quarta-feira, 28 de março de 2012

PT Ontem, Hoje... mas e Amanhã?



O PT completou 32 anos, muito diferente daquele que Lula criou dentro do movimento sindical nos idos de 1980. Eram outros tempos e o Brasil exigia democracia. Lula, um operário, transformou-se numa luz, cada vez mais forte, que o país enxergava, na direção de novos rumos, de mais justiça social, da diminuição do abismo entre ricos e pobres. Era, em síntese, a voz de uma democracia que precisávamos para recomeçar, depois da escuridão do regime militar e da ditadura. Até chegar ao poder, o PT foi um brilho de esperança no imaginário dos brasileiros. Obrigou aos poderosos de plantão a rever conceitos, cobrou novos rumos nas políticas sociais, exigiu um duro combate à corrupção, foi voraz nas denúncias contra os que não cumpriam com suas funções públicas corretamente. Quem não era do PT, temia o PT, se escondia, tentava não ser atingido pelas duras lanças dos discursos arrasadores dos seus representantes. Mas daí, o PT chegou ao poder. Então...

Começou uma nova fase. Lula chegou à Presidência. Sabia que não conseguiria governar sem amplas alianças. Teve que mudar o discurso e se aliar a quem combatera durante anos a fio. Talvez por ingenuidade, imaginando que os políticos profissionais, acostumados a viver encastelados junto aos cofres públicos e deles arrancar tudo o que podiam,  poderiam mudar, Lula não teve escolha. Se endurecesse, poderia levar o país a uma crise ou até a coisas piores. Como não o fez, teve que abaixar a cabeça e conviver com essa amálgama de interesses. Lula conseguiu fazer o país avançar, tanto na economia como nas questões sociais. Seu duplo mandato levou o PT às alturas, mas hoje tão mesclado, tão misturado com gente que nada tem a ver com a filosofia inicial do partido, que já não se sabe mais quem é petista de raiz e quem está nele apenas para benefício próprio. O Brasil avançou muito com Lula e o PT, mas chegou agora num momento inusitado: não se sabe qual será seu rumo daqui para frente. Terá que decidir, provavelmente: ou volta às suas raízes, ou se transforma em definitivo num partido igual aos que combateu lá no início, quando começou...

O PT NECESSITA DE UM REJUVENESCIMENTO 

Este deverá ser um dos focos principais nas estratégias presentes e futuras do partido, para que não se reproduza o que ocorreu em outros partidos de esquerda no Brasil, que tinham quadros de mais de 60 anos como presidente de sua Juventude, ou como nosso velho Fidel Castro que, no processo de transição a faz com um quadro mais jovem – com 80 anos...

Não estou sugerindo nenhuma Revolução Cultural como a da China de Mao ou, muito menos, as “perestroikas” da ex União Soviética. Será necessária uma que os “verdadeiros” petistas reflitam e encontrem uma fórmula para atrair a juventude de nosso país – o qual, pelos dados do Censo de 2010, está envelhecendo – para que eles sejam ativos no interior do PT preparando-se para assumirem suas rédeas em prazos os mais curtos possíveis,  fazendo parte dos governos, participando e articulando-se nos mais diversos  movimentos sociais, sindicais e de cidadania que se multiplicam pelo país.

Ao se dar uma olhada na História da esquerda, seja no Brasil, seja mundo afora, certamente reflexões e preocupações como a de buscarmos caminhos para o rejuvenescimento do  PT ganham sentido. Em função do avanço institucional rápido (em termos de tempo histórico) que o PT teve ao eleger prefeitos, governadores e, finalmente, assumindo a Presidência da República pela terceira vez consecutiva, o Partido foi obrigado a conduzir um significativo conjunto  de jovens petistas, por todo o Brasil, a, por assim dizer, “saltar etapas” em sua formação e atuação política e partidária.

Antes de participar da direção e gestão do aparato estatal brasileira, em todos seus níveis, a “geração Lula” brigou nas ruas – a maioria – ou na clandestinidade – a minoria – na luta pela derrubada da ditadura militar que nos assolou (e ao conjunto do país) de 1964 a 1985 (para fixarmos um período de nossa história). A partir de 1977,1978, passamos pelas experiências de articulações nos movimentos da sociedade civil e na vida partidária - sempre extremamente ativa.

Com nossos avanços eleitorais, a partir, sobretudo, do governo de Luísa Erundina na Capital do Estado de São Paulo e de algumas outras Prefeituras brasileiras, em 1988 (ano no qual, a maioria dos hoje velhos ativistas do PT, ainda, era jovem) e, portanto, com as demandas de governo, muitos daqueles jovens saltaram de sua pouca experiência de articulações com movimentos sociais, sindicais e de cidadania os mais diferenciados, para postos de governo, aos quais deveriam dar respostas políticas e de gestão.

Por diversos motivos históricos que não cabe aqui discutir, mas que, em sua maioria, foram muito positivos para a sociedade brasileira, os militantes foram paulatinamente se afastando das discussões mais de base e se transformaram em um partido de base parlamentar – provavelmente mais democrático do que a maioria dos partidos brasileiros - mas afastados das visões de um partido de massas, com forte articulação nas bases organizadas da sociedade, como originalmente pretendesse criar.

Não estou dizendo, com isto, imaginar ou pretender um retorno as origens ou ao passado. A história, as demandas de nossa sociedade e meus cabelos brancos não permitem tal intenção, até porque creio que as novas gerações são sempre melhores do que as anteriores. O que pretendo discutir com essa reflexão referente a “Rejuvenescer o  PT” é, pelo contrário, o de querer entender, da forma mais orgânica possível, a nova realidade que exatamente suas ações e suas ideias criaram e contribuíram para a criação desta sociedade brasileira contemporânea a nós.

Os "velhos guerreiros”, como dizem alguns e algumas, de alguma forma “seguem a postos”. Mas o mundo mudou e continuará mudando. É possível acompanhar essas mudanças até certo ponto e até certo momento, mas – graças aos nossos limites físicos, mentais, naturais e humanos - não são permanentes,  eternos e/ou imortais.

Certamente a moçada precisa adquirir as experiências dos mais antigos. Para tanto deverá haver uma aproximação dos “velhos guerreiros” com os meios virtuais pelos quais a juventude hoje se comunica, será uma ação bastante eficiente. Mas mais importante do que repassar experiências é entender como essa juventude pensa, sente e age. 

Mais importante que conquistar o poder é saber lidar e mantê-lo

Quanto mais tempo o PT fica no poder, mais passa a impressão de perda da identidade, afastando-se das raízes ideológicas e tornando-se um partido comum, mostrando vícios que o nivelam com os demais. O PT perdeu a capacidade de pensar estrategicamente, e se sobrepor às disputas internas, fazendo das ideologias as lutas maiores e mais importantes para o partido. Os verdadeiros petistas perderam espaço dentro do PT, por excesso de desunião, projetos pessoais, e principalmente, com a ausência de projetos nacionais.

Foi à perspectiva de tomada de poder que provocou uma aliança tática, que acabou por juntar desiguais, permitindo-lhes tomar o controle da máquina. Agora este poder conquistado por uma legenda, serve apenas a um seleto e fechado grupo. Essa centralização de poder restrita a este pequeno grupo causou a derrubada das bandeiras ideológicas sempre tão defendidas, e que, sempre despertaram e alimentaram a esperança de que, finalmente a esquerda brasileira havia encontrado mais que um discurso moderno.

O modelo político original desenvolvido a partir da observação prática da realidade, e contendo em sua essência a preocupação com questões sociais, e que não fosse usado como mero instrumento de tomada de poder, foi abandonado. Enquanto os poucos e autênticos parlamentares que exercitam o discurso da cidadania, ocupavam suas agendas com temas que criavam uma alternativa moderna ao neoliberalismo, a máquina partidária foi gradativamente sendo tomada por grupos radicais de pouca ou nenhuma expressão eleitoral, com compromissos apenas com a tomada do poder pessoal dentro do partido.

Não cabe neste contexto a imaginação que temas como cancelamento de privatizações e outras maluquices sejam matérias de fé para esses radicais que dominaram o partido, eles recorrem a tais simplismos porque é a maneira mais fácil e esperta de dominar uma militância dotada de um fervor evangélico e de uma credulidade bíblica.

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