O dia 20 de
agosto ficou manchado de sangue na História da União soviética. Em 20 de agosto
de 1940 era assassinado no México, a mando de Stálin, o revolucionário Leon
Trotsky. Também a 20 de agosto de 1956, tanques soviéticos esmagavam a
Revolução Húngara. No mesmo dia, em 1991, o ex ministro das relações
exteriores, Edward Shevarnadze, anunciava: “Começou a guerra civil na União
Soviética”. Tratava-se do confronto aberto entre duas alas da burocracia: uma
restauracionista e outra antirestauracionista que queria o fim da Perestroyka.
Hoje, 16 anos depois, ainda vivemos os efeitos desses acontecimentos que
surpreenderam e também mudaram o mundo. A classe trabalhadora passou para a defensiva,
muitas organizações de esquerda se dispersaram e ainda amargamos o refluxo
aberto com o fim dos Estados Operários.
A
Perestroika e a Glasnost
Mikhail
Gorbachev havia sido eleito a 12 de março de 1985 para o cargo de Secretário
Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Desde então, lançou as
idéias que seriam conhecidas como Perestroika (reorganização) e Glasnost
(transparência).
A Perestroika
tinha o objetivo de mudar as bases econômicas da União Soviética... Já a
Glasnost tratava-se de mudanças também profundas, mas no campo da política.
Separar o Partido comunista da estrutura de poder e acabar com o regime de
partido único. É óbvio que o imperialismo não hesitou em apoiar tais reformas.
No momento em que os EUA estavam colocando em prática sua política de reação
democrática liberal, que combinava abertura política dos regimes ditatoriais
com abertura das economias para implementação do receituário neoliberal, a
Perestroika e a Glasnost, fizeram Gorbachev tornar-se imediatamente a figura
mais querida pelo ocidente.
O
que dizia Trotsky?
Trotsky
definia a União Soviética como um “estado operário burocratizado”. Segundo ele,
o isolamento e as condições de país atrasado, deram as bases para que surgisse
uma burocracia que usurpasse o poder político (não sem violência) e o exercesse
em nome da manutenção dos próprios interesses. Ainda segundo Trotsky, em um
primeiro momento a burocracia, para manter os seus privilégios necessitaria da
existência do Estado Operário. Entretanto, em um segundo momento, ela
tornar-se-ia restauracionista. Seus interesses a levariam a querer passar de
gestora a proprietária dos meios de produção. Isso significava que a burocracia
passaria a ser, ela própria, um agente de restauração capitalista. Os fatos
deram razão a Trotsky. O revolucionário russo dizia também que a burocracia não
é homogênea. Há interesses conflitantes no seu interior. Por isso, o projeto
restauracionista de Gorbachev o fez chocar-se diretamente com um setor que
ainda não queria a restauração capitalista . Ao tentar equilibrar-se na corda
bamba, Gorbachev não conseguiu agradar a gregos e troianos. A ala
restauracionista teve o apoio dos Estados Unidos, governado por Geroge Bush
(pai). Internamente, conseguiu mobilizar as massas a seu favor e acabou
desmantelando o Estado Soviético em um estalar de dedos.
20
de agosto: a esquina da U.R.S.S
A 20 de agosto
de 1991, Gorbachev assinaria um decreto que significaria, na prática o fim da
União Soviética: concederia ampla autonomia às Repúblicas e mudaria o nome do
país para União das Repúblicas Soberanas Soviéticas (suprimindo o termo
“Socialistas”). Antes de assinar o decreto, Gorbachev foi afastado do poder
pela ala antirestauracionisa do PCUS que estava representada pelo “Bando dos
Oito”, liderado por Yanaiev.
“Gorbachev
Napadal”!
Essa expressão
correu o mundo. Significa, em russo, “Gorbachev caiu de vez”! Ninguém sabia seu
paradeiro. Tanques rolaram sobre Moscow, Leningrado e muitas outras cidades
estratégicas. Na sede do parlamento da Rússia estava Boris Yeltsin, um
restauracionista radical que desfrutava de grande popularidade. Yeltsin
conclamou uma greve geral e chamou o povo para se reunir em frente ao
parlamento. Enquanto os tanques de guerra rolavam para lá, cerca de 20.000
pessoas atenderam ao chamado. Quando começaram os combates, esse número chegou
a aproximadamente 50.000 pessoas. Trabalhadores de 26 minas de carvão entraram
em greve a pedido de Yeltsin. Já o líder sindical dos poços de petróleo, Kolai
Tripnov, declarou que os petroleiros não entrariam em greve por entender que os
trabalhadores não deveriam apoiar a Perestroyka. Também no exterior houve
reações a favor de Gorbachev e Yeltisin. A Comunidade Econômica Europeia e o
presidente norte americano George Bush (pai) declararam que era necessário o
retorno de Gorbachev ao poder, pois temiam “a volta da guerra fria”.
Após
o confronto, desmembramento do Estado.
Isolado, o
“Bando dos Oito” foi obrigado a recuar. No dia 21 três de seus integrantes
foram presos no aeroporto tentando fugir. Naquele mesmo dia, a Letônia declarou
sua independência. Em 22 de agosto, Gorbachev foi libertado e reapareceu em
Moscow prometendo “caça às bruxas” – punição severa para os envolvidos. Todos
foram presos, exceto o ministro do Interior, Boris Pugo que se matou com um
tiro na boca. Naquela altura, a massa enfurecida, que continuava nas ruas,
passou a atacar as sedes do PC, da KGB e as estátuas de Lênin.
Em 24 de
agosto Gorbachev se demite do cargo de secretário geral do PC da união
soviética, confisca os bens do partido, dissolve o comitê central e proíbe a
atividade do partido no Exército, no KGB e no ministério do Interior. A Ucrânia
se declara independente. A partir daí, um efeito cascata faria desmoronar o
Estado Soviético.
25 de agosto –
a Bielorrússia se declara independente.
27 de agosto –
A Moldávia se declara independente.
30 de agosto –
Azerbaijão, única república que apoiou o golpe de Estado, se
declara
independente.
31 de agosto –
Uzbequistão e Quirguízia se declaram independentes.
Em 6 de
setembro o Congresso de Deputados do Povo da URSS reconhece oficialmente a
independência dos países bálticos, anula o Tratado da União de 1922.
Em 1º de
dezemro ucranianos votam maciçamente pela independência num plebiscito.
8 de dezembro – Rússia, Bielorrússia e Ucrânia criam a Comunidade de Estados Independentes e declaram o fim da URSS como entidade política.
8 de dezembro – Rússia, Bielorrússia e Ucrânia criam a Comunidade de Estados Independentes e declaram o fim da URSS como entidade política.
18 de dezembro
– Yeltsin e Gorbachev decidem que as estruturas da URSS deixarão de existir
“antes do fim do ano”.
19 de dezembro
– O Kremilim, maior símbolo do poder soviético, passa a pertencer à Rússia, por
decreto de Yeltsin. Em Roma, Yeltsin declara que Gorbachev “deverá renunciar
antes do fim do mês”.
Naquele momento, a União Soviética já não mais existia.
No próximo dia
20, estarão completando 16 anos desses acontecimentos que surpreenderam e
também mudaram o mundo.
A derrubada
dos Estados Operários na U.R.S.S e no Leste Europeu contou com o apoio das
massas que foram dirigidas, não por um partido revolucionário, mas por setores
restauracionistas da burocracia ou por organizações de direita financiadas pela
Igreja ou pela C.I.A. Foi uma contrarevolução de massas!
Após essa
derrota histórica da classe trabalhadora, o que vimos foi uma ofensiva
ideológica de direita, o “passeio militar” dos Estados Unidos no Golfo Pérsico,
em 1991; a invasão do Panamá, o neoliberalismo sendo implementado em quase todo
o mundo e a passagem da classe trabalhadora para a defensiva.
A partir dos
anos 90, duas grandes tentações passaram a rondar a esquerda: Uma delas é a de
cair no ultraesquerdismo de dizer que tudo se tornou muito mais fácil, já que
não existe mais o stalinismo (e nem os Estados Operários). A outra, é a
tentação de cair no oportunismo de, ao perceber que a classe trabalhadora está
na defensiva, procurar substitutos para ela capitulando a fenômenos como
Chávez, Morales e o fundamentalismo iraquiano.
Muitas
organizações, decorrência de suas políticas equivocadas, sofreram graves
impactos. Dois exemplos importantes são o S.U, que abandonou o trotskysmo e a
L.I.T que, após as ultra otimistas “teses de 90”, chegou a se dispersar.
Essa crise
instaurada entre as organizações de esquerda tem boa parte de sua origem na
incompreensão sobre o que Trotsky dizia ao orientar a relação dos
revolucionários com o stalinismo:
“Stalin
derrubado pelos trabalhadores: um grande passo para o Socialismo. Stalin
derrubado pelos imperialistas: é a contra-revolução que triunfa”.
Entre
1989-1991, aconteceu a segunda alternativa.
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