Com 53,9% da
população do Brasil na classe C, hoje o bloco social formado pelas classes C,
D, e E movimenta 1,27 trilhões de reais no país e o colocaria dentro do G20 do
consumo mundial. Em artigo publicado no portal Brasil Post, Renato Meirelles
discute os modelos de negócio e consumo da metade para baixo da pirâmide social
brasileira e critica a falta de criatividade e incentivo ao empreendedorismo
voltado para esses consumidores
Favela 247 – Artigo publicado por Renato Meirelles no Brasil Post,
versão brasileira do portal de notícias estadunidense Huffington Post lançado
em janeiro, apresenta um resumo do perfil demográfico da população brasileira
pertencente às classes C, D e E e discute a falta de criatividade e vontade das
empresas em flexibilizar e pensar seus negócios para se adaptar aos desejos e
necessidades desses consumidores.
Meirelles
aponta que, juntas, a população das classes C, D, e E as colocaria como o
oitavo maior país do planeta, e como o 16º maior consumidor, fazendo parte do
G20 do consumo mundial. Esses números são reflexos da radicalização dos
programas de transferência de renda que tiraram da pobreza milhões de
brasileiros. Só na classe C hoje temos 53,9% da população, se juntarmos as
classes D e E elas movimentarão 1,27 trilhões de reais.
Em relação ao
empreendedorismo há uma processo de reinvenção que vem sendo pensado e
executado em regiões periféricas ou emergentes, mas que são ignoradas por
analistas mais ortodoxos. Ele cita como exemplos o Grupo Carteiro Amigo na
Rocinha, que ajuda a distribuir as correspondiencias pela favela; o Vai Voando,
que comercializa passagens aéreas pré-pagas em territórios populares de todo o
Brasil e o Sorridents, empresa fundada na Zona Leste paulista que representa
hoje a maior rede odontológica da América Latina, atendendo em regiões
populares do país. E em breve teremos um shopping center no Alemão, idealizado
por Elias Tergilene, ex-camelô e dono da rede de Shopping UAÍ, e Celso
Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa).
Por Renato
Meirelles para o Brasil Post
O Brasil das
classes CDE está no G20 do consumo mundial
Em uma
geração, assistimos a uma prodigiosa alteração nos paradigmas de compra e venda
no Brasil. Esse processo teve início ainda na década de 1990, quando da
implantação do plano Real com o efetivo controle da inflação.
Radicalizou-se com os programas estatais de transferência de renda, como o Bolsa
Família, e, sobretudo, pela geração massiva de empregos formais e do aumento
real do salário mínimo.
Uma
constatação óbvia mas que muitas vezes não é levada em conta é que a nova
classe média brasileira (ou classe C) só existe porque milhões de brasileiros
saíram da pobreza. Hoje, a Classe C incorpora 53,9% dos brasileiros. Somado
este grupo majoritário ao das classes D e E, compõe-se um exército consumidor
que em 2013 movimentou R$ 1,27 trilhões. O "BRASIL CDE" seria
o 8º maior país do mundo em população e o 16º em consumo. Estaria portando
no G20 do consumo mundial. Em outras palavras. As empresas que conseguirem
hoje, ser parceiras da melhora de qualidade de vida da Base da Pirâmide tem
muito mais chance de ser líder de mercado amanhã.
Consequência
natural do aumento do emprego formal, a expansão do crédito tem sido
fundamental para a democratização do consumo no Brasil. No entanto, acriatividade
se manifesta mais na diversificação do crédito do que na inovação de produtos e
serviços. Parcela significativa das empresas mostram-se satisfeitas com o
incremento natural das vendas. Ao mesmo tempo, qualificam como altamente
custosa a reengenharia de métodos operativos e sistemas industriais. Tendem,
portanto, a aguardar que o novo consumidor se acostume aos velhos produtos.
Parte considerável das empresas, ainda não souberam transformar em vantagem
competitiva a negociação em larga escala. Preferem vender menos, por um preço
maior. Se insistem em manter altas margens de lucro, perdem parcelas
importantes da clientela situada no meio e na base da pirâmide.
Do ponto de
vista da atividade empreendedora, porém, descobre-se um movimento subterrâneo
de notável reinvenção, nem sempre detectado pelos analistas ortodoxos.
É o caso da
agência de viagens Vai Voando, que atua principalmente nas periferias e
favelas, credenciando pequenos varejistas locais como parceiros operadores. Sua
vantagem é possibilitar a compra pré-paga, sem os custos financeiros e as exigências
burocráticas de uma transação convencional. Ali, o interessado não precisa
comprovar renda, apresentar fiador ou exibir ficha limpa nos serviços de
proteção ao crédito.
Outro caso é o da Sorridents, empresa fundada em 1995, que hoje tem mais 140 clínicas, espalhadas por 16 Estados. Criada na Zona Leste paulistana, reduto de emergentes, especializou-se em oferecer serviços para a Classe C, sempre levando em conta suas demandas singulares.
Registre-se
mérito também na experiência do Carteiro Amigo, empreendimento nascido na
Rocinha, no Rio de Janeiro, que gera soluções para a entrega de
correspondências em áreas de difícil acesso nas favelas.
Em breve, o
pacificado Morro do Alemão, também no Rio, vai ganhar um shopping center,
iniciativa pioneira dos empresários Elias Tergilene (ex-camelô edono
da rede de Shopping UAÍ) e Celso Athayde (Fundador da C.U.F.A.) As
lojas serão administradas por membros da comunidade, conforme modelo destinado
a gerar renda e multiplicar oportunidades em áreas antes miseráveis, dominadas
pelo tráfico de drogas.
Este é um
mundo fascinante de metamorfoses, que acena para os empreendedores estreantes e
também para aqueles consolidados. Nesta lida, no entanto, exige-se que estejam
atentos às exigências particulares de consumo das massas emergentes. É
imperativo que inovem em produtos, constituam novas formas de negociação e
estabeleçam acordos capazes de garantir um futuro de compartilhada
prosperidade.
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Renato Meirelles no Twitter: www.twitter.com/RenatoDatapop
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