Por Marcelo Brandão - da Agência Brasil
O ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse ontem
(12), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Petrobras, na Câmara dos Deputados, que não acredita na existência de um
esquema de corrupção sistêmica na companhia petrolífera. Para ele, os
pagamentos de propina são fruto da ação de “alguns corruptos”. Ele
reconheceu, no entanto, que a empresa deve aprimorar os controles
internos para descobrir atos ilegais.
“Não há corrupção sistêmica
na Petrobras. Isso não quer dizer que não haja corrupção na empresa.
Mas não é sistêmica, é individualizada, por causa de alguns corruptos.
Mas precisamos avançar nos controles internos, que não conseguem
detectar [esquemas de corrupção]”, enfatizou.
Gabrielli ressaltou
que a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi um bom
negócio. “Com certeza absoluta. Não tenho dúvida disso”, disse. A
afirmação provocou risadas no plenário, uma vez que a refinaria gerou
prejuízo de US$ 792,3 milhões à Petrobras.
O
depoimento de Gabrielli serviu de palco para um embate entre a oposição
e a base governista. Depois de uma série de explicações técnicas sobre o
desempenho da empresa ao longo dos anos, em resposta às perguntas do
relator Luiz Sérgio (PT-RJ), parlamentares de oposição tomaram a palavra
e acusaram frontalmente Gabrielli. Eles questionaram o fato de o
ex-presidente da empresa não conhecer os repasses de propina.
“Ou
o senhor é um incompetente de mão cheia ou é um dos capos. [Pedro]
Barusco devolveu 97 milhões [de dólares] que não eram dele. Eram seus?”,
perguntou o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “O senhor tinha que ter
vergonha. O senhor é cúmplice de um assalto de proporções gigantescas”,
completou Lorenzoni.
Durante a fala do deputado Carlos Sampaio
(SP), lídero do PSDB na Câmara, os ânimos se exaltaram. Sampaio disse
que hoje a empresa vale um terço do que valia. Gabrielli, então,
interveio exaltado: “Eu entrei e ela valia 15 bilhões [de dólares], e
agora vale 60 bi[lhões de dólares]. Vale quatro vezes mais que no tempo
do senhor”.
Em seguida, Sampaio acusou Gabrielli de mentir em seu
depoimento. “O depoente não veio aqui para ajudar ninguém a não ser a
si mesmo. Ele faz mau a essa CPI, fez mal ao Brasil, veio dizer
inverdades”. O deputado, então, foi interrompido por uma discussão
generalizada.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) reclamou do tom
utilizado por Sampaio e questionou o tratamento acusatório dispensado a
Gabrielli. “Vocês foram muito bons com Barusco aqui. Respeito!”,
referindo-se ao depoimento ocorrido no dia anterior, do ex-gerente de
Serviços da estatal Pedro Barusco. O deputado Afonso Florence (PT-BA)
pediu que a CPI abordasse também atos de corrupção praticados em 1997 e
1998, conforme havia explicado Barusco.
“Essa cronologia começou
em 1997, 1998, disse um réu confesso. Se há tantos indícios de que houve
corrupção entre 1997 e 1998, temos que investigar esse período também”.
Já o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) defendeu Gabrielli e criticou
os colegas de oposição. “O senhor saiba que existem deputados aqui que
defendem os criminosos confessos, que dilapidaram a Petrobras. Tem uns
aqui que trataram muito bem o senhor Barusco, faltou colocarem gelinho
na água dele. E hoje tentam hostilizar o senhor aqui, que fez uma ótima
gestão na Petrobras e não está sendo acusado de nada."
Gabrielli
iniciou seu depoimento fazendo a defesa da Petrobras e um balanço da sua
gestão frente à empresa, que ele qualificou como positiva, pois a
companhia ampliou sua produção e exploração. “Com a descoberta do
pré-sal, temos uma produção nessa área superior a 800 mil barris por
dia. Para você produzir a mais de 6 mil metros de profundidade é preciso
ter estrutura para isso. Uma estrutura tecnicamente desafiadora, de
sucesso para a Petrobras”.
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