Por Andrew Syrios* no ILvMB
Os
progressistas têm um jeito com as palavras que chega a ser realmente
impressionante. Talvez tudo tenha começado quando eles roubaram, nos EUA,
o termo 'liberal' dos libertários. Desde então, a coisa virou uma bola de
neve e saiu totalmente de controle.
De
"justiça social" a "pró-escolha" (exceto quando a escolha
se refere a armas ou lâmpadas incandescentes), passando por vários
"ismos" criados pejorativamente para rotular seus opositores, os
progressistas são especialistas em tais feitos linguísticos. E embora os
conservadores e até mesmo os libertários também, e infelizmente, utilizem
várias frases triviais em vez de argumentos sólidos, os progressistas são os
campeões invictos neste quesito. A melhor prova disso é o próprio termo progressista que
eles utilizam tão excessivamente: quando se referem a uma medida que apoiam,
tal medida é progressista; quando se opõem a algo, tal medida é reacionária.
Esta
simples dicotomia é um enorme prazer para aqueles indivíduos incapazes de um
raciocínio mais elaborado e que gostam de ver suas crenças resumidas em chavões
simples, quase sempre partidários e rudimentares.
No
entanto, a ideia de que o progresso ocorre ao longo de algum gradiente entre o
conservadorismo reacionário (ou libertário) e o progressivismo é flagrantemente
falaciosa.
Supor
que o progresso ocorre em uma direção e que a reação ocorre na direção oposta é
um tipo de pensamento unidimensional que não se sustenta após uma análise mais
sensata. Por exemplo, os progressistas do início do século XX defendiam
coisas (e se aliavam até mesmo a grupos religiosos) que os progressistas de
hoje abominariam. Foram os progressistas daquela época que, em conluio
com protestantes, agitaram pela aprovação da Lei Seca, e criticaram
violentamente aqueles "conservadores econômicos que brigaram tanto para
revogá-la", como relatou o historiador Daniel Okrent. O famoso
progressista William Jennings Bryan foi um inflexível defensor da Lei
Seca. Como observou seu biógrafo Paolo Coletta,
Bryan
era a epítome da visão proibicionista: protestante e nativista, hostil às
grandes corporações e aos malefícios da civilização urbana, dedicado à
regeneração pessoal e ao evangelho social. Ele acreditava sinceramente
que a Lei Seca contribuiria para a saúde física e para o aperfeiçoamento moral
do indivíduo, estimularia o progresso cívico e acabaria com os notórios abusos
relacionados ao comércio de bebidas.
A
descrição acima parece mais com a de um conservador contrário à
descriminalização das drogas, a quem os progressistas desprezam.
Aliás,
se o assunto é drogas, foram os progressistas de antigamente que também
aprovaram, nos EUA, a primeira lei federal de desestímulo ao comércio de
drogas, Harrison Narcotics Tax Act, de 1914. Enquanto isso, o
presumivelmente reacionário H.L. Mencken descreveu os defensores da
Lei Seca como seres motivados por uma "aberração psicológica chamada de
sadismo".
Foram
organizações progressistas que apoiaram, em 1882 e 1924, leis de restrição
à imigração de chineses. Vários sindicatos "progressistas" eram
abertamente racistas, nativistas e nacionalistas. Até mesmo a
segunda encarnação da Ku Klux Klan, no início do século XX, além de ser
abertamente racista, também defendia várias reformas progressistas. Margaret
Sanger, sexóloga, feminista, defensora do aborto e heroína dos progressistas
americanos, chegou a palestrar em um dos eventos da KKK.
Ela
também foi uma defensora declarada da eugenia, assim como vários outros
progressistas da época (já os progressistas de hoje parecem ser um pouco
menos entusiasmados em relação a isso).
Como
observou o psicólogo e linguista canadense Steven Pinker:
Contrariamente
à crença popular difundida por cientistas ideólogos, a eugenia foi, durante
grande parte do século XX, uma das bandeiras favoritas da esquerda, e não da
direita. Ela foi defendida por vários progressistas e socialistas, dentre
eles Theodore Roosevelt, H.G. Wells, Emma Goldman, George Bernard Shaw, Harold
Laski, John Maynard Keynes, Sidney e Beatrice Webb, Margaret Sanger e
os biólogos marxistas J.B.S. Haldane e Hermann Muller.
Não
é difícil entender por que todos eles se alinharam a esta causa.
Protestantes e católicos conservadores odiavam a eugenia porque a viam como uma
tentativa das elites intelectuais e científicas de brincar de Deus. Já os
progressistas adoravam a eugenia porque era um movimento em prol da reforma e
contrário ao status quo. Para eles, a eugenia era um ativismo e não um
laissez-faire; era uma responsabilidade social e não um individualismo egoísta.
Quando
se entende esse histórico, chega a ser irônico que conservadores e libertários
sejam atualmente rotulados de eugênicos — mais especificamente, de 'darwinistas
sociais' — pelos progressistas quando defendem a liberdade econômica.
Também não é surpresa que o conservador católico G.K. Chesterton tenha escrito Eugenics
and Other Evils, e que o grande economista libertário Ludwig Von Mises tenha
criticado a intervenção socialista dizendo que "… [um homem] se torna um
peão nas mãos dos engenheiros sociais supremos. Até mesmo sua liberdade
de criar sua prole será abolida pelos eugenistas".
E
os nacional-socialistas — mais popularmente conhecidos como nazistas —, que
foram os mais famosos defensores da eugenia? Eles definitivamente não
eram progressistas, certo? Afinal, seu professor de história garante que
não. E, com efeito, a plataforma de 25 pontos do programa
nazista defendia medidas verdadeiramente "antiprogressistas", como
"estatização de todos os conglomerados... divisão dos lucros das grandes
indústrias ... [e] um generoso aumento nas pensões". Se, por um
lado, os nacional-socialistas não são hoje o exemplo seguido pelos atuais
guerreiros da justiça social, por outro, é incontestável que eles representavam
o completo oposto do que defendem os libertários e os conservadores.
Os
progressistas de hoje
Em
termos puramente políticos, o progresso é algo extremamente subjetivo.
Por exemplo, na Dinamarca, os progressistas legalizaram a prostituição; já
na Suécia, os progressistas a tornaram ilegal. Podem ambos ser
progressistas? Já em termos econômicos, científicos e tecnológicos, o
progresso definitivamente existe. Ou ao menos é de se imaginar que
exista. Porém, algumas pessoas muito progressistas acreditam que os luditas que
quebravam máquinas representavam um "heróico movimento de resistência em
prol dos direitos da classe operária". Ou seja, destruir tecnologia
é igual a progresso.
E
o que dizer sobre a Revolução Industrial, a qual — não obstante várias
dificuldades — elevou sobremaneira a renda per capita da população?
Até hoje, há progressistas que ainda não aceitam os pontos positivos da
Revolução Industrial.
E
há aqueles que entendem por progresso o regresso às condições humanas vigentes
nas sociedades tribais —cujos níveis de violência eram absurdos e apavorantes —
de antes da Revolução Agrícola. O biólogo evolucionário Jared Diamond
rotula a invenção da agricultura como "o pior erro da história da raça
humana".
Aliás,
esqueça esses moderados. Vamos logo abolir toda a raça humana aderindo ao
hiper-progressista movimento voluntário da extinção humana. Isso sim é
progresso!
O
que é o progresso e o que é reacionarismo dependem muito do ponto onde você
começa e do ponto para onde quer ir. Se o objetivo é a igualdade — como
muitos autodeclarados progressistas afirmam —, então qualquer progresso rumo a
uma maior igualdade tem de ser considerado, é claro, um progresso. Se
esse é o caso, então o comunismo tem de ser visto como a mais progressista de
todas as causas. E, com efeito, o comunismo assim foi considerado por
vários intelectuais do passado. Karl Marx via a história como uma marcha
já pré-determinada do progresso: o comunismo primitivo levou à sociedade
escravocrata que levou ao feudalismo que levou ao mercantilismo que levou ao
capitalismo que levará ao socialismo que finalmente levará ao comunismo
pleno. No que mais, a União Soviética, a China e outros
regimes comunistas sem dúvida nenhuma executaram um número considerável de
reacionários e contrarrevolucionários. Para eles, isso foi um progresso.
Felizmente,
o comunismo está politicamente morto há duas décadas, e nenhum progressista de
hoje teria a mais mínima simpatia por absolutamente nenhum aspecto deste regime
sanguinário.
Certo?
*Andrew
Syrios é investidor imobiliário. Seu blog é Swifteconomics.com.
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