dinheiro. Só mais investigações poderão
esclarecer o que se passou.
As menções a
Henry Hoyer no caso de desvios da Petrobras aparecem em depoimentos coletados
em fevereiro pela Procuradoria Geral da República. O empresário do Rio é citado
pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef.
No termo de
sua delação premiada, Paulo Roberto Costa descreve Hoyer como o “operador
financeiro do PP que sucedeu [a] Alberto Yousseff”. Costa compromete-se a
apresentar provas que possam sustentar essa afirmação, “especialmente a sua
relação [de Hoyer] com contratos da Petrobras e empreiteiras, e a relação
destas com o PP”.
Num outro
trecho do seu depoimento, Costa relata ter ido a “uma reunião na casa de Henry
Hoyer, da qual também participaram Ciro Nogueira, Agnaldo Ribeiro, Arthur de
Lira e Eduardo da Fonte”. Todos esses são políticos do PP e foram incluídos na
lista de investigados pelo Supremo Tribunal Federal.
Segundo Costa,
a reunião na casa de Hoyer com os políticos serviu para definir um “novo
caminho para o repasse de comissões acerca dos contratos da Petrobras ao PP”.
Hoyer teria dito a Costa que já havia mantido outros encontros com os
congressistas “a fim de tratar da questão dos valores”.
O objetivo da
entrada de Hoyer no esquema foi tentar pacificar a relação entre os integrantes
do PP participantes do desvio de dinheiro da Petrobras. Teria ocorrido uma
desagregação entre os políticos desse partido após a morte de José Janene, em
2010, o deputado que até então organizava a distribuição de valores.
Hoyer é citado
também como um ex-assessor do ex-senador Ney Suassuna, do PMDB da Paraíba.
Teria operado por pouco tempo na função de repassador de dinheiro, apenas
durante o ano de 2012, segundo os depoimentos da Lava Jato.
O CASO
METRÔ-ALSTOM E O HSBC
Dois engenheiros que trabalharam para o Metrô de São Paulo abriram contas na Suíça, no banco HSBC, justamente num período sobre o qual há suspeita de que a estatal paulista teria feito negócios ilegais com uma fornecedora, a empresa francesa Alstom.
Os engenheiros
Paulo Celso Mano Moreira da Silva, hoje com 70 anos, ex-diretor de operações do
Metrô de São Paulo, e Ademir Venâncio de Araújo, 62 anos, ex-diretor
administrativo do Metrô e ex-diretor de obras da CPTM (Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos), são acusados de improbidade administrativa pelo
Ministério Público do Estado.
Uma vistoria
dos dados do caso SwissLeaks demonstra que ambos tinham dinheiro no HSBC em
Genebra, na Suíça, nos anos de 2006 e 2007. Moreira da Silva apresentava um
saldo de US$ 3,032 milhões. Venâncio de Araújo tinha duas contas, cada uma com
um valor diferente: US$ 3,538 milhões e US$ 3,489 milhões. Os arquivos do banco
não permitem saber qual é a conexão exata entre esses montantes nem se é
correto somá-los para apurar o saldo total.
O mais
interessante sobre esses dois engenheiros, entretanto, é uma coincidência de
datas. Moreira da Silva e Venâncio de Araújo assinaram, em 10 de abril de 1997,
contrato para que a Alstom fornecesse, sem licitação, sistema de sinalização e
controle da linha Norte-Sul (Vermelha) do Metrô de São Paulo. Eles optaram por
fazer um termo aditivo a um contrato antigo do Metrô com a Alstom, de 8 anos
antes.
Na época de
assinatura do aditivo, o Estado de São Paulo, que controla o Metrô, era
governado por Mário Covas (PSDB) [leia correção abaixo].
O ano de 1997
também foi o mesmo em que Moreira da Silva tornou-se cliente da agência do HSBC
em Genebra. Identificando-se como “engenheiro do Metrô de São Paulo”, o
ex-diretor abriu a conta numerada 22544FM em 2 de fevereiro e incluiu sua
mulher, Vera Lúcia Perez Mano Moreira da Silva, que já morreu, como titular.
Em 4.set.2003,
Moreira da Silva acrescentou duas filhas como beneficiárias da conta: Fernanda
Mano Moreira da Silva, 41 anos (hoje Fernanda Mano de Almeida, nome de casada),
e Mariana Mano Moreira da Silva, 38 anos.
Fernanda é
ativa no Facebook e tem opiniões políticas. Em 12.fev.2014, ela postou uma
imagem em seu perfil no qual aparece a seguinte inscrição: “Campanha contra a
corrupção no Brasil – Eu tenho vergonha dos políticos brasileiros”. Eis a
imagem:
Venâncio de
Araújo abriu sua primeira conta no HSBC da Suíça em 1998 (a de número 29233SU).
Duas empresas aparecem vinculadas como representantes legais: Jemka Investments
Limited e Mondavi Holding Trading Ltd. Ao começar a operar em Genebra,
identificou-se como “diretor técnico do Metrô de São Paulo”. Sua mulher, Sumaia
Maria Macedo de Araújo, está rol de titulares dos depósitos desde 2001 –apenas
via Jemka Investments Limited.
O promotor
Nelson Luís Sampaio de Andrade, autor da ação civil pública contra os ex-diretores do Metrô, afirma
que a “fraude” no termo aditivo provocou “dano ao erário” e pede ressarcimento
aos cofres públicos.
Ao Blog, ele
disse não ter solicitado informações às autoridades financeiras sobre contas
dos engenheiros no exterior e afirmou desconhecer aos depósitos citados no HSBC
da Suíça. Sampaio de Andrade cogita abrir um novo inquérito para apurar
enriquecimento ilícito de ambos se receber comunicações oficiais com indícios
do crime.
Manter contas
bancárias no exterior não é ilegal. É necessário, entretanto, declarar a
existência da conta à Receita Federal e informar ao Banco Central quando a
quantia é superior a US$ 100 mil.
Processos em
andamento
Moreira da Silva entrou na mira da Promotoria em agosto de 2014, no âmbito de investigações de contratos firmados entre o Metrô e a Alstom. Ele é funcionário de carreira do Metrô desde 1976 e hoje ocupa o cargo de assistente técnico. A multinacional francesa reconheceu ter pago propina a servidores públicos brasileiros para fechar negócios nas áreas de energia e responde pela mesma prática no setor de transporte sobre trilhos.
Venâncio de
Araújo era conhecido dos promotores paulistas há mais tempo. Em novembro de
2013, ele teve seus bens bloqueados pela Justiça Federal, sob suspeita de atuar
para favorecer a Alstom em licitações. Em dezembro de 2014, foi indiciado pela
Polícia Federal no inquérito do cartel dos trens. Ele trabalhou no Metrô entre
1989 e 1999 e também é investigado pela Corregedoria Geral da Administração do
Estado de São Paulo.
O Ministério
Público pede na Justiça que Moreira da Silva, Venâncio de Araújo e outros 2
ex-diretores do Metrô devolvam R$ 4.079.451 aos cofres públicos. A ação também
atinge 4 executivos que trabalhavam na Alstom.
Outro lado
O UOL entrou em contato com Moreira da Silva na 3ª feira (10.mar.2015). Ele não quis se manifestar sobre a conta no HSBC e solicitou que a reportagem contatasse Guilherme Braz, advogado de sua família.
Braz disse que
seu cliente não foi citado em nenhum inquérito ou ação relativos ao cartel de
trens e metrô em São Paulo e ressaltou que a ação proposta pelo Ministério
Público ainda não foi julgada. Sobre a conta no HSBC, afirmou que Moreira da
Silva e suas filhas só se manifestarão em juízo.
O UOL também
entrou em contato na manhã desta 4ª feira (11.mar.2015) com o escritório Luiz
Fernando Pacheco, que defende Venâncio de Araújo. A resposta foi dada por
escrito:
“O sr. Ademir
e seu advogado desconhecem os termos do processo conhecido como SwissLeaks e
portanto não têm como se manifestar a respeito do mesmo. Salientam, no entanto,
que o sr. Ademir nunca recebeu verbas públicas de maneira ilegal.”
O “Globo”
tentou no Rio de Janeiro contato na 4ª feira (11.mar.2015) com Henry Hoyer, mas
não conseguiu encontrar o empresário.
O Metrô
informou que “adotará as medidas cabíveis para esclarecer possíveis
irregularidades cometidas, tão logo tenha conhecimento do teor das denúncias ou
evidências a serem apresentadas pela reportagem”.
O Palácio dos
Bandeirantes preferiu não comentar e disse que cabia ao Metrô se manifestar
sobre o caso.
Participaram
também da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion (do UOL) e Chico
Otávio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (de “O Globo”).
quando uma Senadora dos EUA pergunta quanto tempo vai demorar para fechar esse Banco ,
ResponderExcluira coisa e feia
pelo qe falam pelo qe leio as vezes chego a pensar que o PSDB e intocavel
ResponderExcluirnem o meu MDB