O PT completou
32 anos, muito diferente daquele que Lula criou dentro do movimento sindical
nos idos de 1980. Eram outros tempos e o Brasil exigia democracia. Lula, um
operário, transformou-se numa luz, cada vez mais forte, que o país enxergava,
na direção de novos rumos, de mais justiça social, da diminuição do abismo
entre ricos e pobres. Era, em síntese, a voz de uma democracia que precisávamos
para recomeçar, depois da escuridão do regime militar e da ditadura. Até chegar
ao poder, o PT foi um brilho de esperança no imaginário dos brasileiros.
Obrigou aos poderosos de plantão a rever conceitos, cobrou novos rumos nas políticas
sociais, exigiu um duro combate à corrupção, foi voraz nas denúncias contra os
que não cumpriam com suas funções públicas corretamente. Quem não era do PT,
temia o PT, se escondia, tentava não ser atingido pelas duras lanças dos
discursos arrasadores dos seus representantes. Mas daí, o PT chegou ao poder.
Então...
Começou uma
nova fase. Lula chegou à Presidência. Sabia que não conseguiria governar sem
amplas alianças. Teve que mudar o discurso e se aliar a quem combatera durante
anos a fio. Talvez por ingenuidade, imaginando que os políticos profissionais,
acostumados a viver encastelados junto aos cofres públicos e deles arrancar
tudo o que podiam, poderiam mudar, Lula não teve escolha. Se endurecesse,
poderia levar o país a uma crise ou até a coisas piores. Como não o fez, teve
que abaixar a cabeça e conviver com essa amálgama de interesses. Lula conseguiu
fazer o país avançar, tanto na economia como nas questões sociais. Seu duplo
mandato levou o PT às alturas, mas hoje tão mesclado, tão misturado com gente
que nada tem a ver com a filosofia inicial do partido, que já não se sabe mais
quem é petista de raiz e quem está nele apenas para benefício próprio. O Brasil
avançou muito com Lula e o PT, mas chegou agora num momento inusitado: não se
sabe qual será seu rumo daqui para frente. Terá que decidir, provavelmente: ou
volta às suas raízes, ou se transforma em definitivo num partido igual aos que
combateu lá no início, quando começou...
O PT NECESSITA DE UM
REJUVENESCIMENTO
Este deverá
ser um dos focos principais nas estratégias presentes e futuras do partido,
para que não se reproduza o que ocorreu em outros partidos de esquerda no
Brasil, que tinham quadros de mais de 60 anos como presidente de sua Juventude,
ou como nosso velho Fidel Castro que, no processo de transição a faz com um
quadro mais jovem – com 80 anos...
Não estou
sugerindo nenhuma Revolução Cultural como a da China de Mao ou, muito menos, as
“perestroikas” da ex União Soviética. Será necessária uma que os “verdadeiros”
petistas reflitam e encontrem uma fórmula para atrair a juventude de nosso país
– o qual, pelos dados do Censo de 2010, está envelhecendo – para que eles sejam
ativos no interior do PT preparando-se para assumirem suas rédeas em prazos os
mais curtos possíveis, fazendo parte dos governos, participando e
articulando-se nos mais diversos movimentos sociais, sindicais e de
cidadania que se multiplicam pelo país.
Ao se dar uma
olhada na História da esquerda, seja no Brasil, seja mundo afora, certamente
reflexões e preocupações como a de buscarmos caminhos para o rejuvenescimento
do PT ganham sentido. Em função do avanço institucional rápido (em termos
de tempo histórico) que o PT teve ao eleger prefeitos, governadores e,
finalmente, assumindo a Presidência da República pela terceira vez consecutiva,
o Partido foi obrigado a conduzir um significativo conjunto de jovens
petistas, por todo o Brasil, a, por assim dizer, “saltar etapas” em sua
formação e atuação política e partidária.
Antes de
participar da direção e gestão do aparato estatal brasileira, em todos seus
níveis, a “geração Lula” brigou nas ruas – a maioria – ou na clandestinidade –
a minoria – na luta pela derrubada da ditadura militar que nos assolou (e ao
conjunto do país) de 1964 a 1985 (para fixarmos um período de nossa história).
A partir de 1977,1978, passamos pelas experiências de articulações nos
movimentos da sociedade civil e na vida partidária - sempre extremamente ativa.
Com nossos
avanços eleitorais, a partir, sobretudo, do governo de Luísa Erundina na
Capital do Estado de São Paulo e de algumas outras Prefeituras brasileiras, em
1988 (ano no qual, a maioria dos hoje velhos ativistas do PT, ainda, era jovem)
e, portanto, com as demandas de governo, muitos daqueles jovens saltaram de sua
pouca experiência de articulações com movimentos sociais, sindicais e de
cidadania os mais diferenciados, para postos de governo, aos quais deveriam dar
respostas políticas e de gestão.
Por diversos
motivos históricos que não cabe aqui discutir, mas que, em sua maioria, foram
muito positivos para a sociedade brasileira, os militantes foram paulatinamente
se afastando das discussões mais de base e se transformaram em um partido de
base parlamentar – provavelmente mais democrático do que a maioria dos partidos
brasileiros - mas afastados das visões de um partido de massas, com forte
articulação nas bases organizadas da sociedade, como originalmente pretendesse
criar.
Não estou
dizendo, com isto, imaginar ou pretender um retorno as origens ou ao passado. A
história, as demandas de nossa sociedade e meus cabelos brancos não permitem
tal intenção, até porque creio que as novas gerações são sempre melhores do que
as anteriores. O que pretendo discutir com essa reflexão referente a
“Rejuvenescer o PT” é, pelo contrário, o de querer entender, da forma
mais orgânica possível, a nova realidade que exatamente suas ações e suas ideias
criaram e contribuíram para a criação desta sociedade brasileira contemporânea
a nós.
Os
"velhos guerreiros”, como dizem alguns e algumas, de alguma forma “seguem
a postos”. Mas o mundo mudou e continuará mudando. É possível acompanhar essas
mudanças até certo ponto e até certo momento, mas – graças aos nossos limites
físicos, mentais, naturais e humanos - não são permanentes, eternos e/ou
imortais.
Certamente a
moçada precisa adquirir as experiências dos mais antigos. Para tanto deverá
haver uma aproximação dos “velhos guerreiros” com os meios virtuais pelos quais
a juventude hoje se comunica, será uma ação bastante eficiente. Mas mais importante
do que repassar experiências é entender como essa juventude pensa, sente e age.
Mais importante que
conquistar o poder é saber lidar e mantê-lo
Quanto mais
tempo o PT fica no poder, mais passa a impressão de perda da identidade,
afastando-se das raízes ideológicas e tornando-se um partido comum, mostrando
vícios que o nivelam com os demais. O PT perdeu a capacidade de pensar
estrategicamente, e se sobrepor às disputas internas, fazendo das ideologias as
lutas maiores e mais importantes para o partido. Os verdadeiros petistas
perderam espaço dentro do PT, por excesso de desunião, projetos pessoais, e
principalmente, com a ausência de projetos nacionais.
Foi à
perspectiva de tomada de poder que provocou uma aliança tática, que acabou por
juntar desiguais, permitindo-lhes tomar o controle da máquina. Agora este poder
conquistado por uma legenda, serve apenas a um seleto e fechado grupo. Essa
centralização de poder restrita a este pequeno grupo causou a derrubada das
bandeiras ideológicas sempre tão defendidas, e que, sempre despertaram e
alimentaram a esperança de que, finalmente a esquerda brasileira havia
encontrado mais que um discurso moderno.
O modelo
político original desenvolvido a partir da observação prática da realidade, e
contendo em sua essência a preocupação com questões sociais, e que não fosse
usado como mero instrumento de tomada de poder, foi abandonado. Enquanto os
poucos e autênticos parlamentares que exercitam o discurso da cidadania,
ocupavam suas agendas com temas que criavam uma alternativa moderna ao
neoliberalismo, a máquina partidária foi gradativamente sendo tomada por grupos
radicais de pouca ou nenhuma expressão eleitoral, com compromissos apenas com a
tomada do poder pessoal dentro do partido.
Não cabe neste
contexto a imaginação que temas como cancelamento de privatizações e outras
maluquices sejam matérias de fé para esses radicais que dominaram o partido,
eles recorrem a tais simplismos porque é a maneira mais fácil e esperta de
dominar uma militância dotada de um fervor evangélico e de uma credulidade
bíblica.
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Dag Vulpi