Greve de 1600 operários da Saab-Scania,
em São Bernardo, SP, 12/05/1978
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A
possível reeleição tornou-se uma dúvida concreta. Qualquer analista político
deve se perguntar: - Como é possível incluir mais de 44 milhões de brasileiros
ao mundo do consumo e dos direitos fundamentais, garantir o quase pleno emprego
direto por uma década e ainda assim amargar um possível segundo turno apertado?
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Antes
que algum desavisado imagine tratar-se de agouro, ou torcida pelo lulismo,
asseguro que não é nada disso. Presumo que Dilma venha a ser reeleita embora
corra um risco real desta vez.
Isto
se dá, na minha hipótese, por não haver acumulação ideológica de massas entre
as realizações de governo na área do emprego e renda e os beneficiados diretos
destas.
Nos
últimos dez anos, observa-se a progressiva desorganização do tecido social.
Aumenta a fragmentação, ninguém se entende mais no movimento sindical e os
setores organizados perdem a capacidade de se articular. Quem tem caixa não tem
base e vive das relações umbilicais com o governo.
Os
movimentos sociais ainda com base mobilizável terminam jogando na defensiva,
encurralados pelo peso do agronegócio na balança comercial ou a aliança do
Planalto com as grandes empreiteiras.
As
referências acumuladas desde as lutas operárias do ABC foram pelo ralo em nome
da tal da governabilidade. Tudo parecia valer a pena, porque para Luiz Inácio e
sua trupe, o Poder Executivo implica em transformar a vida de milhões de
brasileiros. E para isso, quase tudo vale a pena.
O
descompasso se nota naquilo que na Argentina denominam “massas em
disponibilidade”. No país vizinho, quem conquista o imaginário do peronismo e
tem parte da máquina justicialista, tem chance de chegar à Casa Rosada. O custo
é dividir uma boa parte da renda nacional, ou ao menos mentir tão bem a ponto
de convencer os eleitores de que não serão completamente traídos.
Aqui,
o trabalhismo nunca foi tão militante e sua versão contemporânea, o lulismo,
faz o vínculo pela imagem e não através da política. Aposta no carisma e não na
organização social. Logo, joga na cancha do adversário, não conseguindo sequer
fidelizar o voto a ponto de formar uma reserva eleitoral. Não foi por falta de
aviso e tampouco por inocência política.
Desmontar
o movimento popular brasileiro a partir de sua referência eleitoral foi escolha
dos dirigentes que hoje coabitam as dependências do sistema penal. Agora
precisam de campanha bilionária e tempo de TV barganhado com a base “aliada”. A
reeleição que teria no mínimo uma margem de 30 milhões de votos virou um
enigma.
Artigo
originalmente publicado no blog do Ricardo Noblat.
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